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Cadê o bom senso?

Por Rosildo Barcellos (*) | 29/12/2010 08:21

Particularmente não aprecio dispor os assuntos apenas em dados estatísticos, mas neste caso, por parecer que as pessoas, os condutores e os pais em geral não acreditam que o acidente possa acontecer com ele, acha que pode acontecer sempre com outra pessoa e não toma as devidas precauções, questiona regularidade das multas e das abordagens em vez de por a mão na consciência e aceitar o erro antes da culpa.

E por que digo isso: é simples,enquanto o policial está fazendo seu papel de explicar o porque da autuação e num momento posterior da conferência de documentos lavrar realmente o auto de infração é apenas a aceitação do erro, ou seja pode ser corrigido. Mas depois que o acidente acontece e a lá mesmo no local do acidente você vê seu filho machucado,debilitado ou mesmo fenecido é que vem a pior parte ..a culpa.

E um dos pontos que uma pequena mas resistente parcela de condutores bate o pé e esquece de utilizar e de cobrar a utilização do cinto traseiro e a utilização do bebê-conforto,dos assentos de elevação e das efetivas “cadeirinhas”.

Por isso digo que hoje venho com fulcro na matemática e estimativas apontam que mais de 2,7 mil crianças morrem por ano no trânsito brasileiro, sendo que, desse número, 71% poderiam ser salvas com a utilização correta de um equipamento de segurança. Neste feriado de Natal, que inclusive, estive auxiliando os colegas na orientação e na repressão destes atos; pelo menos 91 pessoas morreram nas estradas federais do país.

Acredito que infelizmente, a sociedade ainda considera o acidente de trânsito uma fatalidade, e não algo provocado ou que pode ser evitado;e eu digo PODE!. Ainda é admitido que as pessoas bebam ou dirijam com pressa, por mais que eu repita que a velocidade máxima na via é de 80km/h. Creio que esses números só vão chegar a um patamar aceitável quando a sociedade se comprometer com atitudes seguras e entender a real função do policial resgatista que atua nas vias e rodovias desse Brasil.

Causa uma tristeza pessoal eu ver recursos de infração,com alegações desprovidas de supedâneo,tentando o impossível, porque foi autuado. Mesmo o policial mostrando que a criança está no banco de trás,dormindo,sem proteção,sem cinto,sem a cadeirinha a resposta é sempre a mesma: ele é criança está só dormindo, porque a multa? Cadê o bom senso? Bom senso é fazer o que é correto!

Mas mesmo em meio a essa tristeza o que nos faz continuar esse trabalho árduo de orientação é quando recebemos a informação de que mesmo acidentado,todos saíram lesos,como foi o caso de um acidente que ocorreu nesse período de natal, envolvendo um veículo Corsa, placas DXZ 5640, de Campinas, que infelizmente se projetou em um sinistro.

O motorista Amaury Nascimento, 41 anos, contou que um canino estava no meio da pista e, ao fazer a manobra para tentar desviar do animal, perdeu o controle do veículo. O carro bateu na guia da rodovia e acabou capotando, sendo jogado metros adentro do canteiro lateral.Além do motorista, haviam outras quatro pessoas com ele.

Sua esposa, Mirian Cilene Freitas, 40; o cunhado, Walter Silva, 59; um sobrinho de 15 anos e a filha do casal, uma garota de 3 anos e três meses.Desses, somente Walter Silva bateu a cabeça, entretanto, não corre qualquer risco de morte. Já a garota saiu sem qualquer ferimento pois, ela estava ajustada à cadeirinha.

Ressalto que em relação a autuação,os motoristas que descumprirem a lei estarão sujeitos a penalidade prevista no artigo 168 do Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que considera a infração gravíssima e determina multa de R$ 191,54, além de acréscimo de sete pontos na Carteira Nacional de Habilitação (CNH) e a retenção do veículo até que a situação seja resolvida.

Não entendo o porque o único acessório de um veículo capaz de diminuir em 50% o risco de morte em um acidente... o cinto de segurança; é desprezado por motoristas e passageiros, principalmente os que sentam-se no banco traseiro do veículo.

Esquecem-se porém,que caso ocorresse algum acidente, os passageiros dos bancos de trás seriam lançados simultaneamente para cima e para frente, e, após baterem a cabeça no teto do carro, cairiam sobre quem estivesse nos bancos da frente . Inclusive cerca de 80% das mortes de pessoas que estavam no banco da frente com cinto foram causadas por quem vem do banco de trás.

Por isso reitero que para o ano novo há de se ter um cuidado redobrado com a colocação correta do cinto de segurança pois o principal obstáculo a ser enfrentado é a falta de conscientização da importância de utilizar o dispositivo no banco traseiro. Em uma colisão frontal até 80 km/h, o cinto de segurança é bastante efetivo.

Inclusive para ilustrar meu comentário, já existem programas de educação de equipes de dentro dos hospitais preocupada com a quantidade de pacientes que dão entrada por causa de lesões na coluna ou cerebrais decorrentes de acidentes, a Rede Sarah por exemplo tem relatórios informando que 54% dos pacientes internados em um dos hospitais da rede sofreram acidentes no trânsito. E estes são, em maioria, jovens entre 10 e 29 anos, que provavelmente terão dificuldades de desenvolver a sua fase de investir em desenvolvimento intelectual ou participação no mercado de trabalho.

Outro comentário que desejo fazer reside no fato de que a infração por não uso do cinto de segurança fica atrás apenas das infrações de excesso de velocidade (9.834.097) e ultrapassagem pela contramão (1.168.189). De janeiro de 2004 até julho de 2010 foram 978.870 infrações pela falta do cinto em todo o país. Em relação ao transporte de crianças sem a observância das normas, utilizamos os dados do Renainf que registrou 24.618.

O Renainf é um sistema que permite aos órgãos integrados aplicar multas a partir de placas de veículos cadastradas em qualquer uma das 27 unidades da Federação e também enviar para o prontuário do condutor responsável pela infração a pontuação de penalidade equivalente à multa aplicada. Não acredito ser difícil mudar esse quadro. Aliás para mim é muito fácil,basta um pouco mais de atenção e cuidado com seu filho.

Fazer a revisão do veículo antes de “pegar” a estrada, conferir os documentos pessoais,tanto dos adultos como das crianças, as carteirinhas do plano de saúde, acondicionamento correto dos animais, não deixando soltos pelo carro.

Se deu cansaço, parar num hotel, entrar na cidade, fazer refeições leves enquanto não acaba a viagem. Parar de duas em duas horas,esticar as pernas, ir ao banheiro, conferir o cinto das crianças, aproveitar a paisagem,seguir a sinalização e enfim chegar ao destino em paz e segurança. Experimente, depois me conta se a viagem não foi diferente!

A utilização do cinto de segurança traseiro,a “cadeirinha” fez, faz e fará uma diferença primordial na sua viagem. Isso é bom senso.E isso fará a diferença no ano novo para muitas famílias!

(*) Rosildo Barcellos é professor e articulista.

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