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Dores e demagogias após o Realengo...

Por Valfrido M. Chaves (*) | 30/04/2011 07:05

A doença mental, qualquer que seja sua origem, deteriora a razão e os sentimentos humanos em graus muito variáveis. Alguém poderia apaziguar os vendavais de sua alma lendo gibi; outro, com um estilingue ou revolvinho de brinquedo, fantasiando guerras, cruzadas e vinganças contra inimigos reais ou imaginários. Assim como no jardim de Mao Tsé Tung há lugar para mil flores, no mundo há espaço para tantas loucuras quanto almas vivas existam.

Uns enlouquecem desde por momentos, até definitivamente, de acordo com a lua, o desemprego, o chifre ou coisa que o valha. Cada um tem seu ponto fraco, toda madeira tem o lado para o qual pende, conforme se entendam nossos Sancho Panças e Don Quixotes internos. Seja com o revolvinho, estilingue, trezoitão, até a Bíblia, Alcorão ou livrinho vermelho de Mao, solitária ou coletivamente, ora brincamos, ora escolhemos ser vítimas, ora as fazemos, de dezenas a milhões..

Mas eis que aí está a “tragédia do Realengo”, primeiro sob a batuta esquizo-paranóide de um infeliz que, se fosse só um pouquinho mais louco, não faria o que fez, não teria eficácia, planejamento para sua triste obra. Se Deus escreve às vezes certo por linhas tortas, nessa o diabo escreveu torto por linhas certas, pois a loucura comandou o lado mais conservado do assassino.

Mas os mortos, vítimas e algoz são enterrados, deixando heranças de dor, revolta, perplexidade, tentativas de entendimento necessárias até para continuarmos tocando a vida em paz. E a batuta, aquele pauzinho com que o maestro rege a orquestra, troca de mãos, muitas são estas, algumas caridosas, umas perversas, outras demagógicas, políticas. A costumeira exploração midiática da dor, deita e rola, em sintonia com as necessidades menos confessáveis do público.

A demagogia se assanha, uns querendo “se aparecer” bem na fita, aproveitando o ibope. Parecendo aquela piada em que se trocou o sofá da sala após o pecado que nele se deu, volta a tentativa de satanizar as armas de defesa pessoal. Que fazer então, leitor, diante de nossas estradas assassinas, nosso ensino público caótico e à mercê de gangs, graças à vil corrupção que agora é só “recursos não contabilizados” e “formação de caixa dois”?

Quem mata mais? Nossas estradas assassinas, nossos menores sem leis, o narcotráfico todo poderoso, ou todos os loucos de carteirinha reunidos?

Se há uma relação entre a deterioração de nosso tecido social (desgraça de todos) com a corrupção e desvios para o enriquecimento pessoal (quem não os vê por aqui?), bem como para os já pecados veniais dos recursos não contabilizados e caixas 2, que fazer então com os instrumentos dessas práticas? A quem suprimir? A caneta? Os Partidos, de burgueses a populares?

Acabar com o eleitor ou a eleição? Ou simplesmente não ver televisão, não ler jornais e não votar? E que tal mudar de lado, leitor, esquecer a vergonha que papai e mamãe deixaram, para cair na gandaia? Já que chegamos aqui, vou lembrar de uma pichação na parede de uma cela em que se amontoavam meninos: “Samo loco. Mas o loco que samo, samo poco”.

(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista e pós graduado em Políticas e Estratégia(Adesg/UCDB).

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