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Analfabetismo ecológico

Marta Ferreira | 17/08/2012 14:35

De um lado, temos um bilhão de pessoas que passam fome. Desse contigente de famintos, quase 200 milhões são crianças, e destas, mais de 10 milhões morrem, todos os anos, de inanição. Do outro lado, quase 800 grupos corporativos mundiais dominam a cena da intermediação financeira e se regozijam com a “economia da acumulação e da devastação”, pouco se importando se, para essa acumulação, são gerados custos ambientais, se o ar é poluído e se as águas são contaminadas. Para essa “turma”, detentora do grande e voraz capital, esses passivos ambientais não passam de meras externalidades, ou seja, não são contabilizados nos negócios.

Enquanto não mudarmos a forma de produção, respeitando, prioritariamente, os ciclos da natureza, estaremos longe do estado de bem-estar humano real e sustentável e cada vez mais próximos de um crescimento baseado apenas no consumo material que satisfaz uma minoria à medida que dilapida, sobremaneira, o capital natural. É imprescindível combatermos os excessos e entender que progresso humano não pode ser confundido com crescimento material. A Terra não suporta excessos.

A crise ecológica, ora vivenciada, que põe a vida de todos em perigo decorre do erro “patrocinado” por um sistema de economia que, de forma escandalosa, defende um crescimento ilimitado num mundo limitado. Se almejamos obter para nós e para a geração vindoura uma vida mais tranquila e um mundo desenvolvido e equilibrado, urge parar com a diminuição do capital natural. O primeiro passo para isso é criar em todos “consciência ecológica”.

Essa consciência ecológica passa por eliminar aquilo que Fritjof Capra chama de “analfabetismo ecológico”, termo esse que agora vem sendo propagado por Leonardo Boff alertando que “a maoiria das pessoas e, especialmente empresários e gente de governo vivem na ilusão de que a Terra é uma espécie de baú inesgotável”.

Esse tipo de consciência se consegue com muita informação transformando isso em conhecimento de causa. Para tanto, desde a base, a partir dos primeiros anos de estudo, é necessário fazer com que nossos alunos entrem em contato com os valores que norteiam às ciências ecológicas. Para isso, temos que desenvolver uma política nacional de educação, uma verdadeira ecoalfabetização, que seja capaz de sensibilizar todos para a importância que representa o sistema ecológico. Nossos alunos precisam ser ensinados que o crescimento econômico deve vir em conjunto com a justiça social e a proteção do meio ambiente.

Definitivamente, o homem não pode deixar de ter consciência de que a natureza é a provedora inicial das necessidades humanas. Infelizmente, parece que muitos esquecem que somos parte da natureza e que ela não é composta apenas pelos seres humanos. Todos os seres são interdependentes e formam a comunidade de vida. Pela continuidade da vida com padrões equilibrados e economia justa centrada no paradigma da preservação, conservação e sustentação de toda a vida e, finalmente, pelo fim do “analfabetismo ecológico”. Com isso, lá na frente à vida saberá nos agradecer.

(*)Marcus Eduardo de Oliveira é economista e professor, mestre pela USP em Integração da América Latina.

e-mail: prof.marcuseduardo@bol.com.br

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