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Comilança: a culpa pelos excessos que cometemos na Páscoa

Por Vitor Sampaio (*) | 05/04/2012 20:37

Mais uma páscoa se aproxima e muitos já imaginam como se sentirão na segunda-feira, depois que o coelhinho se for. Pratos especiais preparados por mães e avós são tipicamente encerrados por dezenas de ovos de páscoa. Não por acaso, o dia seguinte é tomado por um grande sentimento de culpa e arrependimento, que nem horas e horas de academia conseguem aliviar.

Mas se já conhecemos o final deste filme, por que insistimos em dar sempre o mesmo desfecho a esta história? Por que não conseguimos manter o controle diante de uma mesa tão farta e saborosa?

Constantemente estamos revendo nosso passado e nos culpando por aquilo que deveríamos ou não ter feito. Seja nos grandes ou pequenos acontecimentos da vida, questionamos sobre nossas atitudes - geralmente sem chances de mudarmos o que fizemos ou falamos. Deveríamos ter escolhido outra carreira, não queríamos ter magoado aquela pessoa, poderíamos ter dado aquele beijo, não deveríamos ter abusado dos chocolates...

Vale lembrar que por sermos humanos, somos temporais. Isso significa estarmos sempre lançados em nosso tempo, tendo como marca o tempo que habitamos. Assim, aquilo que deveríamos ou não ter feito no passado não ficou no passado, restrito a meros acontecimentos históricos.

De fato, nosso passado se faz constantemente presente, por isso nossos frequentes pensamentos e culpa pelo que já foi. Assim se manifesta nosso sentimento de arrependimento: vivenciamos o presente como se estivesse acontecendo neste exato momento aquilo que vivemos há algum tempo.

Somos devorados por nossa culpa em cada situação específica que vivemos, e geralmente a sentimos nos colocando em situação de sermos grandes culpados, merecedores de punição por nossa própria conta.

A maneira como nos acreditamos merecedores de punição, é a maneira como a culpa nos devora e o modo como se manifesta. Após abusar dos chocolates, este sentimento pode nos tomar com a urgência de um regime maluco, nos punindo com a privação de comida ou através de uma profunda apatia e tédio - daquele que diz que “dane-se: o mundo só me traz agonia, então como mesmo o que eu quiser”. A revolta comigo mesmo e com o mundo pode até mesmo se manifestar com a negação da ação, no caso, o nosso abuso, fingindo que nada aconteceu, o que pode levar a mais abusos como esta punição.

Independentemente de como sentimos a culpa, é importante conseguir identificar que estamos nos sentindo culpados por alguma ação nossa. Se para nós uma determinada ação é facilmente superável, a culpa logo é posta de lado, mas nunca esquecida. Se, ao contrário, a ação for importante e marcante, a culpa continuará a nos assombrar (e aí, vai depender de cada um, afinal, abusar nos chocolates pode ser um ato de pequeno impacto para um, mas de força calamitosa para outro).

E não é fácil se livrar dessa culpa! Por isso, passada a euforia dos chocolates e o consumo excessivo, perceba-se. Como você está encarando este abuso? Será realmente importante este acontecimento? O que pode ser feito para remediar as muitas calorias ingeridas, sem nos colocarmos como grandes culpados e merecedores de nossa própria punição? Sem dúvida, a melhor maneira de aliviarmos estes sentimentos na próxima semana é revendo nossas atitudes (passadas e presentes) e tentando dar um novo significado a maneira como estamos comendo e agindo. Não nos custa tentar.

(Vitor Sampaio é psicólogo e mestrando em Fenomenologia-Existencial)

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