ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 25º

Artigos

Diversificar não é ter vários investimentos

Por Daniel Resende e Felipe Sotto-Maior (*) | 26/02/2013 10:00

Nos últimos dias, os investidores têm reagido aos movimentos de queda nos fundos de inflação e nos fundos que possuem boa parte do resultado atribuído a essa estratégia. Apesar da rentabilidade excepcional de 2012, continuamos repetindo o alerta de que não devemos alimentar ilusões de ganhos fáceis e acelerados em 2013.

Apesar de classificados formalmente como renda fixa, os fundos de inflação representam um posicionamento que consideramos macroeconômico. Entretanto, ao contrário dos fundos macro, os fundos de inflação são passivos, ou seja, são obrigados a manter posições em títulos de inflação. Não existe um gestor responsável pela análise macroeconômica, tomando decisões de quando investir ou desinvestir. Essa decisão fica nas mãos do investidor.

Os fundos de inflação ganharam a atenção dos investidores nos últimos tempos e passaram a representar uma parte exageradamente grande da carteira de algumas pessoas. Entendemos que esses fundos podem fazer parte de uma estratégia de investimento, mas precisam estar inseridos numa carteira diversificada de maneira inteligente.

O investidor frequentemente se depara com uma infidade de nomes de estratégias, tais como Long and Short Neutro, Multimercados Macro, Ações IBrX Ativo, Renda Fixa Crédito Livre. As diversas classificações de investimentos são úteis para os gestores conversarem entre si, mas acabam sendo praticamente inúteis para o investidor. Quando você pensa em construir sua carteira de investimentos, deve procurar contemplar as quatro modalidades abaixo para criar uma diversificação de estratégias. É claro que o percentual a ser alocado em cada modalidade deve variar para que a carteira final seja mais conservadora ou mais agressiva, de acordo com o seu perfil.

Renda fixa - é onde devemos deixar recursos quando buscamos estabilidade e segurança. Os investidores mais conservadores terão a maior parte de seu patrimônio alocado nessa categoria. Ao escolher seus investimentos de renda fixa, priorize estabilidade, segurança, liquidez e taxas reduzidas. E tome cuidado: não é na renda fixa que você deve buscar maiores rentabilidades e aceitar risco, pois essa é a sua reserva de segurança. O diferencial de rentabilidade deve ser obtido nas modalidades abaixo.

Valor relativo - é o tipo de investimento que procura agregar valor através de operações antagônicas, explorando a diferença de desempenho entre dois ativos. Nessa estratégia, os gestores procuram limitar as perdas, utilizando operações inversas. Da mesma forma, os ganhos também ficam limitados. Esses fundos podem operar na bolsa de valores, por exemplo, sem apresentar correlação com ela. Assim, podem proporcionar um bom desempenho quando a bolsa cai ou um mal desempenho quando sobe. Em geral, os fundos de valor relativo apresentam um baixo risco, apesar de serem mais agressivos que a renda fixa tradicional. São exemplos dessa modalidade os fundos de Long/Short e os fundos de arbitragem.

Fundos macro - podem investir em diversos mercados, como inflação, juros, câmbio, bolsa, commodities e outros. Por meio de análises da situação macroeconômica, os gestores montam posições que pretendem ganhar com os fluxos de recursos entre os diversos mercados. Esses fundos podem ser posicionados para ganhar tanto com a alta, quanto com a baixa dos mercados em que operam. O ganho depende do acerto das previsões do gestor. Devido a essa característica, os fundos macro tendem a ser mais voláteis que os fundos de valor relativo, mesmo que não sejam necessariamente mais arriscados.

Fundos de ações - os gestores desses fundos procuram agregar valor negociando ações na bolsa de valores. Entre os investimentos mais comuns, esse é o tipo que costuma sofrer as maiores oscilações e, portanto, é considerado o mais arriscado. Esse risco pode ser mitigado quando trabalhado no longo prazo ou analisado sob a ótica de aceitar oscilações e evitar perdas permanentes de capital. Ainda assim, a volatilidade é temida pela maioria dos investidores. Os fundos de ações costumam apresentar alta correlação com a bolsa de valores, sendo praticamente inevitável acompanhar pelo menos parcialmente as quedas do mercado acionário. Da mesma forma, é bastante trivial para qualquer gestor obter ganhos expressivos em épocas de alta do mercado.

Uma quinta categoria que pode merecer atenção são os investimentos imobiliários. Aqui, contam imóveis adquiridos diretamente e também fundos imobiliários. Alguns fundos imobiliários possuem uma característica de renda fixa, pois os aluguéis são como os juros, pagos mensalmente. Entretanto, muitos fundos imobiliários adquiriram características de renda variável, pois passaram a ser negociados em bolsa de valores. Seu lastro são os imóveis, ativos reais cujo preço passa a ser determinado pela oferta e demanda dos investidores por cotas de fundos imobiliários, afetando a rentabilidade.

Apesar das tentativas, não é possível prever o comportamento de quaisquer fundos com base meramente nas suas classificações. Existem fundos de ações alavancados, com risco muito superior aos demais e sujeitos a perdas permanentes de capital. Há fundos macro com pouquíssimo risco, em muito se assemelhando à renda fixa, assim como fundos macro com altíssimo risco, mais agressivos que fundos de ações. E também existem fundos macro que utilizam estratégia de valor relativo, podendo se confundir uns com os outros em alguns casos.

Para conseguir encaixar os fundos nessas classificações, pode-se recorrer à análise das informações de ativos disponível no site da CVM (Comissão de Valores Mobiliários), mas uma real compreensão da estratégia depende de conhecer os gestores e conversar sobre o trabalho que ocorre nos bastidores de cada fundo. As classificações formais ajudam muito pouco.

É importante para o investidor que deseja estruturar sua carteira de maneira inteligente entender essas estratégias para poder balancear sua exposição entre elas. O percentual de alocação em cada estratégia depende de diversos fatores pessoais, como idade, objetivo pretendido para os recursos, prazo previsto para o investimento, grau de dependência do investidor em relação ao patrimônio investido, entre outros. Esses são tópicos que pretendemos abordar numa próxima oportunidade.

(*) Daniel Resende e Felipe Sotto-Maior são empresários e diretores do site www.comparacaodefundos.com

Nos siga no Google Notícias