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(In)disciplina no Espaço Escolar: Desafios à Prática na Educação

Por Reginaldo de Souza Silva (*) | 23/11/2015 14:05

Estamos vivendo um tempo de crise de autoridade nos espaços educacionais, notadamente, das escolas, institutos e universidades, que refletem os problemas sociais, entre eles, o respeito ao bem comum, as ideias e valores (ou a falta), a convivência comunitária etc. Pesquisa realizada em 2008 pela Organização dos Estados Ibero-Americanos com cerca de 8,7 mil professores mostrou que 83% deles defendem medidas mais duras em relação ao comportamento dos alunos, 67% acreditam que a expulsão é o melhor caminho e 52% acham que deveria aumentar o policiamento nas escolas. Espaços educacionais tem sido alvo de consumo e tráfico de drogas, bebidas alcoólicas, brigas etc, nas atividades regulares e também em festas, reuniões e eventos.

A (in)disciplina no espaço escolar tem sido um desafio as práticas educativas. Gestores, professores, alunos, pais, mães e responsáveis tem sido chamados a enfrentar os desafios, que deixaram de ser esporádicos. Educadores não sabem como lidar, interpretar. Compreender ou reprimir? Encaminhar ou ignorar? Como administrar o ato indisciplinado? De um lado, autoridade e controle absoluto, substituídos por uma crescente perplexidade. Violência e indisciplina, linha tenue entre os limites de convivência. Mas, afinal, o que é indisciplina? Existem vários conceitos e definições.

Para Makarenko e Gramsci, “diz respeito a todos os elementos envolvidos com a prática escolar, estando desta maneira intimamente relacionada com a forma e, como a escola, organiza e desenvolve o seu trabalho...” não pode ter o caráter externo, posto que, a disciplina é resultado da educação. A disciplina não surge espontaneamente e, sem disciplina, o trabalho escolar não pode alcançar o seu alvo, as suas finalidades. Para Gramsci “disciplina significa a capacidade de comandar a si mesmo, de se impor aos caprichos individuais, as veleidades desordenadas, significa uma regra de vida, a consciência da necessidade livremente aceita, na medida que é reconhecida como necessária para que um organismo social qualquer atinja o fim proposto. A disciplina exterior está fadada ao fracasso, não é um instrumento educativo, ao passo que a disciplina fixada pela própria coletividade dos seus componentes mesmo, se tarda a ser aplicada, dificilmente fracassa na sua aplicação”. Para Silva, 2004 é todo e qualquer comportamento que seja contrário as regras[...]. No caso da escola todas as vezes que o(a)s aluno(a)s desrespeitarem alguma norma serão vistos como indisciplinados. A revolta contra estas normas (desobediência insolente); O desconhecimento delas (caos dos comportamentos, desorganização das relações); “Desobediência, rebelião, insubordinação” ou mesmo, ser compreendida por: regime de ordem imposta ou mesmo consentida; ordem que convém ao bom funcionamento de uma organização; relações de subordinação do aluno ao mestre e, submissão a um regulamento, etc.

Possíveis origens: Faixa etária dos alunos e diferença de generos? Situação sócio-econômica?; Reflexo da fragilidade na educação familiar? Forma de contestação ao currículo e procedimentos desenvolvidos nas instituições educacionais? Manifesta-se da mesma maneira nas diversas disciplinas e espaços escolares? Alicerça-se na ausência de algumas competências docentes? Questão de afetividade? Pedido de socorro dos alunos, chamando a atenção para conflitos emocionais? Possíveis equívocos referente à compreensão do termo indisciplina?

Segundo (CHISPINO, 2005), grande parte da revolta dos alunos não vem “do nada”. Ela tem um inicio e vai aumentando à medida que o educando percebe que a sua opinião, seus valores e seus direitos, não são levados em conta dentro do ambiente escolar ou quando professor/instituição não consegue fazê-lo entender o seu papel como aluno. O aluno quer sentir-se parte da escola, Dar idéias para a melhoria; perceber a preocupação dos professores e ser ouvidos por eles e demais responsáveis pelo ambiente (…).

A simples obediência não é sinal de uma boa disciplina e não pode nos satisfazer, porque a disciplina não se cria com algumas medidas “disciplinares” mas, com todo o sistema educativo, com a organização de toda a vida, com a soma de todas as influencias que atuam sobre a criança e/ou adolescente” Makarenko. 1981. Assim, os castigos e outras medidas coercitivas devem ser evitadas ao máximo, como também, afirma Montessori e D. Bosco.

Mas como garantirmos a autoridade do professor e o convívio num clima de indisciplina? Quais seriam os limites de cada professor no trato desta questão? Tentando conter a onda de "indisciplina" alguns educadores e estabelecimentos de ensino lançam mão de atitudes autoritárias que, ao invés de contribuírem para a democratização do ensino, para a melhoria das relações humanas e do ensino, só fazem tornar o ambiente mais hostil, na tentativa de transformar os alunos em corpos dóceis. Não estaria ai um dos fatores do desinteresse, da apatia, da " indisciplina" dos alunos? Seria possível uma integração entre os professores para que haja espaço de participação ativa dos alunos. Onde não se resumisse a cópia de pontos, resolução de tarefas, mas houvesse uma dinâmica interna na sala de aula que, dentro do possível, alterasse a forma de distribuição das carteiras, e a relação individual pudesse ser coletiva, inclusive na solução dos problemas, etc.

(*) Reginaldo de Souza Silva, professsor e doutor da UESB/DFCH - reginaldoprof@yahoo.com.br

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