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Eu tenho dinheiro, isto vai dar em nada!

Por Jeovah de Moura Nunes (*) | 23/04/2011 11:22

Esta é a frase tradicional dos jovens ricos quando cometem escabrosos erros. Na maioria dos casos apenas pensam e nada dizem. Mas, nem todos têm a mesma característica e assim aconteceu de alguém falar o que sente, registrado em B.O. policial. Pelo menos foi sincero porque a sinceridade dos ricos não existe publicamente.

Quando um rico fala dá a impressão de ser um político falando. Talvez, motivado pelo choque emocional do acontecimento e ainda por cima ser um rico jovem, quebrando as regras milenares dos ricos em silenciar, porque sabem eles que o silêncio é “ouro” e falar jamais foi prata como quer o jargão popular.

Tal ocorrência foi na madrugada do dia 9 de julho, a data magna dos paulistas, os únicos no Brasil que tiveram a coragem de se revoltar contra os abusos de Getúlio Vargas em 1932. Um indivíduo abalroa, atropela quatro pessoas, mata duas e deixa uma terceira em estado grave e a quarta com ferimentos leves.

Mil e duzentos reais comprou a liberdade imediata do responsável pela vida de praticamente três pessoas, já que duas morreram e uma está entre a vida e a morte. Este é o valor do brasileiro vítima dos ricos, porque se fosse um pobre com seu carro tipo “lobisomem” estaria preso até o julgamento. Claro, o policial obedece a lei e a fiança é regulamentada pela lei. De repente o povão entende como se fosse uma “negociata”.

Consta no noticiário que o responsável pela tragédia negou-se a fornecer sangue para realização de exames laboratoriais. Certo, ninguém que se preze colaboraria para acusar a si próprio. Mas, fica a dúvida de que este ato também denuncia o indivíduo de estar realmente alcoolizado.

Nossas leis, incrivelmente cegas, não percebem que numa recusa em ceder sangue para análise, ou mesmo não fazer o teste do bafômetro é a prova cabal de que o indivíduo está alcoolizado. Caso contrário, se realmente não estivesse alcoolizado o indivíduo aceitaria com prazer a doação de sangue, ou o teste do bafômetro. Neste caso seria realmente um acidente e não causado por outro crime que é dirigir alcoolizado, ou atualmente drogado.

Os políticos e os ricos brasileiros são os “bons” em soltarem frases de efeito. Falam grosso quando estão por cima. Porém, quando entram numa fria falam fininho, mostram que sua fala não é pela boca e sim pelo dinheiro. Nos anos sessenta os réus em julgamento transformaram Auschwitz num idílio. Foram tal e qual o SS Pery Broad, único brasileiro filho de rico nazista em Auschwitz. Ele chicoteava judeus, arrancava as roupas de mulheres judias e as levava aos gritos e pontapés para o gaseamento. A função violenta casava-se com o machismo muito próprio do brasileiro.

Interrogado pelo juiz no tribunal de Frankfurt em 1965 o brasileiro disse que “as execuções eram legais desde que baseadas em sentenças proferidas em “julgamento sumário”. Durante todo o processo negou todas as acusações e acabou absolvido. Qual foi o segredo de Broad para ser absolvido? Com certeza soltou muito ouro roubado dos judeus. Também é assim no Brasil: nega-se tudo e se possuir dinheiro fica muito mais fácil. Tal situação não mudará porque os “lobbys” e os corporativismos querem o continuísmo da impunidade, já que os milionários, os endinheirados bem como os profissionais da bandidagem são os que apreciam burlar e desafiar a lei.

A punição só existe para os pobres, ou os rejeitados socialmente falando. No Brasil ninguém nunca ouviu falar que um rico foi preso e durante os dias na cadeia quase morreu de tanto apanhar. Com o pobre isto é foi comum desde o descobrimento, passando pelo caso dos irmãos Naves e a ditadura quando era uma eterna orgia de noite e de dia de gente apanhando de borracha, pauladas e sendo queimados por choques de até 220 volts.

Um verdadeiro Auschwitz brasileiro. Saponga, um bandido dos anos setenta, morreu na cadeia queimado que foi com máquina de solda. Naquela época não se falava em direitos humanos e sim em “Brasil, ame-o ou vá pra Punta del Leste!”. Não fui porque não tinha dinheiro. Não se pode amar um país ditatorial com carrascos federais em cada esquina. Possuir dinheiro sempre vai dar em nada porque todos nós morremos.

Não nos esqueçamos de que “não vai dar em nada” significa obviamente que vai dar em alguma coisa sim, senhor! Este “NÃO” muda totalmente o pensamento. Ele, o responsável pelo acidente disse o contrário do que pretendia dizer, ao querer aparecer como um rico, quando são eles, os rico, os responsáveis pelas piores tragédias brasileiras no que concerne a espoliação dos pobres com as benevolências dos governos federal, estadual e municipal, quase todos procedentes da riqueza. Nós, os pobres, somos os judeus enquanto a nata social e os governos têm a cara e a semelhança dos fascistas. Em terras brasilianas: fascistas tupiniquins.

(*) Jeovah de Moura Nunes é escritor e jornalista.

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