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"Mal-estar" na Guaicurúndia, por Valfrido Chaves

Por Valfrido M. Chaves (*) | 29/06/2011 08:59

Em sua obra “O Mal-estar na civilização", Freud nos diz que: "... nosso sofrimento provém de três fontes: do poder superior da natureza, da fragilidade de nossos próprios corpos e da inadequação das regras que procuram ajustar os relacionamentos mútuos dos seres humanos na família, no Estado e na sociedade”.

Sabido é que a inteligência e o engenho humano se impôs à natureza de tal sorte que, não obstante fenômenos naturais isolados, a ansiedade atual provem da ação humana impactadora na natureza e não o contrário. A marcha da idade e nossa finitude continuam inexoráveis, mas a idade média dos povos avança e as doenças, a cada dia, menos nos aterrorizam, não obstante algumas patologias neurológicas, celulares e virais ainda não vencidas. Ou seja, até aqui, leitor, considerando que a fragilidade de nosso corpo seja natureza, pode-se afirmar que a humanidade está livre dos temores naturais que a aterrorizaram ao longo dos milênios.

No que tange às relações sociais, tentando nos ater à nossa Terra de Santa Cruz, creio podermos afirmar que, nesse espaço, se situam as maiores fontes de nosso “mal-estar”, com sofrimento, insatisfação, insegurança.

Considerando de onde partimos, o Colonialismo, muito nos afastamos desse berço de “mal-estar”. Em termos históricos, ainda ontem uma de nossas bases étnicas e culturais, a indígena, tinha como pontos centrais de sua civilização, o “festim canibalístico” e o ódio inter-tribal.

Os que chegaram nas Caravelas trouxeram a sede por riquezas, a ocupação territorial não nômade e a famigerada escravatura. Imigrantes, não foram poucos, trouxeram um novo modelo, na tradição do trabalho dignificante e produtivo.

Da cultura negra, cujo suor e lágrimas estribaram a riqueza da Nação, não me ocorre nada terrível que tivesse de ser superado para chegarmos, enquanto povo miscigenado ética e culturalmente, em algo próximo ao que poderíamos chamar como civilização.

Pelo contrário, pois, por inspirações ideológicas euro-asiáticas ultrapassadas em seu berço geográfico, grupos situados no poder central da Republica tentam insuflar ódios étnicos e raciais no seio do povo brasileiro.

O futuro nos falará sobre o sucesso ou fracasso de tais tentativas destinadas a somarem na luta de classes, conceito ao qual se apegam aqueles"aparelhos" ideológicos localizados no Estado brasileiro, acreditando ainda que o conflito seja o motor da história.

Se peneirarmos, encontraremos como pólos do mal-estar entre nós a violência associada às drogas, a corrupção e, ambas, associadas à impunidade. Isoladamente, em MS, teríamos como fonte do “mal-estar” o sucesso na promoção do ódio étnico através da política indigenista do Estado brasileiro que insufla o conflito, a ruptura com direitos estabelecidos e patrulhamento sobre a busca de seus direitos, por parte daqueles que os tem como violados, através das invasões e “identificação de terras indígenas”.

Tal patrulhamento tem se expressado através de entrevistas, como a de um membro do MPF local e outra, do presidente da Funai. O primeiro, sugerindo que o proprietário deva ser “sensível” à causa indígena, cedendo em seus direitos.

O Sr. Márcio Meira, presidente da Funai, afirmando que a “judicialização” da questão, por parte dos proprietários, seria o entrave à solução da problemática. Ou seja, a busca do direito no Judiciário é citada como um mal em si, sem consideração quanto ao seu possível mérito e fundamentação constitucional.

Aqui se manifesta, leitor, por parte do Sr. Meira, e aquele outro membro do MPF, a chamada “negação da negação”, uma das “leis da dialética” marxista leninista, que simplesmente nega a existência do arcabouço legal em que possa se fundamentar o direito alheio e que parece incomodá-los.

Só perguntando então, caro leitor, se hoje está valendo ainda a Constituição de 88 ou estaríamos já sob a vigência do “Estado e a Revolução” de Lenine? Fim ao cabo, leitor, manda a Constiruição ou manda a ideologia, justamente aquela repudiada onde teve origem?

(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista e produtor rural.

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