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Economia: Feliz 2012?

Por Renato Coelho Baumann das Neves (*) | 23/01/2011 07:00

O ano de 2011 ainda não completou seu primeiro mês de vida. Especular sobre os resultados finais é, portanto, pouco mais que isso – especulação a partir das informações disponíveis até aqui. Seguem algumas sobre como será o ano de 2011, no cenário econômico internacional. Todo ano começa com as "heranças" do ano anterior. Em 2011 essa lista compreende:

01. Baixo crescimento nas principais economias (EUA, UE, Japão), apenas parcialmente compensado pelo desempenho das economias asiáticas

02. Baixas taxas de juros nas principais economias, assim mantidas como ferramenta para estimular os bancos a emprestarem mais e promover a reativação do ritmo de atividade econômica

03. Indicações de desequilíbrio fiscal, sobretudo em algumas economias europeias

04. Pressão sobre os preços de alimentos, minérios e produtos energéticos (em janeiro deste ano, o índice de preços de alimentos da FAO ultrapassou o pico de meados de 2008, quando isso já havia motivado manifestações de preocupação por parte de diversos países, em particular as economias menores, importadoras líquidas de alimentos), seja pela pressão de demanda por parte das economias asiáticas, seja por razões essencialmente financeiras, de especulação com esses produtos em face das baixas taxas de juros

05. O temor de inflação tem motivado algumas economias a adotarem medidas de resfriamento do ritmo de atividade. Com isso, existe o temor de menor contribuição à demanda agregada

06. Criação de mecanismos de provisão de liquidez de divisas ao nível regional e proliferação de fundos soberanos, determinando um cenário novo no ambiente financeiro internacional

07. Maciça injeção de dólares no mercado internacional, inclusive por ação deliberada por parte do governo norte-americano (US$1.7 trilhão em 2009, US$ 600 bilhões em 2011), comprometendo o valor da moeda. Isso tem motivado ações isoladas de parte de alguns governos para evitar a perda de competitividade de seus produtos, mas ao mesmo tempo suscita dúvidas quanto à composição de reservas dos países

As evidências de recuperação da economia norte-americana ainda não são claras, o que faz prever um reaquecimento lento. Talvez apenas no segundo semestre seja possível obter alguma sinalização mais definida. Isso significa que a esperada elevação das taxas de juros dos títulos do governo norte-americano, que poderia contribuir para reduzir o excesso de liquidez em dólares e diminuir a pressão negativa sobre a competitividade das exportações de diversos países, só deverá ocorrer a médio prazo.

A situação fiscal de algumas economias europeias tem suscitado temor de impacto desproporcional. A recente colocação de títulos soberanos por parte de Portugal, Espanha e Itália relativiza esses temores, mas ainda não tira essas economias do radar dos observadores.

A consolidação da alta nos preços dos alimentos e produtos energéticos poderá levar à adoção de medidas de redução do ritmo de atividade, com consequências nefastas sobre as exportações de diversos países. A ocorrência de desastres naturais aparentemente associados às mudanças climáticas, como recentemente observado na Austrália, pode comprometer ainda mais os preços de produtos primários.

Os desafios são, portanto, expressivos. Quais as possibilidades de reversão desse quadro adverso?

Primeiro, a aposta de que a política monetária pró-ativa do governo americano dê resultados positivos, dadas as limitadas margens políticas para uma alternativa fiscal.

Segundo, a aposta de que o risco na Europa seja reduzido a um nível baixo, e que os recursos da UE mostrem-se suficientes para afastar movimentos desestabilizadores.

Terceiro, a aposta de que as medidas anti-inflacionárias deem claros resultados a curto prazo, sem demandar ajustes excessivos no ritmo de atividade.

Quarto, que o ajuste nos mercados internacionais de commodities possa ocorrer sem que seja necessária a adoção de regulamentações protecionistas, como tem sido aventado por alguns governos de países industrializados.

Quinto, que a médio prazo a convivência entre fundos regionais e instituições multilaterais não comprometa a arquitetura financeira internacional. Do mesmo modo, que as principais economias adotem medidas com relação às questões climáticas em intensidade e com grau de comprometimento bem mais sério do que o observado até agora.

O ano de 2011 promete, portanto, algumas emoções no noticiário econômico. Se somarmos a elas os esforços para definir com maior clareza as atribuições do G-20 como principal foro negociador, temos igualmente um expressivo componente político envolvido. O que se espera é não ter de esperar o ano seguinte para comemorar alguns resultados positivos.

(*) Renato Coelho Baumann das Neves é professor do Departamento de Economia, da Universidade de Brasília. Possui graduação e mestrado em Economia pela Universidade de Brasília e doutorado em Economia pela University of Oxford.

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