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As lições do mundo da bola ao mercado corporativo

Marcos Morita (*) | 29/11/2012 07:10

A semana passada foi marcada por dois fatos já aguardados no mundo da bola: a volta do Palmeiras à série B e a queda de Mano Menezes do comando da seleção -apesar do momento positivo após a conquista do Super Clássico das Américas, competição tão ou mais suspeita quanto ao futebol de Iraque e China. O caso Alviverde foi um misto de falta de planejamento e desmando, em uma equipe que desde os tempos da Parmalat não sabe o que é consistência e visão de longo prazo.

Já o fator Mano Menezes pode ser visto como uma combinação de falta de foco, competência e principalmente jogo político. Sem uma competição oficial e com a participação assegurada para a Copa de 2014, tornou-se difícil manter a concentração. Sua convocação, segunda opção após Muricy Ramalho declinar à proposta, nunca foi uma unanimidade entre os torcedores. Enfim, as mudanças na desgastada e antiquada CBF foi à gota d’água que faltava para transbordar o copo do treinador gaúcho.

Como em qualquer empresa, independente do nível ou departamento, a troca de comando é usualmente seguida de mudanças, as quais podem divergir em tempo ou intensidade, porém sempre estarão presentes. É esperado de um novo presidente, diretor, gerente ou supervisor que tragam e coloquem novas ideias em prática, através da mudança de processos, políticas, estruturas internas e formas de atendimento ao mercado.

Para implantá-las necessitam de colaboradores leais e comprometidos, os quais ajudem a levar a cabo as novas ações, o que não raro significa uma dose extra de trabalho. Para fazê-lo podem contar com o time existente ou então trazer pessoas de confiança, com as quais tenham trabalhado anteriormente. Já conheci histórias de ótimos profissionais desligados ou deslocados de função em virtude da chegada de recursos externos. Para que você não seja o próximo, segue algumas dicas.

Boatos: evite disseminar frases e histórias que possam diminuir o prestígio do novo gestor. Em um momento de decisão as pessoas tendem a se aliar aos mais fortes.

Agressividade: tente responder de maneira polida as questões que a princípio lhe pareçam óbvias, mesmo que precise repetir mais de uma vez. Aproveite para demonstrar conhecimento e ganhar confiança.

Sentimentalismo: apegar-se aos processos ou políticas antigas pode transparecer que seja resistente a mudanças. Opine, discuta e apresente seu ponto de vista, estando aberto a novos métodos e visões.

Barganha: medir poder, seja através do conhecimento ou relacionamento interno ou externo, não é um bom caminho. Utilize-o para facilitar o caminho do novo gestor.

Caixa preta: segurar, omitir ou retrabalhar informações solicitadas pode não ser uma boa estratégia, já que precisará compartilhá-las, mais cedo ou mais tarde.

Última bolacha: achar-se insubstituível devido ao tempo de casa, resultados passados ou prêmios ganhos, apenas aumentará a insegurança do recém-chegado sobre sua real intenção.

Tomemos como exemplo o plano de sucessão de Mano. Tite, Felipão ou Muricy. Qualquer um que venha ocupar o posto precisará apresentar mudanças rápidas e profundas, contentando não apenas a CBF assim como a opinião de milhões de brasileiros metidos a técnico. Estilo de jogo e mudanças táticas trarão mudanças na lista de convocados, fazendo com que jogadores outrora garantidos possam perder sua posição aos preferidos e de confiança do novo técnico.

O caso serve para demonstrar a importância do jogo político, além da competência, existente em qualquer tipo de empresa e setor. Em épocas de turbulência, globalização e cobranças de curto de prazo; fusões, aquisições e mudanças organizacionais são e serão cada vez mais frequentes, obrigando os profissionais a viver em constante incerteza sobre o futuro de suas cadeiras. Neste cenário, torna-se necessário não apenas o gerenciamento da própria carreira, mas também a aquisição de habilidades políticas para poder se manter no cargo. Infelizmente existem poucas unanimidades como Neymar, para os quais mudanças não representam ameaças.

(*) Marcos Morita é é mestre em Administração de Empresas, professor da Universidade Mackenzie e professor tutor da FGV-RJ. Especialista em estratégias empresariais, é colunista, palestrante e consultor de negócios. Há mais de quinze anos atua como executivo em empresas multinacionais.

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