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É possível ter uma sociedade sem drogas?

Redação | 07/03/2011 09:47

Brenno da Silva Medeiros (*)

A França, por meio de seu órgão máximo da política governamental antidrogas, afirma publicamente que "não existe uma sociedade sem drogas". Apesar do impacto ou desilusão que tal afirmativa possa gerar em cada um de nós, pais de família, educadores, terapeutas, Policiais, governantes ou simplesmente cidadãos, precisamos ter a coragem de assumir essa realidade e trabalharmos a partir dela.

Sem entrar no mérito de qualquer polêmica a respeito da liberação ou não das drogas, convido os leitores a uma reflexão. A natureza do discurso que adotamos ao definirmos nossas políticas na área de drogas define a ideologia de nossas ações e constrói contextos de viabilização ou de impedimento das mudanças a serem implementadas na sociedade, visando ao enfrentamento necessário das tantas problemáticas geradas pelo fenômeno das drogas.

Precisamos adotar discursos que construam contextos e permitam-nos assumir nossa função de agentes de segurança e de mudança. Imaginemos um pai de família que esteja tentando conversar com seu filho para orientá-lo sobre os riscos do consumo de drogas. Se ele parte do pressuposto de que o garoto jamais vai cometer esse crime contra si e contra sua família, tão dedicada e amorosa com ele, quais as chances de obter a aproximação com o filho?

Adotando o discurso do medo, nos abatemos e entramos num ciclo de impotência que gera inércia e nos impede de qualquer solução ou, ainda pior, de qualquer reação.

Penso que esse pai perdeu seu filho para a vida e não para as drogas. As pessoas precisam se dar conta de que as drogas não possuem cabeça e nem pernas, nem boca e nem coração! Não podemos atribuir apenas a esse produto químico (cocaína e seus derivados), um fenômeno que é construído por todos nós. Não podemos pensar somente na oferta, sem considerarmos a demanda; não podemos dar vida a um produto que, apesar de sua forte propriedade psicoativa, ele em si mesmo, é inerte. Existem tantas dimensões implicadas que qualquer reducionismo torna-se pernicioso e perigoso.

Este é o nosso grande desafio: como vislumbrar as tantas faces da questão, sem nos deixarmos abater por sua complexidade?

A Secretaria Nacional Antidrogas, está desenvolvendo uma campanha com outro discurso: diga SIM à vida! É uma prova de que as políticas de seguranças públicas na área de prevenção já avançam para um discurso que vitaliza e não que paralisa.

Se, por um lado, é impossível vivermos ou oferecermos aos nossos filhos uma sociedade sem drogas, está em nosso pleno alcance a possibilidade e a decisão de construirmos uma sociedade mais preparada para o enfrentamento dos problemas gerados pelo crescente uso indevido de drogas. Mas, como? É fácil, podemos começar agora! Cada um de nós pode contribuir para evitar os fatores de risco que geram o consumo e os fatores sociais e econômicos que implementam a oferta.

Devemos enxergar quem é o verdadeiro inimigo a combater. Sejam eles a miséria que obriga jovens e crianças a se tornarem pequenos traficantes; o abandono afetivo que deixa espaço para o apego às drogas; o consumismo que reconhece como sujeito apenas aquele que compra o último produto do mercado; a desumanização do ser humano que precisa se refugiar nas drogas para sentir alguma emoção; o individualismo que remete o jovem ao grupo de consumo de drogas na ilusão de viver uma coletividade.

Em vez de lutarmos contra as drogas, lutemos contra os tantos fatores que permitem sua oferta quase sem controle e sua demanda quase sem alternativas...

A Campanha Nacional Antidrogas do ano passado teve como lema o polêmico: Gente depende de gente e juntos temos mais força! É disso que precisamos. De gente que tenha a coragem de assumir que é nas relações que nos construímos como seres humanos. Só um discurso de humanização poderá salvar a humanidade. Mas não se trata de salvá-la do sacrilégio das drogas. Trata-se de assumir nosso lado humano em todos os sentidos para resgatarmos a nossa própria humanidade. Quem se sente gente, pouco precisa de drogas. Já dizia Sartre: o que importa não é o que fizeram com o homem; mas o que ele faz com o que fizeram com ele.

Discuta sobre isso com seu filho, com seu aluno, com seu cliente, com seu esposo ou esposa, com seu médico, com seu amigo, com seu namorado, com seu empregado. Avancemos no enfrentamento dessa questão que é cada vez mais nossa porque, como nos ensina a campanha da SENAD, Juntos temos mais força, pois toda a ação tem uma reação e a hora e de agirmos!

(*)Brenno da Silva Medeiros - Investigador de Polícia lotado na DEFURV

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