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Amostra, consagração e mérito

Bruno Peron (*) | 18/11/2012 10:47

A Ordem do Mérito Cultural é o prêmio mais elevado que o governo federal concede aos ícones da cultura brasileira. A cerimônia de 2012 realizou-se no Salão Nobre do Palácio do Planalto em 5 de novembro – que também sinaliza o Dia Nacional da Cultura – e contou com a participação de quatro estadistas eminentes dos Poderes Executivo e Legislativo do governo federal: a Presidente da República Dilma Rousseff, o Ministro da Educação Aloízio Mercadante, o Presidente do Senado José Sarney e a Ministra da Cultura Marta Suplicy.

Premiaram-se 41 artistas, cantores, escritores, poetas, cineastas, intelectuais de outros segmentos e algumas instituições que desempenharam um papel considerado significativo pela comissão avaliadora da Ordem do Mérito Cultural na produção e na promoção de expressões diversas da cultura brasileira. Os mecanismos de premiação ecoaram a cidadania: primeiro a sociedade sugeriu nomes pela Internet aos quais se deveria atribuir o prêmio; em seguida, um grupo de especialistas formado pelo Conselho da Ordem do Mérito usou seus critérios de seleção dentre estes nomes para que, por fim, a presidente Dilma Rousseff aprovasse o resultado final.

Dentre os intelectuais premiados, cito: a ativista da cultura negra Raquel Trindade; o cacique Almir Suruí; os cantores Chambinho do Acordeão, Elba Ramalho e Fafá de Belém; o antropólogo e fotógrafo Milton Guran; o apresentador de televisão Sílvio Santos; o autor de novelas Aguinaldo Silva; as atrizes Elisa Lucinda e Marieta Severo; os artistas José de Abreu, Alceu Valença e Regina Casé. Houve também premiação póstuma da apresentadora de programas televisivos de auditório Hebe Camargo e do escritor Jorge Amado.

Das instituições premiadas, menciono o Bloco Afro Olodum, o Movimento Gay de Minas Gerais, o Museu Histórico Nacional e a Orquestra Popular Bomba do Hemetério. Na lista de premiados das edições anteriores da Ordem do Mérito Cultural, constaram intelectuais afamados; informa-se que “Já foram premiados os poetas Vinícius de Moraes e Clarice Lispector, os dramaturgos Nélson Rodrigues e Ariano Suassuna, o economista Celso Furtado, e o arquiteto Oscar Niemeyer, entre outros.” (Fábio Massalli. Dilma Roussef homenageia artistas, cineastas, poetas e intelectuais no Dia da Cultura. Agência Brasil, 4 de novembro de 2012)

A premiação de 2012 da Ordem do Mérito Cultural valoriza personagens célebres das indústrias culturais – sobretudo os dos meios televisivos de comunicação – ao mesmo tempo em que inclui demandas civis dos movimentos indígenas, negros e dos homossexuais. Um dos significados deste tipo de evento é o de proclamar nomes da cultura nacional num cenário global de disputas entre indústrias culturais e de imagens que circulam de quase todas as nações no mundo.

O propósito da Ordem do Mérito Cultural deixa um pouco a desejar, no entanto, no que diz respeito ao horizonte de intelectuais e instituições que têm menor evidência nos meios de comunicação, mas que realizam trabalhos dignos e inestimáveis de promoção da cultura nacional. Falta reconhecer a importância destes obreiros da cultura nacional cujo mérito não se evidencia por falta de recursos que deem visibilidade a suas atividades e seus projetos.

Este tipo de premiação tropeça, portanto, nos riscos da consagração pelos quais não se admitiria que certas figuras da cultura nacional não fossem premiadas pelo valor que se lhes confere nos circuitos consagratórios mainstream – penso mormente na televisão –. Como poderíamos conceber um cenário fictício em que Hebe Camargo, que faleceu em 29 de setembro de 2012 com 83 anos, fosse excluída desta premiação? Visualizados em conjunto, porém, os premiados dão uma bela amostra do que é a cultura brasileira num ano que oscila entre as previsões apocalípticas de fim do mundo e as reformas sociais profundas que se discutem em vários países. A Islândia deixa quebrar os bancos, vacila a estabilidade institucional da União Europeia e a América Latina dá um giro à esquerda ideológica sem precedentes na história política da região.

O Ministério da Cultura oferece o prêmio da Ordem do Mérito Cultural anualmente desde 1995. Todo ano se faz uma homenagem a um obreiro da cultura nacional. O preito deste ano rendeu-se a Luiz Gonzaga. 100 anos se passaram em 2012 desde que nasceu em Exu, Pernambuco, o compositor popular e sanfoneiro Luiz Gonzaga. Sua canção, para alguns, representa os ritmos tradicionais do Nordeste, enquanto, para outros, suas vestimentas se assemelham às que trajava o cangaceiro Lampião. Luiz Gonzaga faleceu em 1989.

Finalizo com as palavras da presidente Dilma Rousseff, que ressoaram no Salão Nobre do Palácio do Planalto: “A cultura brasileira é um mosaico muito rico de tradições, criações e inovações de diferentes etnias e costumes.” (Talita Cavalcante. Dilma homenageia Luiz Gonzaga e entrega Ordem do Mérito Cultural a 41 premiados. Agência Brasil, 5 de novembro de 2012) A Ordem do Mérito Cultural é, portanto, um indício microscópico do cosmo cultural brasileiro.

(*) Bruno Peron é mestre em Estudos Latino-americanos por Filos/ UNAM (Universidad Nacional Autónoma de México)

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