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Histórias de uma equipe de vendas em Campo Grande

Por Heitor Freire (*) | 02/10/2011 09:17

Campo Grande, 1972 – na época, ainda uma cidade provinciana que começava a se estruturar para o grande salto. O prefeito era Antônio Mendes Canale em fim de mandato, e que decidiu comemorar no dia 26 de agosto daquele ano – data da fundação de Campo Grande – o centenário da chegada de José Antônio Pereira, por estas plagas.

Na sua administração também foi demolido o relógio central, localizado na confluência da avenida Afonso Pena com a rua 14 de Julho, que era o cartão postal da nossa cidade e cuja demolição foi objeto de muita reclamação, pois a nossa população se identificava e muito com aquele símbolo. Ali era o local das grandes concentrações, dos comícios, das manifestações populares. De repente parece que ficamos um tanto no ar, esquisito, foi tirado algo que ficou faltando no espaço.

Naquele ano, foi eleito prefeito Levy Dias, cuja administração foi o grande e verdadeiro impulso de progresso para a nossa cidade: canalizou o córrego da rua Maracajú (hoje, pouca gente sabe que no meio dessa rua, corre subterraneamente o córrego Reveillau), resolvendo um problema crônico de enchentes. Criou também o mini-anel que estabeleceu novos limites ampliando e valorizando de forma muito significativa o nosso perímetro central; criou também um programa revolucionário na educação, o Projeto Salve (saúde, alimentação, vestuário).

Trabalhávamos nessa época com a venda de contratos de investimento mensal na compra de ações. Eu era gerente de vendas do fundo de investimentos do Banco Finasa, e o escritório se situava na rua Barão do Rio Branco, um pouco acima do Bar do Zé – onde depois de instalaria o Kings Barber do meu amigo Sebastião Moreira.

A minha equipe era constituída por homens sérios, dedicados, competentes, compenetrados no trabalho, principalmente o nosso: aplicação de dinheiro no mercado de ações que exige, além do conhecimento específico da atividade, uma credibilidade acima de qualquer suspeita.

É interessante o fato que vou relatar: homens com as características acima, quando juntos, de repente viram moleques, gozadores e neste episódio, criaram uma situação jocosa que quase vira tragédia.

Durante a campanha eleitoral daquele ano, eram candidatos a prefeito, o professor Hercules Maymone e o deputado Levy Dias.

Pois bem: o professor Maymone tinha uma senhora muito ativa e dedicada como cabo eleitoral, dona Eliete, que tinha um fusquinha vermelho onde colocou um alto falante com uma faixa: “É como diz a Eliete, o Maymone é gente como a gente”.

Um fim de tarde, quando estávamos conversando na calçada, dona Eliete estacionou o seu carro, para dirigir-se ao Bar do Zé, quando foi interpelada por esse grupo de homens simpatizantes da candidatura de Levy Dias – corretores de vendas do nosso fundo de investimentos – todos casados, homens sérios, e que decidiram ironizar o seu slogan, dizendo com voz afetada e com trejeitos, balançando os quadris com as mãos na cintura: “É como a Eliete diz, o Maymone é gente como a gente”.

Ao sentir-se interpelada e agredida, dona Eliete virou-se para eles ajeitou a calça na cintura e partiu avançando firme em direção aos gozadores, que não esperavam essa reação. Ao verem-se assim confrontados, sem ter como enfrentá-la, correram para dentro do escritório, trancando-se todos no minúsculo banheiro – cinco homens ali apertados – e eu que tudo assistia, ali permaneci.

Quando ela chegou até onde eu estava, perguntou; “Cadê aqueles caras?”. E eu lhe respondi: “Correram”. Ela ainda ficou um pouco por ali, bufando de raiva. Depois se retirou. Passados mais alguns momentos, aos poucos os gozadores foram saindo do banheiro com cara de medo, perguntando: “Ela já foi?” Ante minha resposta positiva, saíram de fininho, cada um pegando o seu carro e sumindo rapidamente.

Aforante esse episódio grotesco, o nosso pessoal de vendas sempre foi muito ativo. Para se ter uma idéia quando do lançamento do prédio 26 de Agosto – edificado no local onde foi construída a primeira casa de Campo Grande – realizado no mês de dezembro de 1973, edifício de escritórios, teve 70% vendido antes do fim do ano.

Muitas outras histórias enriquecerão este espaço.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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