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A incorporação de novos conhecimentos na agricultura

Por Fernando Mendes Lamas (*) | 08/10/2013 09:22

Incorporar novos conhecimentos aos sistemas de produção agrícola, visando a melhoria da eficiência destes é a melhor estratégia para aumentar a oferta de alimentos, fibras e energia, que se dará via aumento da produtividade, redução do consumo de energia e minimização de riscos.

A incorporação de novos conhecimentos aos sistemas agrícolas de produção é feita a partir de resultados de pesquisa que são disponibilizados principalmente na forma de produtos e processos. Na maioria das vezes o conhecimento é incorporado ao sistema de produção quando for solução para o produtor, tendo-se em vista as suas necessidades.

A troca de informações ou habilidades entre aqueles que geram uma determinada tecnologia e os que a utilizam denomina-se Transferência de Tecnologia. Essa transferência se dá na forma de contratos de pesquisa e desenvolvimento, serviços de consultoria, formação profissional, inicial e continuada, comercialização de patentes, marcas e processos industriais, publicação na mídia científica, apresentação em congressos, programas de assistência técnica, inteligência industrial e atuação de empresas que comercializam máquinas, sementes, fertilizantes, defensivos e produtos veterinários.

Transferir tecnologias envolve, além das variáveis técnicas e econômicas, fatores sociais, ambientais, o diagnóstico da situação anterior e dos impactos posteriores à adoção das tecnologias recomendadas. A recomendação de uma tecnologia se dá via o obtentor do conhecimento que gerou a tecnologia ou de pessoas capacitadas para isto.

Uma tecnologia é considerada transferida quando aquele que a incorporou é capaz de modificá-la, adaptando-a, incrementando-a segundo sua necessidade, ou é capaz de identificar e canalizar uma nova demanda de pesquisa impulsionando a sucessão tecnológica. Por se tratar de um conjunto de ações articuladas, o processo de Transferência de Tecnologia deve submeter-se ao planejamento metodológico, dispor de ferramental adequado e suas ações deverão ser enunciadas num contexto de capacitação para incorporação ao processo produtivo, formalizado por meio de contratos entre as partes.

O que faz com que o produtor altere alguma coisa em seu modelo de produção? Na maioria das vezes, a busca pela melhoraria na eficiência do processo de produção. Em que ele se fundamenta para incorporar uma nova tecnologia? No conhecimento desta nova tecnologia por meio de leitura, conversa com amigos, informações recebidas de seu assistente técnico ou de outras pessoas nas quais ele confia. Para que o novo modelo de produção seja legitimado, é preciso que as tecnologias sejam realmente eficientes para que o produtor sinta segurança em adotá-las. Desta forma, confiança é a palavra- chave quando se pensa em transferência de tecnologia.

Nos dias atuais, são vários os agentes e os métodos de “transferência de tecnologia”. Na maioria dos casos, os métodos mais utilizados são os de alcance massal, tais como: reuniões técnicas, dias de campo, excursões/viagens técnicas, rally, dentre outros. Métodos de alcance individual são pouco utilizados, a não ser quando atrelados a vendas, especialmente de insumos.

Em todos os núcleos de produção, as principais indústrias de insumos agrícolas mantêm equipes altamente treinadas para prestar assistências técnica. Especialmente os médios e grandes produtores têm acesso a informações, o que às vezes lhes falta é o conhecimento para poder utilizar adequadamente as informações. Para os pequenos produtores é frequente faltar conhecimento e informação.

Muitas vezes é dada uma informação, por exemplo, um produto qualquer, é altamente eficiente para o controle de uma determinada espécie de planta daninha, no entanto, falta ao produtor conhecimentos básicos sobre tecnologia de aplicação que, em não sendo considerada, a eficiência do produto em questão será comprometida.

Diante deste cenário, muitas vezes pouco favorável pela grande quantidade de informações, cabe às instituições de pesquisa gerar e transferir estes conhecimentos. Entretanto, como transferir estes conhecimentos é o grande desafio para que possamos ter uma agricultura sustentável.

Para que as novas informações geradas possam ser incorporadas ao sistema de produção, o produtor deve ter todas as informações sobre este conhecimento/tecnologia, inclusive o impacto econômico sobre sua atividade, o que muitas vezes não está disponível. Daí ser importante, antes de transferir, que o conhecimento/tecnologia seja validado. Quem valida é o usuário. Tecnologia para ser transferida precisa estar pronta.

A transferência de tecnologia deve focar na apresentação de soluções integradas e não apenas em produtos isolados. O processo de produção agrícola envolve a tomada de um grande número de decisões, desde o que plantar, até como e para quem vender, passando por época de semeadura, espaçamento e densidade de plantas, como manejar plantas daninhas, pragas e doenças e isto deve ser considerado no processo de transferência de tecnologia.

Embora, o aumento da produção agrícola brasileira seja sustentado pelo aumento da produtividade, o que é devido à incorporação de novos conhecimentos, produtos e tecnologias ao processo produtivo, ainda temos muito conhecimento sem ser utilizado. Isto se deve ao fato de ainda ser muito baixo o número de agricultores que possuem acesso à informação.

Considerando que a sustentabilidade da atividade agrícola passa necessariamente pela incorporação de novos conhecimentos ao sistema produtivo, são necessário grandes esforços no sentido de levar para os mais diferentes modelos de produção existentes informação e conhecimento. Devendo ser considerado neste processo, principalmente aspectos sociais e culturais, para que o processo seja eficaz. Assim, é imperioso, conhecer em profundidade o público a ser trabalhado. Também, faz-se é necessário, conviver intensamente com as pessoas com as quais vamos trabalhar, assim conhecemos suas necessidades, as suas aspirações e como elas tomam decisões, além de conquistar a confiança.

As grandes transformações na organização e gestão do conhecimento, com o consequente fortalecimento das instituições de pesquisa, estão sendo possível, graças aos mecanismos de proteção de propriedade intelectual. Estes fazem parte do processo que levou o Brasil a alcançar a posição de segundo maior exportador de alimentos no mundo, o que contribui para a sustentabilidade do recente processo de crescimento da economia.

A produção de alimentos, fibras e energia, a melhoria da distribuição de renda e a geração de empregos, a utilização sustentável dos recursos naturais, a produção de excedentes exportáveis, o crescimento das empresas e o desenvolvimento brasileiro dependerão cada vez mais da capacidade de inovar em todas as etapas do processo produtivo.

(*) Fernando Mendes Lamas, pesquisador da Embrapa Agropecuária Oeste
fernando.lamas@embrapa.br

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