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Estratégias de acasalamento em gado de corte

Por Alessandra Corallo Nicacio (*) | 04/09/2015 09:45

O manejo reprodutivo é um fator diretamente relacionado com a produtividade da pecuária. Pensando mais especificamente em bovinocultura de corte, a produção de bezerros pode ser o gargalo da atividade, pois tanto o baixo número bezerros nascidos por estação quanto o nascimento de bezerros fracos ou de baixo peso comprometem todo o processo de produção de carne que vem a seguir.

Como primeira estratégia de manejo reprodutivo recomenda-se o uso de estação de monta. Dessa forma, o período de acasalamentos fica concentrado em determinado período do ano, assim como os manejos subsequentes como partos, vacinações, vermifugações, entrada de lotes em confinamento, venda e aquisição de animais, e assim por diante. Com a concentração de atividades em determinados períodos, o gerenciamento da propriedade também fica facilitado, assim como o controle zootécnico. A partir do momento que existe controle zootécnico estabelecido é possível saber quais animais são mais ou menos produtivos, quais os principais índices produtivos do rebanho (como, por exemplo, intervalo entre partos, índices de prenhez, natalidade, mortalidade, ganho de peso, entre outros), programar melhor descartes e reposição de animais.

Uma vez compreendida a importância da adoção de estação de monta, passa a ser necessário programar as atividades. E entre as atividades a serem programadas tem vital importância a estratégia de acasalamentos que será adotada. Entre as estratégias, podemos citar a adoção de monta natural (MN), o uso de inseminação artificial com observação de cio (IA), o uso de inseminação artificial em tempo fixo (IATF) ou mesmo outras biotecnologias reprodutivas como transferência de embriões (TE) ou produção in vitro de embriões (PIV). Todas essas opções têm vantagens e desvantagens, necessidades de infraestrutura diferenciada, além de custos diferentes. Porém, não existe uma estratégia melhor, existe a estratégia mais adequada para cada propriedade. E não existe obrigação de utilização de apenas uma ou outra na mesma propriedade. O ideal, na verdade, é conhecer a propriedade e programar o uso de uma ou mais estratégias, conforme as condições disponíveis.

Começando pela estratégia mais utilizada no Brasil, vamos discutir um pouco sobre a monta natural (MN). A grande maioria do rebanho de corte nacional faz uso da MN como principal estratégia, com índices em torno de 85 a 90% dos animais passando por esse procedimento. Sua extensa utilização está relacionada com o fato de ser a estratégia mais simples, de menor custo e de maior tradição. O produtor precisa apenas ter reprodutores em boas condições reprodutivas, matrizes para serem acasaladas e piquetes ou pastos formados - independente do tamanho e da localização - com disponibilidade de forrageira e água. As recomendações e cuidados dizem respeito à realização de exame andrológico antes do início do período de acasalamentos para ter certeza que o reprodutor que permaneceu em repouso por alguns meses não sofreu nenhum acidente ou comprometimento de sua função reprodutiva. É a estratégia que requer menor investimento e infraestrutura e isso justifica sua extensa utilização.

A seguir temos a inseminação artificial, a qual pode ser realizada com observação de cio (IA) ou em tempo fixo (IATF). Estima-se que pouco mais de 10% do rebanho brasileiro passe por algum procedimento de IA. Ambas as estratégias requerem certa infraestrutura e investimento, de modo que sua utilização deve ser bem planejada. A IA requer investimentos com infraestrutura para curral de manejo, compra de material para realização dos procedimentos como aplicadores de sêmen, as doses de sêmen, botijão para armazenamento de sêmen, e a capacitação de pessoal para realizar os procedimentos. Deve-se considerar que a necessidade de observação de cio é o principal entrave, pois desta tarefa depende todo o resultado do trabalho seguinte.

Lembrando que a observação de cio deve ser feita duas vezes ao dia, por período mínimo de 40 minutos para cada observação, todos os dias da semana, nos períodos mais frescos do dia, isto é início da manhã e final da tarde. Para tanto, os animais devem ser reunidos em parte do pasto e os funcionários devem permanecer observando o comportamento dos animais, a fim de identificar quais fêmeas aceitaram monta. Animais identificados em cio devem ser inseminados 12 horas depois.

Já, a IATF requer, além de toda a estrutura e mão de obra já citadas, investimento com a compra dos protocolos de sincronização de cio e ovulação, o que permite a inseminação em dia e hora determinado, sem necessidade de observação de cio. Sua principal vantagem: eliminar a necessidade de observação de cio, diminuindo o risco com falhas de observação. Além disso, é possível concentrar as concepções no início da estação de monta, fator importante para melhorar a produtividade. Seu entrave passa a ser a necessidade de aumento de manejos para aplicação de hormônios, dependendo do protocolo escolhido. Porém, quando bem conduzidos, esses manejos não são um grande problema.

Outras biotecnologias ainda podem ser utilizadas, como a TE e a PIV, porém, são estratégias que devem ser acompanhadas de programa de seleção e melhoramento mais elaborado, com definições de objetivos e acasalamentos bem direcionados. São estratégias que envolvem grande adoção de tecnologia, com custos mais elevados, sendo recomendadas para animais de melhor desempenho e maior potencial genético.

O mais importante quando se define a estratégia de acasalamento a ser utilizada é ter consciência de que quanto mais elevado o nível tecnológico a ser adotado, melhor devem ser os animais tanto em desempenho quanto em potencial genético. Além disso, deve ser priorizado o inicio da estação para utilização da tecnologia mais avançada, sendo as estratégias de menor grau tecnológico utilizadas mais no final da estação, portanto, com animais que já tiveram mais chances de acasalamento e/ou de menor fertilidade. Resumindo, a IATF deve ser utilizada no início da estação de monta, com o repasse podendo ser feito com novo protocolo de IATF, IA ou mesmo com MN. Além disso, a estratégia não precisa ser a mesma para todos os animais, podem ser apartados lotes de animais que passarão por determinada estratégia e outros lotes com outra estratégia. Sempre priorizando a ferramenta mais tecnológica e de maior custo para os melhores animais.

(*) Alessandra Corallo Nicacio, pesquisadora de Reprodução Animal da Embrapa Gado de Corte

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