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Alerta ao governo Jair Bolsonaro

Por Orley José da Silva (*) | 22/04/2019 06:29

O governo precisa melhorar a sintonia com o Parlamento, o que não significa render-se à chamada velha política. Necessita também assumir o protagonismo na produção das narrativas públicas sobre as próprias ações políticas e administrativas. Essas medidas visariam garantir condições mais duradouras e tranquilas para o cumprimento das metas assumidas com o eleitor, além de evitar revezes eleitorais no futuro.

A costura política é uma arte cujas habilidades não se encontram presentes em todos. No entanto, é indispensável para o sucesso de qualquer governo. Tanto é que a existência de roturas importantes no tecido político, especialmente na base de sustentação, são capazes de trazer prejuízos ao governo e também ao povo.

Na cena política, o esperado é que predomine o grupo que melhor saiba construir a própria coesão, indicar rumo e ritmo à caminhada e alimentar os membros com informações precisas. Além do mais, consiga fazer com que a sua versão acerca das ações governamentais seja a que mais eficientemente perpasse as diferentes camadas da sociedade.

E, nestes aspectos, no momento, a esquerda faz melhor. Basta observar a ação sincronizada dos seus parlamentares nas comissões e nos plenários tanto da Câmara quanto do Senado. Os elaborados discursos dos seus principais líderes, por exemplo, em boa parte lidos, são replicados estrategicamente por deputados estaduais, vereadores, sindicatos, movimentos sociais e imprensa aliada. E, assim, por meio de um gotejamento planejado, vai impondo sua versão acerca dos fatos políticos e econômicos à sociedade.

Esse bem articulado trabalho narrativo da esquerda pode ainda ser constatado na simples consulta ao Google e Youtube em busca de comentários e análises sobre a Reforma da Previdência e os primeiros 100 dias do Governo Bolsonaro. Há uma larga vantagem da versão não governamental na internet sobre estes pontos que é abastecida, principalmente, pela influência dos discursos de deputados federais e senadores oposicionistas.

A desvantagem governamental se estende para a programação diária das TVs Câmara e Senado, com maior presença do discurso oposicionista. O viés das entrevistas, documentários e comentários políticos reprisados à exaustão dão esse tom.

São as águas moles batendo em pedras duras.

É verdade que o governo Bolsonaro conta com uma relativa folga de popularidade neste início de mandato. E deve se esforçar para não somente mantê-la como ampliá-la. Mesmo porque lida com uma esquerda experiente em fazer oposição e disposta a restaurar o percurso discursivo que um dia a levou ao poder.

Uma oposição que, tarimbada no uso do jogo discursivo, sabe assumir uma pretensa vox populi para atacar o governo com críticas e reivindicações específicas. Ataques que objetivam induzir o governo ao erro, ou seja, abandonar bandeiras e, por constrangimento, não mexer no status quo das políticas públicas construídas pela própria esquerda.

E no caminho, há também o Centrão.

Tomara que o presidente Bolsonaro esteja atento e disposto a reconhecer equívocos e reavaliar procedimentos, como os apontados acima. A presidente Dilma não teve esse tipo de cuidado. Por exemplo, ela se recusou a admitir que a narrativa da oposição havia superado em preferência à versão do governo junto à população. Nem mesmo quando seu ministro Gilberto Carvalho, no início de 2014, chamou sua atenção para este fato.

(*) Orley José da Silva, tem 55 anos, é professor com experiência na Educação Básica e no Ensino Superior, licenciado em letras (UFMS), especialista em leitura e produção de textos (UFG), mestre em letras e linguística (UFG) e doutorando em ciências da religião (PUC goiás). Atuou, como Técnico em Educação, na formulação do projeto de governo do então candidato Jair Bolsonaro e depois como membro do Gabinete de Transição. Atualmente, serve à assessoria parlamentar do MEC.

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