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As enchentes de Campo Grande...!

Por Antonio Cézar Lacerda Alves (*) | 17/01/2011 08:55

Vi quinta-feira, 13.01.2011), no Jornal Hoje, da Rede Globo, as imagens daquelas cidades lá do Rio de Janeiro, com seus rastros de tragédias e dores. Foi horrível. Cidades submersas, alagadas, sitiadas, enlameadas, arrasadas.

Em alguns momentos cheguei a me culpar por ter feito, como sempre fiz, na virada do ano, algumas preces com pedido de interesses pessoais a Deus. Cheguei à conclusão de que não tenho nada a pedir, só para agradecer. Agradecer a Deus por morar em Campo Grande. Essa cidade morena, bela, sedutora, encantadora, mágica e tão hospitaleira.

Dizem que a nossa cidade é a primeira e a única capital brasileira a erradicar suas favelas. Dizem, também, que ela é a capital mais arborizada do país, a mais limpa, etc., etc. Aliás, gosto muito - e faço com orgulho; e sei que muita gente também gosta e faz - de mostrar nossa cidade para os amigos e parentes que vem de fora. É impressionante como todos se encantam com a nossa cidade.

Infelizmente, logo que eles chegam, por conta do nosso Aeroporto, que hoje é considerado um dos piores do país, a decepção costuma ser grande. Mas, ao saírem do Aeroporto, na Avenida Duque de Caxias, o semblante do visitante vai mudando pouco a pouco.

A avenida está em obras, mas a ideia de como ela ficará quando pronta é animadora. Nem a sisudez dos quartéis ao longo da avenida assusta tanto, pois, logo em seguida, ao fazer o contorno da Praça Tiradentes, a artéria mais importante da cidade se põe em movimento - o visitante fica de frente para a Avenida Afonso Pena, uma das mais belas do país (é a minha opinião!).

Trafegar por ela é uma contemplação de memoráveis paisagens. Logo no início o visitante se depara com a Igreja Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, nosso santuário de novenas, que tem o estilo dos monastérios italianos e a coloração próxima ao ocre, que é a cor da nossa terra morena. Os hotéis, restaurantes e barzinhos ao longo da avenida são convidativos. O arborizado, largo e florido canteiro central, causa sempre espanto.

Até o Camelódromo faz pose para quem passa por ali. Mais à frente o antigo – e quase único - Shopping continua majestoso. A partir de então o verde se faz absoluto. Não há quem não deixe o queixo cair ao passar pelo Parque das Nações Indígenas (... É uma sensação maravilhosa presenciar o deslumbramento do visitante!).

Na sequência vem o Parque dos Poderes. Sua arquitetura harmoniosa e em perfeito equilíbrio com a natureza é um exemplo a ser seguido pelo mundo. Os prédios que abrigam os diversos setores dos três poderes, construídos ao longo dos passeios, já se misturaram ao denso cerrado e passaram a fazer parte da própria natureza. A reserva, na cabeceira do Córrego Prosa, que abriga elementos da nossa fauna e flora, é um pequeno (mas, significativo) santuário ecológico.

A travessia de quatis, capivaras e outros bichos (... e onça?) é indescritível. O Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, um dos mais modernos e bem equipados espaços para eventos da América do Sul, sempre foi alvo de elogiosas considerações por parte dos artistas que nele se apresentam. A torre da TV Educativa, além da rara beleza, é apontada como a mais alta torre de alvenaria do país. Enfim, o nosso Parque dos Poderes é realmente único no mundo.

Mas não é só isso. A área verde da nossa capital é composta por muitos outros parques e por muitos outros recantos (praças, lagoas, cachoeiras, etc.). Todos com suas características, belezas e encantamentos – a Lagoa Rica, por exemplo, ainda será transformada num extraordinário recanto turístico da nossa terra. Nossas ruas e avenidas são amplas e arborizadas.

