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Desmatamento na Amazônia traz escassez de chuva para MS

Por Laerte Tetila (*) | 24/09/2012 13:33

Para nós, sul-mato-grossenses, a floresta amazônica significa bem mais do que uma enorme mancha verde no mapa, porque ela é de importância extraordinária para o nosso Estado. Aquecida pelo sol equatorial e em razão da intensa transpiração das plantas, a floresta amazônica, com o auxílio da evaporação dos rios (maior bacia hidrográfica do mundo), acaba produzindo uma gigantesca massa de ar úmido, com intensa precipitação e imprescindível à biodiversidade e à produção rural sul-mato-grossense.

Estudos já demonstram, por exemplo, que uma única árvore dessa floresta – com copa de 30 metros de diâmetro – pode colocar no ar mais de mil litros de água por dia e, também, que a floresta amazônica possui em torno de 600 bilhões de árvores. Ainda que o volume de água que sobe da floresta amazônica para formar tão benéfica massa de ar pode equivaler à vazão do rio Amazonas – ou seja, 200 mil metros cúbicos por segundo. Ocorre que essa enorme massa úmida e chuvosa poderia não chegar até nós.

Seu destino certo seria o Oceano Pacífico, não fosse o paredão providencial da Cordilheira dos Andes com seus 4 mil metros de altitude. Paredão que, ao barrá-la, redireciona-a para o território sul-mato-grossense para, assim, irrigá-la de outubro a março, com generosas precipitações, provendo-lhe de enormes lavouras e pastagens, da mesma forma que o faz com estados e países vizinhos.

No começo dos anos 80, pós-graduando na USP, informativos que chegavam até nós do Instituto de Pesquisas Aeroespaciais (INPE) já alertavam que o desmatamento da floresta amazônica provocaria uma grave redução das chuvas no Centro-Sul do país e que o território sul-mato-grossense seria um dos mais afetados. Hoje em dia, entretanto, pesquisas bem mais avançadas, com base em imagens de satélite, só têm feito reafirmar, e de forma bem mais científica, a tese em apreço. A destruição das florestas é algo sério.

Apesar de toda consciência ambiental, as florestas, em geral, continuam sendo as maiores vítimas do “progresso”. No Planeta, de 4 a 5 milhões de hectares vêm abaixo todos os anos, sendo que “o Brasil, infelizmente, continua como o líder mundial do desmatamento” (Tasso Azevedo, 2012). Na Amazônia, com o uso de fogo e da tecnologia moderna, em pouco tempo se convertem vastas extensões florestais em espaços para a soja e para o gado.

Resultado: da floresta amazônica já foram devastados quase 80 milhões de hectares, um espaço que equivale ao tamanho dos estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Rio de Janeiro e Espírito Santo juntos. Um desmatamento que, às vezes, diminui, mas que não para. Para se ter uma ideia, conforme o INPE, apenas entre agosto de 2010 e julho de 2011 foram devastados 6.418 km².

Frente a essa realidade, as consequências desastrosas para a economia e para a vida sul-mato-grossense já não podem ficar apenas no campo das especulações, pois, quanto maior o desmatamento lá na Amazônia, maior o prolongamento das estiagens em nosso Estado, que, na linha do tempo, nos coloca o angustiante problema da desertificação. A famosa seca de 2005 na região amazônica e que acarretou prejuízos irreparáveis à nossa produção rural, não deixou de ser um bom sinal do que não se deve fazer com a floresta amazônica.

Um sinal do que pode acontecer quando a massa de ar amazônico, esse gigante hídrico em suspensão, for impedida, pelo desmatamento, de se formar e de se deslocar até aqui. O nosso Mato Grosso do Sul precisa colocar o problema do desmatamento da Amazônia na Pauta Ambiental Nacional e posicionar-se preventivamente, porque, assim como o Egito é dádiva do Nilo, o Mato Grosso do Sul, com certeza, é dádiva da floresta amazônica. Uma dádiva gigantesca, com seus bilhões de litros d’água suspensos no ar.

Uma dádiva repleta de umidade, que condensa e se precipita copiosamente para encher nossos rios, lagos, represas e fazer brotar lavouras, pastagens e recrudescer a vida com toda a sua intensidade. Dádiva que na geografia denominamos “Massa de Ar Equatorial Continental”. A umidade dessa massa de ar é, de fato, impressionante e imprescindível para a nossa produção rural.

(*) Laerte Tetila é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT/MS).

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