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Entre a urtiga e a ‘Bola 7’

Por Helder Caldeira* | 12/11/2011 08:05

A presidente Dilma Rousseff não consegue criar uma agenda positiva para seu governo. Às vésperas de completar seu primeiro aniversário no topo do poder, sua gestão não anda e as páginas políticas (e policiais) da imprensa seguem cada dia mais recheadas com denúncias escabrosas de corrupção, desvios, roubos e péssima utilização do dinheiro público; os órgãos oficiais de fiscalização e controle seguem incapazes de cumprir suas atribuições constitucionais; e a politicagem deixou de ser uma exceção e passou a ser regra. Dilma é presidente de um Brasil politicamente nauseabundo.

O jornalista Carlos Brickmann disse com absoluta propriedade: “Na raiz de tudo, há uma distorção: boa parte dos políticos desistiu de fazer política”. Por mais simples e óbvias que essas palavras possam parecer aos brasileiros de mente sã, elas refletem uma verdade que há muito deixou de ser apenas inconveniente. É uma tragédia para o ambiente democrático do Brasil. E que ninguém caia na armadilha de apontar o dedo da culpabilidade para o estilo duvidoso de governar do ex-presidente Lula e de seus “companheiros”. O vício da venda de apoios e da chantagem política ganhou muita força no período logo após o processo de redemocratização na década de 1980.

Para manter o poder após a morte de Tancredo Neves e com uma economia em frangalhos, José Sarney adubou todas as deformidades que essa espécie de “Presidencialismo de Coalisão” podem fazer brotar. Exatamente por isso, seu sucessor Fernando Collor de Mello foi defenestrado do cargo em 1992. Collor não sofreu o impeachment por conta dos escândalos de corrupção, dos jardins babilônicos da Casa da Dinda ou do famigerado Fiat Elba. Essas barbaridades foram só pretexto. A queda de Collor deu-se pela perda total de apoios ao mergulhar em vespeiros indômitos da economia brasileira e por tentar brigar com as raízes do “Presidencialismo de Coalisão” adubados por Sarney. Na esteira, Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva só regaram “com carinho” essa urtiga política.

Aparentemente, o histórico perfil gerencial de Dilma Rousseff apontava para a possibilidade de rompimento com esse “estilo” de gestão e para a construção de um ambiente político mais sólido, sedimentado em critérios técnicos e nas reais e urgentes necessidades de um Brasil que está deixando de ser o eterno país do futuro para figurar entre as potências em franca ascensão. Mas a presidente cedeu à “urtiga” ainda na construção de seu corpo ministerial, durante o período de transição entre sua eleição e posse. A ampla aliança construída por seu padrinho Lula precisava ser acarinhada. Por questões de mero populismo pedestre, ensaiou-se o discurso de uma “faxina”, que não rolou, nem colou. O resultado é esse que estamos vendo: Dilma não consegue criar uma agenda positiva para seu governo e sucessivos escândalos de corrupção seguem derrubando um ministro (e suas patotas) por mês.

Carlos Lupi é sim o próximo da fila. Vai cair antes do final de novembro. É a bola da vez. A “Bola 7”, como ele se autoproclamou em entrevista coletiva após a tacada de denúncias da imprensa. O (ainda) ministro do Trabalho e Emprego, em visível desaforo e desafio à Dilma Rousseff, afirmou que ser essa “Bola 7” é ser a “bola da vitória” e foi categórico ao afirmar que a presidente não o demitiria e que ele só seria abatido “à bala... e bala forte, porque ele é pesadão”. Lupi, como presidente licenciado do PDT, é apenas mais um dessa classe política carcomida que se vale da dinâmica da “porteira fechada” que floresceu no caule podre do “Presidencialismo de Coalisão”. O que o ministro esqueceu é que, por temperamento, a presidente Dilma reage mal quando é desafiada, quiçá em desaforo. Vai cair, é fato. Já está cumprindo a liturgia dilmista da queda.

No entanto, se o despencar do ministro Carlos Lupi representasse alguma possibilidade de mudança na forma de administrar e fazer política, talvez fosse possível mensurar o valor e a dimensão do fato em termos de expectativas para o Brasil. Mas as seis bolas já encaçapadas e o que aconteceu posteriormente em seus respectivos ministérios foi apenas uma chancela para a percepção de que a presidente Dilma Rousseff está enfraquecida, refém de mimos, agrados e cumplicidade (mesmo que à bandalheira e à ladroagem institucionalizadas) com sua base aliada. Não por acaso, ela será a grande estrela da propaganda partidária do PMDB, em cadeia de rádio e televisão, no próximo dia 24 de novembro, dois dias depois do “partidão” coordenar o apoio finalístico à prorrogação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) no Congresso Nacional e garantir a livre gastança de bilhões de reais, num total de 20% do Orçamento da União.

Não há a menor dúvida de que, se a presidente Dilma Rousseff decidir enfrentar de peito aberto essas distorções do “Presidencialismo de Coalisão”, acabar com essa lorota de ministérios com porteira fechada para partidos, fomentar uma reforma política séria e patrocinar algemas e grades para os corruptos nacionais, terá apoio total, imediato e irrestrito da população brasileira. Colocaria seu nome, em definitivo, na história. Mas a presidente está fraca, presa a néscios e chantagistas palacianos. Lamentavelmente, na ciência política brasileira, Dilma Rousseff não está conseguindo dar passos efetivos, limita-se a ficar “insatisfeita” com os “malfeitos” (neologismo dilmista para a corrupção) e permanece contemplando a sinuca de bico entre a “urtiga” e a “Bola 7”. Isso é humilhante.

(*) Helder Caldeira é escritor, jornalista político, palestrante e conferencista

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