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Abóboras podres, frangos fracos

Por Helder Caldeira* | 26/10/2011 07:05

A presidente Dilma Rousseff decidiu dar a cara à tapa e, desde a última sexta-feira, assumiu pessoalmente o ônus da manutenção de Orlando Silva Jr como titular do Ministério do Esporte, a despeito das inúmeras evidências apresentadas pela imprensa sobre os famigerados e perniciosos “malfeitos” (é como seu governo vem chamando a ladroagem institucionalizada) e acusações de um forte esquema de corrupção na pasta, herança direta do benévolo ex-presidente Lula. Ao que tudo indica, Dilma vem cedendo sistematicamente à chantagem da ampla aliança que a elegeu e, como consequência, já começa a perder poder e demonstrar cada vez mais fragilidade política. Lembro a sabedoria brejeira da minha avó que, durante minha infância na fazenda, costumava dizer: “gente assim parece frango quando fica fraco porque comeu sementes de abóbora podre”.

Um dos sintomas de fraqueza da presidente nos é visível na construção de sua agenda oficial. Há dois meses, o Palácio do Planalto voltou a utilizar o expediente comum aos dois últimos mandatários, Fernando Henrique Cardoso e Lula: ao sinal de uma crise, no calor de uma denúncia ou em meio a votações importantes e polêmicas do Congresso Nacional, o presidente pega o avião e bate em retirada para outro país qualquer, tudo supostamente em nome das relações externas, já que as internas estão em frangalhos. Dilma Rousseff acaba de fazê-lo duas vezes consecutivas: primeiro à Europa e depois à África, bem nos dias em que o Parlamento estava discutindo a redistribuição dos royalties do petróleo entre estados produtores e não-produtores, uma querela duríssima que pode lhe custar uma possibilidade de reeleição e, quem sabe, até mesmo o atual mandato.

Nos bastidores, comenta-se que a Presidência da República vai tentar, o quanto for possível, esfriar os ânimos e paulatinamente cozinhar o ministro Orlando Silva Jr no cargo até a reforma que realizará na administração no início de 2012. O PCdoB não abre mão de sua única pasta e exige que lhe seja dada primazia na escolha de um substituto. Muito provavelmente, a presidente Dilma ficará acuada e terá que acatar outro nome comunista para a função. O PCdoB e o ministro Orlando estão com as armas em punho: prometem morrer atirando e há um medo potencial de que essas balas venham da gestão de seu antecessor no Ministério do Esporte, o atual governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz (PT). Boa parte dos convênios sob suspeita nasceram à batuta do petista e foram conduzidos pelos comunistas.

Outro movimento indigesto à presidente Dilma vem de seu correligionário fluminense, o senador Lindbergh Farias, que numa releitura dos tempos em que comandou os “caras-pintadas” na presidência da UNE (hoje uma instituição de pasmados vendilhões), promete sacudir a Esplanada dos Ministérios com uma manifestação exigindo que a chefe do Poder Executivo que não sancione a redistribuição dos royalties do petróleo, já aprovada pelo Senado e que, certamente, também o será na Câmara dos Deputados. Para isso, o petista conta com o apoio irrestrito dos estados do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, além da simpatia, interesse e conveniência dos dois maiores colégios eleitorais do país: São Paulo e Minas Gerais, ambos administrados pela oposição tucana. Ou seja, estamos falando de 80 milhões de habitantes e mais de 40% dos eleitores brasileiros. E essa guerra federativa está só começando!

Para completar o azedume dessa canja, tanto o PT quanto o PMDB estão vivendo uma crise interna com a aproximação das eleições municipais de 2012 e os excessivos lançamentos de pré-candidaturas às principais prefeituras do Brasil. Só em São Paulo, os petistas estão se estapeando numa disputa entre a ex-prefeita e atual senadora Marta Suplicy e o ministro da Educação, Fernando Haddad, este apoiado por Lula. Por sua vez, os peemedebistas apostam no escritor e deputado federal Gabriel Chalita. Ainda há a potência do recém-criado PSD de Gilberto Kassab, o atual prefeito que brigará para fazer seu sucessor. E estamos falando só da capital paulista. Imaginem a proporção dessa querela nos 5.563 municípios restantes!

Como a política brasileira lamentavelmente se tornou uma grande plantação de abóboras podres, os frangos que nela circulam e se alimentam são cada dia mais cambetas e titubeantes. Deputados sorumbáticos, senadores macambúzios, justiça anômala, ministros casmurros e uma presidenta sem “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, mas também sem a força e a vontade para executar uma profilática e efetiva faxina na administração pública. Dilma Rousseff está refletindo apenas o “olhar de ressaca” da população. Não como as linhas da eterna Capitu de Machado de Assis, mas de ressaca da corrupção, da bandidagem, da canalhice institucional. Seguem frangos fracos, beliscando aqui, ali e acolá a grande abóbora podre nacional.

() Hélder Caldeira é Escritor, Jornalista Político, Palestrante e Conferencista

www.heldercaldeira.com.br – helder@heldercaldeira.com.br

Autor do livro “A 1ª PRESIDENTA”, primeira obra publicada no Brasil com a análise da trajetória da presidente Dilma Rousseff e que já está entre os livros mais vendidos do país em 2011.

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