E mais. Nosso orgulhoso povo tem múltiplas origens. Aqui, aliás, na mesma mesa, vários pratos se misturam (churrasco, sopa paraguaia, quibe cru, esfiha, sobá, massas, arroz carreteiro, feijão tropeiro e tantos outros).

Campo Grande, enfim, é uma das melhores cidades do mundo para se viver. Ela é a minha pátria, o túmulo dos meus ancestrais, o berço da minha prole. Ela, como dizia o poeta, “tem palmeiras onde canta o sabiá”!!!

Disseram-me, certa vez, que um elevado percentual da população mundial (85%) vive às margens dos oceanos (no litoral), num raio de até duzentos quilômetros, e que outro percentual (10%) vive às margens de um grande rio, também, num raio de até duzentos quilômetros - isso seria uma demonstração de que o ser humano necessita primordialmente da água.

Essa estatística, num primeiro momento, deixou-me muito triste, pois, Campo Grande, que não tem mar e nem foi edificada às margens de um grande rio, faria parte desses 5% restantes. Entretanto, bastou-me lembrar de que sob os nossos pés encontra-se o Aquífero Guarani, a maior reserva de água doce do mundo – cujo elemento da natureza será, em brevíssimo tempo, a matéria prima mais cobiçada da humanidade -, para eu entender que nós, realmente, vivemos em um paraíso.

Então, voltando ao que foi dito no início, não há como não agradecer a Deus por moramos nessa cidade tão bela, tão sedutora, tão encantadora, tão hospitaleira e tão mágica.

Mas, ....! E as nossas enchentes?

Pois bem, nossas enchentes são um problema antigo - até porque, na nossa região, seja na área rural ou na cidade, as enchentes sempre existiram - e, se Deus quiser, sempre vão existir, pois as chuvas são uma dádiva da natureza. Pelo que me consta, um dos primeiros locais a enfrentar sinistros com as enchentes foi a Rua Maracaju.

Depois – esse eu me lembro bem –, foi na Av. Fernando Correa da Costa, entre as ruas Pe. João Crippa e Calógeras. Em ambos os casos, a solução (aparentemente) encontrada pelos antigos administradores, foi a canalização subterrânea dos respectivos córregos. Agora, mais recentemente, tivemos as enchentes do início do ano passado. Foi horrível. Assustador. Afinal, fazia muito tempo que não ouvíamos falar em enchentes aqui em Campo Grande – nem sei, também, se não é por causa da impermeabilização dos fundos de vale feita em administrações anteriores.

Mas, de uma coisa estou certo, a enchente do ano passado, que formou uma cratera da Rua Ceará, serviu para corrigir um defeito da obra originária, pois o viaduto (que mais parecia uma ponte) sobre a Avenida Ricardo Brandão não tinha alças de acesso ao entorno – mas, agora tem. Várias medidas, por outro lado, foram tomadas – e ainda estão sendo - para a contenção do problema em frente ao shopping. Este ano, porém, com o retorno das grandes precipitações, tivemos problemas em outros pontos da cidade. Pelo que me consta, várias medidas serão tomadas – muitas já foram e outras continuam sendo – para a solução desses novos problemas.

Então, não se pode comparar o nosso problema, que vem sendo sistematicamente corrigido pelos nossos administradores, com as catástrofes e as ausências administrativas das cidades do Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo...

Não se pode, também, alarmar nossa população ou criar terrorismos políticos...

Aliás, logo na sequência do Jornal Hoje (da Rede Globo), que apresentou notícias realmente carregadas de imagens catastróficas, como dito no início deste artigo, começou o jornal de uma emissora de televisão local:

... Foi cômica a tentativa dos nossos repórteres em produzir uma matéria com ares de tragédia sobre as nossas enchentes...!

(*) Antonio Cézar Lacerda Alves é advogado, ex-conselheiro seccional da OAB/MS e ex-presidente da Comissão de Estágio e Exame de Ordem da OAB/MS.

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