ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 32º

Artigos

Fumaça urbana é mais nociva que a rural

Por Laerte Tetila (*) | 22/08/2012 15:30

Nem é preciso, nessa época de estiagem, imagens de satélites para se detectar queimadas urbanas e periurbanas. Pois focos de queimadas ressurgem por todas as cidades e em todos os seus quadrantes, e de forma impressionante. Uma quantidade impressionante de terrenos baldios, tomados pela macega seca, são tragados pelas labaredas, gerando um impacto ambiental dos mais graves.

Conforme a Organização Mundial de Saúde, no mundo todo morrem até 3,5 milhões de pessoas, anualmente, intoxicadas pela fumaça oriunda da queima da vegetação. Ocorre que, nessa época do ano, os focos de queimadas urbanas acabam liberando toneladas de gases tóxicos (leia- se fumaça), que acabam em suspensão.

Com isso, o ar frio, e, mais denso, pressionando para baixo, só faz dificultar a dissipação desses gases, que, de visíveis (no ato da queima), tornam-se invisíveis (na forma de milhões de partículas tóxicas), formando uma camada quase homogênea na chamada baixa troposfera. E é esse ar que acaba sendo inalado por todos nós, indistintamente.

E nos momentos críticos, em que o monóxido de carbono mais concorre com o oxigênio, em que a quantidade de partículas inaladas ultrapassa a capacidade de defesa dos pulmões e das vias superiores, é que mais agrava a situação. Crianças, idosos e pessoas com saúde fragilizadas acabam sendo as principais vítimas.

A fumaça das queimadas é algo sério. Em nosso Estado, seguramente, milhares de pessoas das 78 cidades já iniciaram a tradicional corrida às unidades de saúde em busca de atendimento médico. Alergia, sinusite, gripe, bronquite, embolia, asma, pneumonia, enfisema, estresse e hipertensão são patologias agravadas pela fumaça.

E mais: a química da fumaça aspirada, que vai para a corrente sanguínea, se transforma em mais um problema para pacientes cardíacos. Segundo estudos, mais de 70 produtos químicos já foram identificados na fumaça resultante da queima em terrenos baldios. Constatou-se, também, que a fumaça urbana é mais nociva do que a rural, pois, em meio à vegetação urbana queima-se pneus, plásticos e tudo o mais, elevando a toxidez do ar.

Mas, a despeito dos problemas da fumaça para a saúde humana, as queimadas urbanas também desencantam. Elas simplesmente desfiguram a beleza estética nas cidades. E no pós-queimada a cinza, a fuligem e o carvão compõem cenários nada animadores. Parece voz corrente que a causa dessas doenças, comuns nesse período, estaria no ar seco, na estiagem prolongada, enfim, na natureza.

Mas a verdadeira causa não estaria na ignorância, na ação criminosa dos que incendeiam quintais e vazios urbanos e fazem a fumaça levantar? Não seriam os vândalos sazonais, ou essas pessoas mal informadas que espalham as doenças, os óbitos, o desencanto urbano e obrigam o poder público a gastar milhões a mais com tratamentos e internações?

Pior é que, os que se dão a essa prática, ainda acabam imitados pelas crianças! Lendo sobre o assunto deparei-me com a seguinte opinião: a sociedade deveria encarar o combate às queimadas urbanas como uma medida profilática.

Achei ótima a idéia, pois as cidades carecem de intensificar medidas contra essa doença, essa síndrome chamada queimada. Vejo como positivas as possibilidades das sociedades urbanas se organizarem, cada vez mais, em seus vários segmentos, para apontar caminhos que levem a um efetivo controle social desse grave problema.

Um controle que leve em conta as campanhas ambientais, a educação ambiental, as leis ambientais e tudo quanto fosse possível para debelar essa chaga, esse mal, já que tudo leva a crer que a verdadeira sustentabilidade principia com a qualidade do ar que respiramos.

(*) Laerte Tetila é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT-MS).

Nos siga no Google Notícias