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Homossexualidade e igreja

André Afonso Vilela (*) | 02/05/2013 08:32

Muitas vezes nos deparamos com situações constrangedoras mediante pessoas que vivem na naturalidade as suas verdadeiras personalidades. Quando digo personalidades, estou me referindo ao ser de cada uma das pessoas, não digo escolhas e nem mesmo opção, que toma no poder da palavra o sentido de querer ser aquilo que não se é, mas ao contrário, o desejo de ser aquilo que se é. Digo isto, mesmo quando essa essência do ser passa a ser alvo de chacotas ou até mesmo um subterfúgio para os poderes delegados pela religiosidade e pelas práticas (o ópio do povo, segundo Marx) dentro de seu sentido mais profundo, pré-julgando uma conversão nos padrões já conhecidos pela sociedade.

Todo ser humano no poder de suas decisões e ponderações é senhor de si, ou seja, tem plena consciência daquilo que se é e de sua real vocação (dons que possuem e que estão disponíveis para a realização de uma ação pessoal, grupal, familiar, social...), dignificando-o, tornando-o mais ser de sua própria história. Se cada pessoa é senhora de si e de sua história, cabe a cada ser dentro da conjuntura social apoiar e dar oportunidades de vida em abundância, para que este possa desenvolver na totalidade suas reais capacidades, seus talentos guardados a sete chaves.

Ao assistir o curta “Eu não quero voltar sozinho”, peguei-me a pensar nos riscos que a instituição escolar passa a ter se nós futuros professores não nos despirmos dos inúmeros preconceitos aos quais fomos moldados, principalmente os da “deficiência” e o da “sexualidade”. A instituição escolar corre o risco de cometer em seus pátios ou em suas salas de aula a ‘santa inquisição’ em nome de uma falsa moral, movida pelo ópio da religiosidade que casta a racionalidade e nos faz pensar acerca do uso de nossas genitálias com o sexo oposto, ou seja, o homem deve unir-se a mulher e vice versa. Qualquer outra forma de uso das genitálias que fira o padrão masculino x feminino torna-se uma ferida aos bons costumes e a moral de um povo ou meramente de uma verdade em particular.

“Eu não quero voltar sozinho” é um convite a esse despir-se. Despir-se da falsa moralidade ou das concepções da filosofia de uma determinada religiosidade para vestirmos as roupas do respeito e da dignificação do humano em sua essência maior. Se cada um enxerga o mundo com os olhos que tem, essa afirmativa não é válida para o pensamento. Ninguém pensa a partir das genitálias que tem ou de se uso. O modo que as usamos cabe somente a nós. O que deve ser considerado é o estado de felicidade que creditamos aos nossos atos. O crédito que damos a nós, que não deixa de ser uma aposta na felicidade, não deve e nem pode se tornar objeto de julgamento em um banco escolar.

A diferença, num primeiro momento, nos espanta. Seja a diferença de física, cor, opiniões, credos, escolhas, opções... e até mesmo a de orientação sexual. Mas, por que a diferença nos espanta? – Talvez a resposta esteja em nós mesmos e não no outro que afrontamos com nossas indelicadezas. Todas as vezes que as nossas atitudes são de preconceito e discriminação, estamos abandonando a racionalidade, o que realmente nos torna humanos, e afundamos na lama de nossa própria ignorância.

São tantos os homossexuais ativos na vida de nossas denominações religiosas, desde os altos postos até o último dos fiéis. Lembrando que o serviço é para todos tendo como modelo Àquele que sai da mesa dos convivas e se colaca a serviço de todos, o maior dos servos. O serviço é para todos, se o é, porque tantos constrangimentos a cerca da sexualidade? Será que um pênis ou uma vagina tem o poder de capacitar e dignificar um homem ou uma mulher? – o que deveria contar, ser levado em consideração não deveria ser as aventuras sexuais vividas ou não vividas pelas pessoas, ou seu passado de pecados, mas o seu desejo de se colocar a serviço... A castidade é dom de todos, não mérito de alguns que se afastam do povo e se escondem em escritórios ou mesmo daqueles que criam shows que subestimam o poder da fé e da razão mesmo dos mais fracos...

Cabe a cada cristão, reviver em seu coração o verdadeiro sentido da vida e da dádiva da doação. Todos merecemos o respeito, o amor, a certeza de poder desenvolver seus dons, talentos que dignificam a todos, não somente aquele que realiza a ação, mas todos os que se colaca a disposição de viver as dádivas que o cercam. O serviço não é realizado pelos órgãos genitais, mas pelas mãos que se unem, mesmo que estas estejam calejadas, cansadas, desfiguradas, sem forças... Um bom serviço não é aquele realizado por mãos heterossexuais, homossexuais, bissexuais, transexuais... O bom serviço é aquele realizado com o coração, que poderá ser avaliado apenas por Deus, mesmo quando os homens se colacam como possuidores e transmissores do Espírito Santo, ditando regras e normas que muitas vezes mascaram e não deixam mãos se unirem para o serviço.

A Igreja como mãe acolhe o filho, a exemplo da parábola do Filho Pródigo. Como mãe, despreza o passado sombrio do filho, ou seja, seus pecados e o acolhe de braços abertos. Heteros ou não, fazemos parte de uma mesma Igreja, a edificada no Amor.

(*) André Afonso Vilela, professor, filósofo e formado em História pela UCDB, pós-graduado em Metodologia do Ensino pela UNIC

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