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A qualidade do café que bebemos

Por Marcelo Fagioli (*) | 22/05/2011 10:24

A safra de café no Brasil iniciou sua colheita neste mês de maio e indica uma produção de 42 a 45 milhões de sacas de 60 quilos, de acordo com a estimativa da Conab. O café tipo arábica está projetado em 31 a 33,2 milhões de sacas (74,6% da produção total). O café tipo conilon ou robusta representa 25,4% da produção brasileira, com 10,1 a 11,6 milhões de sacas. Minas Gerais é o maior produtor, com 66,6% do total nacional, sendo 99% do tipo arábica.

O Brasil é o maior produtor e exportador de café do mundo e o segundo maior consumidor, com um consumo previsto de 19 milhões de sacas em 2011. Os principais compradores do café brasileiro são Alemanha, Estados Unidos, Itália e Japão, que em 2009 gastaram US$ 4,27 bilhões. A demanda exterior maior é pelo café verde, seguido do solúvel e do torrado e moído. Nas exportações do agronegócio brasileiro, o café está em quinto lugar no ranking.

Em pesquisa de mercado realizada nos últimos 6 anos, o consumo da classe C aumentou 14% e o consumo de café fora de casa do brasileiro aumentou 170%. O perfil geral avaliado do consumidor de café pelo tipo foi de 93% no café coado/filtrado, 14% no solúvel, 13% no cappuccino e 11% no expresso. Também constatou-se que crescem o consumo dos cafés especiais, isto é, cafés de altíssima qualidade classificados como de bebida estritamente mole.

Dentro do conceito de qualidade esperado pelo consumidor brasileiro, o principal quesito apontado foi sua preocupação com a pureza do produto ofertado no mercado nacional. É justamente essa qualidade da bebida que torna um dos aspectos de maior relevância na composição do preço final da saca e do lote de café. Cafés diferenciados quanto à bebida adquirem melhores preços na comercialização da produção, tanto no mercado interno quanto para exportação.

Em pesquisa nacional de qualidade da Abic (Associação Brasileira da Indústria de Café), realizada em 2008, foram identificadas fraudes em 583 de um total de 2.400 marcas comercializadas no Brasil, praticamente 25% das amostras. As análises das amostras foram feitas em laboratórios credenciados por órgãos oficiais e constatou a presença de impurezas como cascas de café, milho, centeio, caramelo (açúcar), sementes de açaí e até pedaços de pau.

Em Minas Gerais o problema é ainda maior, as fraudes na torrefação dos grãos atingem um total de 31% no ano de 2008, em levantamento realizado pela Vigilância Sanitária de Minas, segundo a gerente de alimentos do órgão, Claudia Parma Machado. Na pesquisa da Abic, foi encontrado até 10% de pau e até 31% de milho torrado misturado ao pó de café.

Além dos materiais inertes (paus e cascas) encontrados, o caramelo (açúcar) é usado para disfarçar o gosto estranho produzido pelo café de baixa qualidade. O problema desta mistura (açúcar no pó de café) é que pode prejudicar os diabéticos, que ao consumir a bebida não imaginam a presença de tal ingrediente.

Os prejudicados são os consumidores, mas, especificamente, a população de baixa renda pode estar consumindo mais o café fraudado, em razão do baixo preço ofertado. A fiscalização deveria ser feita por órgãos em nível federal, estadual e municipal, atuando nas empresas torrefadoras e de moagem até a comercialização varejista, que compra o café impuro.

Para acabar com essa forma de enganação com o consumidor brasileiro que aprecia e tem o hábito de tomar cafezinho, o Ministério da Agricultura elaborou uma nova legislação - que só poderá ter, no máximo, 1% de impurezas - a primeira feita para o café torrado consumido no país, que levou três anos para ficar pronta e teve a participação de técnicos do governo e de representantes do setor privado.

A Instrução Normativa No 16 do MAPA, assinada dia 24 de maio de 2010, pelo ministro Wagner Rossi, e publicada no Diário Oficial da União (25/05/2010), estabelece critérios rígidos para garantir a qualidade do produto oferecido ao consumidor. As novas regras são válidas para o café torrado em grão e para o café torrado e moído. A medida IN-16 começou a vigorar no final de fevereiro passado.

Como visto, o aumento de consumo também está influenciando na exigência de cafés diferenciados, uma dessas tendências é a produção de “Cafés Sustentáveis”, no campo, com certificação de boas práticas agrícolas e preservação do meio ambiente produtivo. Junto com uma indústria que tem certificação na torrefação, controles, segurança, higiene e avaliação do produto final.

Associando os dois componentes, o campo e a indústria, ter-se-á um café na xícara originário de um produto sustentável e com qualidade certificada, em outras palavras, isso nos dá o que tanto se quer qualidade de bebida com sustentabilidade. Ganham o produtor rural, o industrial, o comerciante e o consumidor, todos os elos da cadeia produtiva.

(*) Marcelo Fagioli é professor do Departamento de Agronomia, da Faculdade de Agronomia e Medicina Veterinária, da Universidade de Brasília. É graduado em Agronomia pela Universidade do Estado de Minas Gerais, mestre e doutor em Agronomia pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho e especialista em Gestão Agroindustrial pela Universidade Federal de Lavras. Tem experiência na área de Agronomia, com ênfase em Fitotecnia e Produção, Tecnologia e Beneficiamento de Sementes, atuando principalmente nos seguintes temas: manejo de práticas culturais em grandes culturas, produção de sementes, qualidade fisiológica e testes de vigor em sementes.

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