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Por que defendo o "mais médicos"

Por Semy Alves Ferraz (*) | 09/09/2013 08:27

Chega a causar perplexidade a injustificável e virulenta oposição ao programa Mais Médicos, implantado pelo Governo Federal para atender às demandas populares e dar solução à grave crise em que se encontra o SUS (Sistema Único de Saúde).

E, justiça seja feita, não é por causa de verbas federais para o SUS, pois nunca se investiu tanto na saúde como nos últimos anos na história do Brasil.

E não adianta alegar desconhecimento de que, em meio a uma crise de gestão em instâncias locais e estaduais, o maior problema detectado é a falta de médicos em regiões em que a saúde é mais precária e as condições de vida são indiscutivelmente críticas.

Caiu, assim, por terra o inconsistente argumento de que primeiro é preciso construir hospitais e equipá-los para depois contratar médicos. Essa era a lógica da caduca medicina curativa, a mesma que excluía o paciente que não estava inserido no seguro previdenciário, então chamado de (sic) “indigente”.

Diferente é o preconizado pela ESF (Estratégia de Saúde da Família), que há mais de quinze anos vem focando a medicina preventiva, nos moldes do médico de quarteirão consolidado em diversos países com base na experiência pioneira de Cuba. E esse modelo foi adotado no Brasil num tempo em que os opositores eram os governantes, e na ocasião nós apoiamos por se tratar de um avanço histórico.

Mas hoje a situação beira as raias da irracionalidade. De um lado, o corporativismo de empresários do setor, muitas vezes travestidos ou utilizando humildes profissionais. Do outro, os grandes meios de comunicação, com o explícito apoio da oposição política, que como nunca perdeu o norte ou está destituída de uma ação proativa e da criatividade que sempre pautou as correntes populares no País.

Na ânsia de apresentar um quadro caótico para a população, cuja dramaticidade tem forte apelo social, a grande mídia e os oposicionistas querem irracionalmente manter tudo como está, indiferentes ao real drama dos usuários do SUS, os verdadeiros donos do sistema.

E não é por falta de informação que temos visto cenas que envergonham o povo brasileiro, cuja tradição acolhedora e hospitaleira tem sido aviltada pelos mesmos setores que vivem da tragédia do cidadão anônimo, a vagar de hospital em hospital, de cidade em cidade, à procura de um direito há vinte cinco anos consignado na Constituição Federal.

O acinte ganhou contornos de surrealismo quando chegou ao cúmulo de agredir verbalmente dignos profissionais estrangeiros, legalmente contratados para suprir uma demanda nefasta que infelicita expressivas camadas populares nas mais diferentes regiões do Brasil. Entre manifestação de xenofobia e racismo, foram flagrados indivíduos que se dizem profissionais da medicina, mas cujo comportamento não condiz com quem fez o sagrado juramento de Hipócrates, o humanista que inspirou o ofício do médico.

A bem da verdade, a tese do quanto pior melhor é da tradição dos grupelhos golpistas, que sempre torceram e fomentaram o insucesso das iniciativas benéficas para o povo brasileiro. Para felicidade dos que vivem do trágico cotidiano do laborioso cidadão comum – este sim refém da ineficiência, da inoperância e da letargia do serviço público –, a crise do setor da saúde se reveste de contornos de crueldade.

É, afinal, nela em que deságuam as fragilidades de uma sociedade concentradora, excludente e socialmente injusta. Quadro ideal para a demagogia das elites que em mais de cem anos de vida republicana nunca priorizaram as políticas sociais, nem para paliar o abismo social que impera desde os tempos da colonização.

Apoiar, portanto, a corajosa iniciativa do Governo Federal, defendendo racional e logicamente o programa pioneiro Mais Médicos, representa consolidar o SUS e por meio dele a inovadora ESF, antes chamada Programa Saúde da Família, essencialmente o mesmo. Longe de enveredarmos em um infértil debate ideológico, a defesa contundente do Mais Médicos é uma tarefa para os cidadãos que sincera e efetivamente querem uma saúde condigna com os paradigmas de uma sociedade justa e democrática, indiferentemente de quem esteja governando o País, o estado e o município.

(*) Semy Ferraz é engenheiro civil e Secretário de Infraestrutura, Transporte e Habitação de Campo Grande.

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