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Cartão postal ou imagem ruim na Copa das Confederações?

Por Ariovaldo Caodaglio (*) | 18/06/2013 13:33

Teremos estádios lotados na Copa das Confederações, considerando a grande venda de ingressos, muito superior à verificada na última edição dessa competição, realizada na África do Sul, em 2009. No final de maio, já haviam se esgotado, por exemplo, as entradas para a partida final, a ser disputada no novo Maracanã, no Rio de Janeiro. E isso sem sequer existir a certeza dos torcedores de que a Seleção Brasileira será finalista.

Será muito importante para o Brasil o sucesso de público do torneio, mas também em todos os outros indicadores, como limpeza pública, segurança, infraestrutura, transportes, hospedagem e mobilidade dos torcedores e turistas. Afinal, estaremos testando na presente competição a nossa capacidade de promover com eficácia a Copa do Mundo de 2014, a Olimpíada do Rio de Janeiro, em 2016, e outros grandes eventos, como a Expo Mundial 2020, cuja realização é pleiteada pela cidade de São Paulo.

Arenas esportivas com capacidade esgotada também significam movimento positivo para hotéis, restaurantes, companhias aéreas, empresas de turismo, táxis, prestadores de serviços e comércio. Afinal, são numerosos os visitantes de outros países e também brasileiros que viajarão às cidades sedes para assistir aos jogos. A pergunta fundamental é a seguinte: o que oferecemos a essas pessoas? Cartões postais para que continuem atraídas pelo turismo nacional ou uma imagem ruim, de modo que os estrangeiros jamais voltem e os brasileiros prefiram viajar ao Exterior ao invés de conhecerem melhor o seu próprio país?

São muitas as vertentes de respostas a essas perguntas, a começar pelo combate à violência, que nos rendeu desabonadora visibilidade na imprensa internacional e nota de alerta da União Europeia, devido ao inaceitável estupro de uma turista estrangeira numa van do transporte público carioca. Mobilidade, incluindo aviões, trens, metrô, ônibus e trânsito fluente, segurança pública e salubridade ambiental são alguns dos itens essenciais para encantarmos os visitantes. No entanto, nesses quesitos estamos exatamente como a Seleção Brasileira, ou seja, perdendo, e, quando muito, empatando...

O mais grave é que temos desperdiçado chances de gol daquelas que não podem ser perdidas. Refiro-me, especificamente, à Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS). Seu cumprimento seria um grande avanço no sentido de melhorar o meio ambiente e a aparência do meio urbano, a começar com a execução da medida que prevê a erradicação dos lixões em 2014. Pois bem, com lei aprovada e metas definidas, estamos prestes a dar um grande chute pra fora, na cara da Copa das Confederações e às vésperas da Copa do Mundo: segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), ainda há no Brasil 2.906 lixões, em 2.810 cidades, ou seja, mais da metade de nossos municípios, e apenas cerca de 20% deles realizam a coleta seletiva. Se formos cumprir a lei que instituiu a PNRS, o prazo fixado para sua eliminação é agosto do próximo ano.

Temos lei, conhecimento e tecnologia, inclusive desenvolvida pelas empresas que atuam no setor de resíduos sólidos. É preciso que a lei seja cumprida. Alega-se, de um lado, que são necessários recursos vultosos — aproximadamente R$ 70 bilhões — para a erradicação dos lixões. Ora, não temos quebrado sucessivos recordes anuais de arrecadação tributária? Ademais, a boa gestão desses projetos possibilitaria o desembolso programado, ao longo de alguns anos e não o pagamento à vista.

A sociedade precisa cobrar o cumprimento das leis e dos prazos estabelecidos por elas. Se são necessárias parcerias público-privadas para trens, metrôs, aeroportos e obras de infraestrutura, também o são para a erradicação dos lixões, que contam com o setor privado, mas dependem do setor público, representado pela vontade política da União, estados e municípios e uma boa gestão de projetos. Temos oportunidade histórica de quebrar o paradigma de desrespeito ao marco legal e, ao mesmo tempo, avançar de modo significativo na qualidade ambiental do meio urbano. Não podemos perder esse gol!

(*) Ariovaldo Caodaglio, cientista social, biólogo, estatístico e pós-graduado em meio ambiente, é presidente do SELUR (Sindicato das Empresas de Limpeza Urbana no Estado de São Paulo).

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