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Brasil-EUA: em busca do espaço perdido

Por Milton Lourenço (*) | 19/04/2015 11:29

As conseqüências de 12 anos de ideologização das relações do Brasil com os Estados Unidos, que incluem o trabalho de bastidores feito com a Argentina para levar ao fracasso a criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), estão aí à mostra de todos: só neste ano de 2015, a balança comercial brasileira já acumulou um déficit de US$ 5 bilhões. E a situação tende a ficar pior, ainda que o novo governo Dilma Rousseff tenha mudado drasticamente a filosofia nada pragmática que pautou o relacionamento com os Estados Unidos até o final do ano.

Com a projetada visita da presidente a Washington, o que se espera é o fim do distanciamento diplomático entre os dois países que dificultava o avanço das negociações comerciais, pois não havia de lado a lado nenhuma boa vontade e tampouco canais para a facilitação do comércio bilateral. Agora, já se vê uma luz no fim do túnel com a assinatura do recente acordo de convergência regulatória, que constitui, na verdade, o primeiro ato concreto dessa reaproximação. O segundo ato bem que poderia ser a decisão de Washington de rever a exclusão do Brasil do seu Sistema Geral de Preferências (SGP), direito perdido em julho de 2013.

É claro que entre empresas e empresários dos dois países nunca houve nenhuma diferença e os negócios continuaram a ser fechados, ainda que em menor intensidade, exatamente em função da ausência de incentivos e facilidades. São os números que provam isso: em 2000, 25% do que o Brasil exportava tinham como destino final o mercado norte-americano, mas, a partir de 2003, a queda foi paulatina, porém constante, a ponto de chegar a 12% em 2014.

Obviamente, não basta agora um aperto de mão presidencial para que tudo volte ao patamar de 2000. A recuperação do espaço perdido é um trabalho lento e gradual porque os mercados mudam de uma maneira muito veloz e o produto que deixa de ser comprado é imediatamente substituído por outro de outro país. Ainda assim, o Brasil tem a rara oportunidade de voltar a vender em maior quantidade para os Estados Unidos, aproveitando-se da atual fase de recuperação da economia norte-americana.

Para tanto, o governo brasileiro tem de fazer a sua parte. E não será, como o faz agora, incluindo o Programa de Financiamento às Exportações (Proex) na mira do chamado ajuste fiscal, que irá contribuir. Pelo contrário. Como as cotações das commodities (metálicas, minerais e agropecuárias) estão em baixa no mercado internacional e a economia interna já não apresenta o dinamismo de anos anteriores, só resta uma saída para brecar a queda que se registra na balança comercial: exportar mais produtos manufaturados e semimanufaturados.

Isso significa que é preciso que o governo volte a aprovar operações no Proex nos níveis anteriores a 2014, pois, afinal, se não houver financiamento para os produtos e serviços com destino ao exterior, a situação pode piorar.

(*) Milton Lourenço é presidente da Fiorde Logística Internacional e diretor do Sindicato dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística do Estado de São Paulo (Sindicomis) e da Associação Nacional dos Comissários de Despachos, Agentes de Cargas e Logística (ACTC). E-mail: fiorde@fiorde.com.br. Site: www.fiorde.com.br.

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