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A legião de netos-filhos e a irresponsabilidade familiar e governamental

Por Fernando Martins Zaupa (*) | 19/10/2014 14:00

Há cerca de uns dez anos tem sido possível constatar o crescimento no número de crianças e adolescentes criados por avós.

No início desse fenômeno havia discussões inclusive sobre casos de má-fé, em que o real objetivo era obtenção de benefícios, como a chamada guarda previdenciária.

Contudo, lidando mais de uma década com a diversidade de questões ligadas à falta de estruturação familiar (abandono, maus tratos, uso de drogas, roubos, assassinatos, etc), tem ficado cada vez mais patente que a legião de filhos criados pelos avós deriva, em sua maior e gritante fração, da irresponsabilidade dos genitores e conivência dos agentes públicos (governo).

Costuma-se falar em ‘gerações de pessoas’ e mudanças significativas de valores, condutas e posturas a cada uma dessas gerações.

Se for válida essa assertiva, tem-se que está a haver nessas últimas gerações de pais e mães a junção de uma crescente imaturidade psicológica-econômica-laboral com a irresponsabilidade quanto a causa e efeito do sexo e a criação de um(a) filho(a).

Em tempos outros era comum o jovem, ao buscar a tão almejada liberdade sair de casa, enfrentar o mundo, lançando-se em diversas atividades, trabalhos, formas de estudo, digladiando com as mais variadas adversidades, assumindo responsabilidades, maturidade, experiência e fortalecimento para os tratos da vida adulta.

Hoje, na busca da liberdade, o jovem busca uma gama de diversão e sensações; contudo, sem querer enfrentar as agruras da vida em sociedade, sem querer trabalhar, sem querer estudar e, se possível, continuar sob o teto, o carro e o dinheiro dos pais ou do Estado.

Assim, é carregada à vida adulta uma geração de homens e mulheres sem qualquer experiência, maturidade, senso de responsabilidade, força de vontade, entre outros fatores.

Aliada a essa postura, existe o aumento da linha assistencialista estatal (bolsas isso, bolsas aquilo), que ao invés de incutir responsabilidade a uma parcela imatura da população (pois não se olvida o alto número de pessoas realmente carentes), gera o conhecido sentimento de que ‘alguém dará um jeito por mim’.

A queda dos níveis de educação no país, o desmoronamento dos valores éticos e morais vivenciados nos últimos anos (com beneplácito das figuras públicas e condutores/autoridades da nação), aliada a falta de responsabilização de pais irresponsáveis por condutas ou omissões (impunidade), também são fatores a fomentar essa situação de milhares de homens e mulheres a gerarem filhos e filhas que, uma vez nascidos, são entregues (para ser eufemista...) aos avós, para que esses exerçam as funções que deveriam ser suas.

E assim, diversas crianças e adolescentes, atuais ou futuros adultos, são criados aos trancos e barrancos por avós e avôs cansados e/ou muitas vezes limitados pelas intempéries da vida e idades avançadas, com ausência da vetusta figura materna ou paterna.

Enquanto isso, pais e mães, sem a guarda de seus próprios filhos, continuam a gerar outros filhos para os avós criarem, preocupados apenas se vão conseguir o ingresso para este ou aquele show, se a galera vai se reunir para uma cerveja no final de semana, se aquele cara ou aquela garota gostou do whatsapp, etc.

O reflexo disso tudo está aí: uma legião de netos-filhos e a patente irresponsabilidade familiar e governamental, com elevados índices de crianças e adolescentes desrespeitando uns aos outros e aos adultos; enfrentando e desafiando professores e autoridades; ingerindo bebidas alcoólicas e outras drogas; sendo cooptados por bandidos e traficantes; entrando para a prostituição e, claro, gerando precocemente filhos...
... com a entrega desses filhos aos pais ou mesmo aos pais dos pais...

Até quando?

(*) Fernando Martins Zaupa, promotor de Justiça em Campo Grande (MS)

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