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Homenagens particulares infestam ruas

Por Gerson Luiz Martins (*) | 14/09/2013 08:43

Nos últimos anos uma tendência para renomear vias públicas da cidade tomou conta dos legisladores. Ruas ou avenidas com denominações tradicionais, conhecidas de um dia para outro mudaram de nome para homenagear pessoas que não têm reconhecimento público. Quando se trata de conjuntos habitacionais novos, há um verdadeiro festival de nomes completamente desconhecidos. Assim, por exemplo, trocar o nome do antigo corredor ferroviário urbano, hoje uma avenida expressa, de avenida Noroeste para Fábio Zahran, no mínimo, provoca controvérsias, mesmo que essa mudança tenha sido realizada há mais de cinco anos.

O nome Noroeste, há de se concordar, faz uma justa homenagem à empresa ferroviária, estatal, que ajudou a promover o desenvolvimento da região sul de Mato Grosso e, por muitos anos, foi o principal meio de transporte de passageiros e cargas entre Campo Grande e o interior, e entre Campo Grande e o estado de São Paulo. Quem, dos autênticos sul-mato-grossenses, não tem uma história para contar de viagens de familiares pela antiga Estrada de Ferro Noroeste do Brasil? Seja no trecho entre Campo Grande e Ponta Porã, ou Três Lagoas ou Corumbá! E que contribuição pública realizou o homenageado que hoje figura nas placas indicativas da avenida? Ou se trata de uma homenagem particular?

De outro lado, nos últimos anos, se implementou uma tendência em renomear ruas e avenidas cujos nomes lembram personagens ou fatos do governo militar. Em algumas situações se considera apropriada esta mudança, desde que seja para homenagem a um personagem histórico de relevante contribuição pública. Assim, ruas com nomes como Castelo Branco, Emílio Médici, Costa e Silva, entre outros, têm seus nomes trocados por algum personagem ou fato em inúmeras cidades do país. Em Minas Gerais, o deputado Paulo Lamac do PT apresentou projeto de Lei que altera os nomes das vias públicas que homenageiam pessoas acusadas de torturas e assassinatos durante o regime militar. Ainda, pelo que se conhece, não há registro desse procedimento em Campo Grande. Aqui o que chama a atenção, principalmente de visitantes, turistas é o nome da principal via do comércio, 14 de julho, que faz homenagem à data da Revolução Francesa!

Se houver algum questionamento aos frequentes projetos de renomeação das vias públicas locais, uma das principais atividades dos vereadores, sempre se justificará, por inúmeras razões, que aquele personagem merece a homenagem proposta, mesmo que esse nome seja de algum vínculo familiar do edil que apresentou o projeto.

O hábito de batizar ruas, avenidas, prédios e espaços públicos com nomes de personagens particulares, e mais, ainda vivos, é cultural e, até mesmo, tradicional entre os ocupantes de cargos públicos, prática habitual desde os tempos da colonização na região, que o confirme personagens que “gentilmente” ofereceu seus nomes para centros esportivos, estádios de futebol, salas públicas em inúmeras instituições governamentais e, até mesmo, educacionais!

O hábito contumaz das câmaras municipais em nomear ou renomear vias públicas para, supostamente, homenagear personagens do conhecimento privado ser traduz em bajulação, oportunismo político-eleitoral e até na imposição ao povo de nomes que as pessoas jamais conheceram em vida ou apenas conheceram de longe. A prática está presente nas pequenas cidades e grandes metrópoles e tem o auxilio da mídia em geral para promover a “tradicionalização” dos nomes. Assim, por exemplo, a ponte estaiada da Marginal Pinheiros em São Paulo rapidamente entrará no pensamento coletivo como ponte Roberto Marinho. Em situações como estas, e no caso do estádio de futebol em Campo Grande, há uma tendência entre a população de consolidar o apelido dessas vias ou edifícios públicos, ou seja, para o paulistano a ponte será conhecida como Estaiada e o estádio é conhecido como Morenão, da mesma forma a avenida que ocupa a antiga linha férrea será sempre conhecida como Noroeste.

A cultura popular se mostra muito mais forte e inúmeras vias públicas serão conhecidas pelos seus apelidos. O problema, neste caso, fica para os profissionais que fazem a distribuição da correspondência. E haja confusão nisso!!

(*) Gerson Luiz Martins, jornalista e pesquisador do PPGCOM/UFMS e Ciberjor
www.ciberjornalismo.net.br

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