ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 23º

Artigos

Autoridades, assumam sua responsabilidade!

Por Jully Heyder da Cunha Souza (*) | 01/09/2015 14:15

Todos assistimos preocupados ao agravamento da situação no município de Antônio João. Há semanas a imprensa e setores ligados aos produtores e à comunidade indígena vêm alertando as autoridades sobre o iminente quadro de violência na região. Diante da inércia, várias fazendas, inclusive um distrito, foram ocupados por índios, que reivindicam por anos a demarcação da reserva prometida.

Em contrapartida, os proprietários das terras sentiram-se no direito de reaver, por conta própria, a posse das fazendas, o que desencadeou uma batalha campal no último sábado, com vários feridos e um índio foi encontrado morto, cujas circunstâncias da morte estão sendo apuradas. Agora, o Exército, Força Nacional e policiais militares estão na Região.

Apesar de tudo, não se nota a movimentação política necessária para a mudança do quadro caótico instalado, e a grande mídia nacional não noticiou, até agora, o estado de crise vivido em MS.

É evidente que a situação somente chegou a este patamar por uma razão: A OMISSÃO DAS AUTORIDADES PÚBLICAS.

O momento, entretanto, requesta ação imediata, efetiva, mas igualmente consciente dos direitos fundamentais envolvidos na disputa. Se é injusto privar a comunidade indígena de terras necessárias à sua sobrevivência e manutenção da cultura de seu povo, é igualmente injusto privar o cidadão, sem indenização, de sua propriedade privada adquirida a justo título. Todos possuem direitos assegurados na Constituição Federal.

Não pode interessar a ninguém, a propósito, a política de divisão da população rural, índios e não índios, nem se pode permitir que o conflito seja utilizado para vitimar quaisquer das partes, quando todos os lados são vítimas da omissão Estatal.

Também não serve a simples e isolada providência de repressão ao conflito, com o policiamento da região, quando a questão de fundo não é tratada com a atenção necessária.

A ordem jurídica demanda concreta atuação das instituições do Estado, mas o que estamos testemunhando é, sem dúvida, o fruto da inoperância do Executivo, Legislativo e Judiciário, que deveriam retomar as prioridades da Nação e criar uma frente para a solução definitiva da questão indígena no País, que ainda, ao perdurar o atual quadro, pode deixar inúmeras vítimas.

As autoridades devem assumir suas responsabilidades, sob pena de serem elas mesmas responsabilizadas, nos termos da Lei, pelas mortes e prejuízos causados em razão de suas omissões e, até, prevaricações. Este é o verdadeiro alerta que deve ser feito.

Aliás, esperava-se da OAB (e me lembro dela por indesviável vinculação que tenho) uma atuação muito mais dinâmica e participativa, inclusive com a intervenção do Conselho Federal, a exigir providências dos Governos Federal e Estadual no sentido de ampliar os esforços para a solução da crise, e igualmente fornecendo ela, a OAB, instrumentos ao diálogo e ao entendimento entre as partes, que é seu papel Institucional.

Confiamos que haja, nesta questão, mudança de postura das autoridades, e que o bom senso e o diálogo voltem a imperar, conduzindo o caminho para a verdadeira paz no campo, aguardada por todos.

(*) Jully Heyder da Cunha Souza, advogado

Nos siga no Google Notícias