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Administrar Dourados: um sonho que virou pesadelo

Por Ivo Campos* | 11/11/2011 08:59

Para quem sempre sonhou em administrar a segunda maior cidade do Estado de Mato Grosso do Sul, seu desempenho está muito aquém das expectativas do povo douradense.

Sem ver a cor do salário desde o mês de agosto, do corrente ano, alguns colegas professores contam que chegaram a participar de uma “vaquinha” - como forma de juntar dinheiro – para abastecer algumas motocicletas, para que seus companheiros de profissão pudessem se deslocar de casa até o local de trabalho. Será que era esse o sonho do atual prefeito, que falava pelos quatro cantos da cidade que seu maior sonho era administrar Dourados? Longe de sonho, o real quadro da educação em nossa cidade consiste em um verdadeiro pesadelo.

Por outro lado esses guerreiros profissionais merecem o apoio da sociedade douradense, pois, mesmo com todas as dificuldades, e o descaso do Poder Público Municipal, os professores vêm dando conta do recado. Prova disso é que os alunos não ficaram um dia se quer sem aula. Resta agora à prefeitura fazer a sua parte.

É preciso que façamos uma profunda reflexão acerca de alguns posicionamentos tomados pela atual administração, sobretudo com relação ao trato com a educação em Dourados. Somente o fato de resistir em pagar salários de professores, que trabalham como contratados temporários desde o mês de agosto - alguns desde julho do corrente ano -, já é o suficiente para compreendermos que não está havendo compromisso com a qualidade da educação em nossa cidade. Os professores, enquanto pais – e mães - de família estão extremamente chateados, e constrangidos, por não conseguirem honrar seus compromissos, haja vista que não dispõem de outra fonte de renda e, portanto, não conseguem pagar contas como de água, luz, aluguel, transporte coletivo, para chegar até o trabalho, mercado e outros. Entretanto, apesar da decepção, ainda acreditam na sensibilidade do governo municipal para que possam colocar sua vida em ordem.

Como se não bastasse tamanha falta de bom senso, desde meados deste ano, o governo enviou, para todos os diretores de escolas e coordenadores de CEIMs, um ofício suspendendo toda e qualquer forma de contrato para cobrir a ausência de alguém da educação que por ventura viesse ficar doente, entrar em trabalho de parto e tantos outros. Veja o que diz o documento do governo municipal: “Por decisão de governo, informamos aos Senhores Diretores que a partir de 01/11/2011 até o término do ano letivo, não será celebrado nenhum contrato de substituição de professor e funcionário administrativo a qualquer título. O afastamento do profissional e a vacância deverão ser administrados pelo Diretor da Escola”. Isso é um absurdo, tendo em vista que a Lei de Diretrizes e Base da Educação – Lei 9394/96 estabelece que o aluno tem direito a uma jornada de 200 dias letivos. Portanto, se um determinado professor se afastar do trabalho por determinação médica, o governo municipal será obrigado a contratar outro profissional capacitado para garantir o direito do aluno em ter a jornada anual de aulas estabelecida pela legislação vigente.

Extra – oficialmente, obtivemos informações de que o governo recuou dessa equivocada tomada de decisão. Entretanto, isso agora não vem ao caso, na medida em que continua faltando comprometimento com a qualidade da Educação.

Com relação aos governos, estes precisam fazer a sua parte, tomando medidas que possam reduzir os chamados “cabides de emprego”, cargos de arranjos políticos de vésperas de eleições, o que acaba comprometendo toda uma administração. Esse fenômeno, infelizmente, campeia praticamente todas as esferas de governo, em praticamente todos os recantos do país, em maior ou menor proporção. Precisamos eliminar esses vícios sob pena do dinheiro público continuar indo embora pelo ralo da corrupção.

Quanto aos recursos da educação, estes devem ser geridos com absoluta transparência, pois até o conselho do FUNDEB foi criado justamente para melhorar a qualidade da gestão desse importante recurso oriundo dos cofres do governo federal. Cabe aos governos municipais – e isto serve de recado ao nosso governo local - a obrigação de administrar esse recurso com lisura e transparência, e, em conformidade com a Lei, aplicar mais 25% dos recursos arrecadados pelo município na gestão educacional.

(*) Ivo Campos é professor da Rede Municipal de Educação de Dourados

campivo@hotmail.com

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