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A prosperidade econômica é uma festa, mas nós...

Por Luiz Flávio Gomes (*) | 18/05/2014 08:48

Depois de um período de bom crescimento econômico (de 2000 a 2010), favorecido por várias circunstâncias internas e internacionais (alto valor das nossas mercadorias, câmbio - o real - estável, declínio na taxa de desemprego, mercado interno aquecido, inflação controlada, 7ª economia do planeta, conforme o Banco Mundial, etc. - veja Schwartsman e Giambiagi: 2014), começamos a nos imaginar membros do clube da prosperidade mundial emergente. Quando a classe C, chamada malandramente de classe média, tomava gosto pelo consumismo (essa foi a forma de integração social eleita, muito mais rápida que o longínquo e custoso sistema educacional de qualidade) e não se intimidava com o endividamento, eis que nos jogam uma jarra de água fria na cabeça, bloqueando, outra vez, nossa experiência com a modernidade ilustrada, que só pode acontecer quando abrandarmos nossa brutal desigualdade.

Do que em 2014 nós brasileiros estamos nos conscientizando? De duas coisas: (a) a vida próspera do capitalismo mundial é uma festa, celebrada normalmente nas alturas com jatos executivos caríssimos (Gulfstream, por exemplo - veja Rothkopf: 2008), mas para ela nós não fomos convidados: a concentração da riqueza e o aumento descomunal da desigualdade estão cumprindo a profecia de São Mateus (13,12): "Porque ao que tem, se lhe dará mais e abundará; ao que não tem, mesmo aquilo que tem lhe será tirado", ou seja, os super-ricos globais estão cada vez mais ricos e, os pobres, a cada dia, mais pobres - veja Freeland: 2012; (b) o Brasil é um dos Brics (países emergentes), mas não pode esquecer que, antes de tudo, faz parte da economicamente ingloriosa América Latina. Esta e a África são os dois continentes mais violentos e desiguais do planeta.

Nosso futuro próspero, rumo a mais igualdade material, voltou a ficar comprometido. A esperança foi substituída pela decepção, pelo desapontamento, que pode afetar a sociedade inteira, especialmente a juventude, por várias décadas no século XXI. É flagrante a crise da ética, da cultura, da educação, da formação profissional, do emprego estável remunerado dignamente etc. Depois de 514 anos, ainda ¾ da população brasileira são analfabetos funcionais. Nosso cenário de prosperidade se obscureceu. Vendo um mar de sangue correndo pelas cidades e pelos campos, cabeças decepadas, o pibinho, o retorno da inflação, o endividamento familiar, a desonestidade dos políticos e seus financiadores etc., perguntamos, perplexos: o que fizemos (os brasileiros) para merecer tanta desgraça? Seríamos dotados de muita ingenuidade quando reafirmamos nossa esperança no país diante dos mínimos sinais de vitalidade?

(*) Luiz Flávio Gomes, jurista e diretor-presidente do Instituto Avante Brasil. Estou no professorLFG.com.br e no twitter: @professorlfg

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