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Fatos históricos no Forte de Coimbra

Por Heitor Freire (*) | 18/12/2013 08:50

O Forte de Coimbra, localizado à margem direita do Rio Paraguai, no estreito de São Francisco Xavier, é um braço avançado do Exército Brasileiro, e foi fundado em 13 de setembro de 1775, pelo capitão Mathias Ribeiro da Costa, para ampliar o território português em direção ao oeste. Em 1797 foi destacado para o comando do Forte o tenente coronel Ricardo Franco de Almeida Serra, com a missão de reconstruir a fortificação agora em alvenaria e pedra.

O primeiro fato histórico ocorrido no Forte se deu em 1801 quando D. Lázaro de Ribera, espanhol, governador de Assunção, decidiu atacar o Forte de Coimbra, com uma força composta por 800 homens distribuídos em quatro escunas e duas canoas. O Forte, por sua vez, dispunha de uma guarnição de apenas 109 homens.

Quando a expedição espanhola se encontrava em Concepción, conta-se que um índio guaicuru chamado Nixinica, amigo dos portugueses, percebeu a intenção dos espanhóis. Ele então seguiu de barco, sozinho, remando 500 quilômetros rio acima, de Concepción até o Forte de Coimbra, quase sem comer e sem dormir, com o propósito de avisar ao coronel Ricardo Franco do perigo que corria. Permitiu, assim, que a resistência fosse preparada e, apesar da enorme diferença de contingente, isso resultou na derrota da força espanhola depois de 10 dias de cerco.

Mutatis mutandi, esse ato de heroísmo de Nixinica eu comparo com o feito também heróico do soldado ateniense Feidípedes, que, segundo consta, correu do campo de batalha de Maratona até atenas, por 42,195 quilômetros para avisar a população da cidade que os persas tinham perdido a guerra para os atenienses.

Esse aviso foi importante porque os gregos quando se dispuseram a combater os persas, deixaram em Atenas, as mulheres e crianças com a determinação de que caso perdessem a guerra, as mulheres deveriam matar todas as crianças e suicidar-se, para não caírem nas mãos dos soldados persas.

Em memória desse ato de heroísmo de Feidípedes, foi depois instituída a corrida olímpica com o percurso igual ao percorrido por este bravo soldado que, ao chegar à cidade, logo depois de dar a notícia, caiu morto. Precisamos criar um evento que perpetue o feito de Nixinica.

Outro fato histórico de grande importância aconteceu quando, no início da guerra da Tríplice Aliança, o Forte de Coimbra foi atacado por uma tropa sob o comando do coronel paraguaio Vicente Barrios, com 3.200 homens em dez embarcações de guerra equipadas com canhões, em 27 de dezembro de 1864. O Forte nessa ocasião estava recebendo a visita de inspeção do coronel Hermenegildo Portocarrero, que assumiu o comando dos 149 homens existentes na guarnição e organizou a defesa da posição.

Antes do início do ataque, o comandante brasileiro recebeu um ultimato à rendição e respondeu, categoricamente: “Somente pela sorte ou pela honra das armas o Forte será entregue”. O coronel Portocarrero estava com a família; consta que sua mulher, Ludovina, destacou-se de forma impressionante, liderando as mulheres do Forte no auxílio aos defensores, municiando suas armas para que pudessem resistir.

No momento mais angustiante, Ludovina decide, num lance de grande audácia e profunda religiosidade, colocar a faixa de comandante do Forte na imagem de Nossa Senhora do Carmo, padroeira do Forte, e erguendo a estátua acima do Forte, anunciou que o comando passava a ser de Nossa Senhora. Os paraguaios, também profundamente religiosos, quando viram a imagem da Santa, proclamaram: “És Nuestra Señora Del Cármen” e recuaram.

Essa atitude permitiu que o comandante brasileiro, sem recursos para resistir e sem reforços, evacuasse o Forte sem sacrifício de vidas humanas, pois não havia mais munição para os mosquetes e canhões, e que se constituiu na mais honrosa vitória.

(*) Heitor Freire é vice-presidente do IHGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul).

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