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A lei do dinheiro

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 20/12/2014 14:00

No curto período das últimas décadas, os conceitos e valores do mercado se infiltraram de tal forma na civilização ocidental, chegando mesmo a depreciar o valor e significado da própria vida. Como se pode comprar tudo, em consequência, tudo vai sendo colocado à venda, negociado abertamente por dinheiro no balcão da vida. É a mercantilização da existência, separando-a do seu significado real.

Enquanto diariamente vão surgindo notícias de falcatruas, o Brasil corre o risco de paralisar. Quando a indústria têxtil vai mal, o que poderemos esperar das demais? O que a sociedade de mercado poderia fazer para impedir tais desequilíbrios que tendem a gerar conflitos e instabilidade social?

É preciso dar alguma esperança à moribunda indústria local, examinando seriamente o que está provocando o seu encolhimento no Brasil. É muito difícil administrar a coisa pública, dados os vícios adquiridos. Precisa seriedade nos projetos, na execução e no controle das contas. Depois que tudo fica em déficit, não é fácil corrigir, custa muito em recursos e sacrifícios, a população precisa saber que não tem almoço grátis, precisa produzir para colher.

No pós-guerra, a humanidade respirava aliviada na esperança de que a prosperidade, a paz e a verdade da vida finalmente seriam alcançadas. Nem governantes nem o mercado orientado pelas grandes corporações globalizadas, se mostraram dispostos a caminhar na direção desse degrau mais elevado da civilização humana. A prioridade ficou voltada para o acúmulo de riqueza e aumento de poder.

Com a ascensão do dinheiro, tudo passou a ter um preço. Enquanto cresciam os lucros, a sustentabilidade e os problemas básicos foram sendo transferidos para o futuro, o qual chegou com sete bilhões de habitantes, limitação dos recursos naturais, alterações climáticas e redução das esperanças de melhorias. Pelo dinheiro e sua posse, as pessoas, mentem, roubam, matam, vendem a própria alma, permitindo o declínio das concepções mais elevadas.

Uma grande desigualdade atinge os seres humanos que ficaram abaixo de seu potencial por falta de oportunidades. Mas há uma questão pouco comentada: a da indolência individual ou induzida para manter dóceis as massas e que predispõe os humanos a ficarem acomodados, a não desenvolverem o necessário esforço para o seu aprimoramento, e a deixarem de colocar em movimento as suas capacitações para examinar e elucidar o significado da vida, pois todos nós a recebemos por igual.

A visão ética, moral e espiritual ficou sufocada diante do pensamento mercadológico que impõe que tudo pode ser comprado e vendido. O jogo dos interesses levou ao rebaixamento e falência da interferência das ações dos governos na solução dos problemas que afligem a sociedade humana.

Quando tudo se torna objeto de compra e venda o que se desvaloriza é o ser humano e o significado da vida, até hoje pouco compreendido, pois não se trata de um negócio. A vida tem os seus propósitos dos quais a humanidade acabou se afastando ao se prender ao puramente material e deixando de lado o significado espiritual da vida, a razão do nosso existir que deveria se sobrepor a tudo o mais.

Sem dúvida, o comércio faz parte da vida, do compartilhamento entre os povos das diversas regiões. Mas a sociedade do dinheiro destruiu a consideração e os valores humanos, construindo a sociedade onde tudo está à venda, sendo só uma questão de combinar o preço.

A apropriação do planeta pelo dinheiro apartou a humanidade, e a irrestrita subordinação a ele, acarretou a mudança de rumo. O homem acorrentou-se ao perecível mundo material, que foi construído para possibilitar a evolução do espírito, não o seu embrutecimento. Acima de qualquer lei humana pairam as do Criador, que devem ser reconhecidas e observadas em todas as construções para que possa haver a paz e o progresso real.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club de São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7

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