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Larguei minha carreira para virar escritora

Por Eliane Quintella (*) | 20/09/2012 08:57

Nasci com vontade de ser escritora, pois sempre gostei de ler e escrever. Na escola, meus textos de terror e suspense sempre eram os mais famosos. Gostava também de confeccionar pequenos livrinhos em papel sulfite e ostentar orgulhosamente a meus irmãos, para que morressem de inveja da minha “grande obra”. À noite sempre levava para o meu quarto uma pilha de livros para ler, por isso, embora minha mãe me colocasse para dormir cedo, eu ficava acordada lendo até pegar no sono. Além de tudo isso, eu escrevia para o jornal do bairro em que morava. Eles publicavam minhas charges, histórias e poemas. Era uma alegria abrir o exemplar e encontrar meu nome impresso.

Minha paixão por escrever era tanta que eu presenteava minha família inteira com poemas. E não só eles. Minhas amigas eram beneficiadas com declarações eternas de amizade e os meus primeiros amores também, embora eles não soubessem disso.

Mas a vida é engraçada. Cresci e descobri que não existia uma “faculdade” para que eu pudesse me tornar escritora. Eu devia ter desconfiado logo de cara que seria assim, afinal, eu já tinha nascido escritora, mas fiquei decepcionada e triste. Pensei em Jornalismo, mas eu gostava mesmo era de inventar histórias. Pensei em Letras, mas não me identificava. Como eu tinha um lado justiceiro na veia, resolvi cursar Direito. Até porque, durante o colegial, descobri nas aulas de literatura que alguns escritores que estudei e admirava tinham cursado Direito, como Clarice Lispector, Lygia Fagundes Telles, Vinicius de Moraes, Eça de Queirós, Gonçalves Dias, entre outros.

Entrei na faculdade de Direito e me apaixonei pelas aulas. Fiz estágio, estudei bastante, me formei, cursei mestrado em Direito Processual Civil e trabalhei muito, mas muito mesmo. Consegui me transformar na advogada que queria. E segui trabalhando e me dedicando muito, pois é assim que sou. Mas, dentro de mim, meu grande amor, que é escrever, não deixava de pulsar. Por isso, mesmo trabalhando demais, nunca deixei de escrever. Eu escrevia para mim, era uma necessidade, bastava eu ter um tempo livre: hora de almoço, hora vaga, madrugada, final de semana. Nessa época, eu não imaginava que um dia eu largaria tudo que estava construindo com tanto suor e dedicação para ser escritora. A verdade é que eu tinha aceitado aquilo que eu sempre ouvia as pessoas dizerem: no Brasil não dá para ganhar a vida sendo escritora.

Foi, então, que num belo dia de sol eu quebrei o punho e fui obrigada a largar a correria do dia a dia. Fiquei um mês em casa e aproveitei a oportunidade única para escrever meu primeiro livro: Pacto Secreto. Vocês podem se perguntar como é que eu escrevia se havia quebrado o punho? Bem, meus dedos se mexiam!

Voltei a trabalhar, mas Pacto Secreto já tinha vida própria e, então, ele crescia durante as madrugadas, finais de semana e qualquer outro momento vago que eu tinha.

O livro ficou pronto e consegui publicá-lo. E, então, uma vontade maior foi tomando conta de mim, transformou-se em uma certeza nítida, definida e absoluta: eu precisava seguir meu maior sonho, o grande amor de minha vida, precisava ser escritora. Arrisquei tudo, dei um salto mortal rumo à felicidade. Se valeu? E como valeu! Seguir minha vontade tornou-se parte de quem sou. E cada desafio que enfrento só me faz querer lutar ainda mais. E o final dessa história, querem saber? Um dia eu escrevo para vocês.

*Eliane Quintella é escritora.

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