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Bonito fica onde?

Por Paulo Renato Coelho Netto (*) | 28/01/2011 09:39

Ninguém sabe onde fica Bonito porque não se sabe onde é Mato Grosso do Sul ou não sabe onde é Mato Grosso do Sul porque não se sabe onde fica Bonito? Parece a história de quem veio primeiro: o ovo ou a galinha.

O fato é que está todo mundo indignadinho porque uma novela mandou Bonito para Mato Grosso, aquele Estado vizinho que cresceu mais que a gente, fez mais dinheiro que a gente, tem mais boi e soja que a gente, mais cidades que a gente e vai levar a Copa do Mundo para lá e que, por isso mesmo, está rindo na cara da gente.

O fato é que desde 11 de outubro de 1977, quando o general presidente Ernesto Geisel criou Mato Grosso do Sul na canetada, são raros projetos de marketing para divulgar o Estado. Tem gente até hoje que jura que folder é marketing.

Houve tentativas de contar para o Brasil e para o mundo que Mato Grosso do Sul existe, como tornar a atriz Luíza Brunet embaixadora do pantanal. A belíssima sul-mato-grossense, que nasceu em Itaporã, veio aqui, tirou fotografias e foi embora do jeito que chegou: sem entender bem que diabos uma embaixadora podia fazer para propagar o Estado.

Já viramos até enredo de escola de samba carioca. Não fosse o detalhe de citar de passagem o nome Mato Grosso do Sul no samba, até que seria uma ideia razoável. Não colou.

Com tanta confusão e crise de identidade, surgem oportunistas que garantem que se mudar o nome do Estado para, digamos, Estado do Pantanal ou qualquer outra genialidade do gênero, os problemas vão acabar rápidos como nas piadas do pessoal do Casseta & Planeta. De cara já aviso: não sou pantaneiro. Prefiro mil vezes sul-mato-grossense.

Mais bombásticos e perigosos, tem a facção que jura que se mudar o nome e o horário [como vão mudar os meridianos?] aí sim, passaremos até São Paulo em renda per capita.

É tudo muito complicado, difícil, intrincado e burocrático. Mesmo que houvesse um projeto de marketing que trouxesse bons resultados, ainda faltaria mudar a mentalidade arcaica vigente em Mato Grosso do Sul. Mentalidade que vem desde o latifúndio.

Mato Grosso do Sul tem um canyon extraordinário em Costa Rica que praticamente ninguém conhece. Como se faz para esconder um canyon? E as centenas de grutas e cavernas que se espalham na Serra da Bodoquena? E o pantanal que parece que perdeu em importância com a escassez dos peixes?

Talvez as mesmas pessoas indignadas com as novelas da TV Globo pudessem responder por que a Chapada dos Guimarães, no Mato Grosso, é nacionalmente reconhecida e o canyon de Costa Rica goza do mais puro anonimato?

Enquanto não tomamos tento, como diriam os antigos latifundiários, Mato Grosso do Sul vai continuar espocando nas manchetes como um Estado por onde passam armas, maconha e cocaína contrabandeadas do Paraguai e da Bolívia.

Já fomos manchete nacional e internacional por trabalho infantil escravo em carvoarias, matança de jacaré no pantanal, suicídio de nativos e indiozinhos morrendo de fome em Dourados.

Bonito, a cidade ícone do turismo sul-mato-grossense, tem sérios problemas estruturais.

Agora, com o Presídio Federal de Campo Grande, constantemente reaparecemos na mídia como um lugar para onde o Brasil envia os chefões do narcotráfico. Viramos a parte debaixo do tapete.

Para encerrar, a capital do Estado também não consegue se livrar de um mosquito e que, por conta disso, também vai para a mídia nacional como a capital brasileira da dengue. A próxima epidemia já está anunciada.

Com tanto problema real, a essas alturas do campeonato nossa geografia soa tão importante quanto uma novela de televisão.

(*) Paulo Renato Coelho Netto é jornalista, pós-graduado em marketing pela UCDB e autor do livro “Mato Grosso do Sul”.

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