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Mastigação, um ato de amor

Por Heitor Freire (*) | 19/11/2012 10:02

Um dos pioneiros no campo da odontologia em Campo Grande, dr. Randolpho Braga, contava sempre com a assistência solidária de sua esposa, Nilza Barcellos Braga. Ele tinha uma carga horária de trabalho bem extensa: começava cedo pela manhã e estendia o expediente até as 22 horas, o que lhe proporcionava uma clientela cativa exatamente por causa de sua disposição ao trabalho. Ele fazia questão de transmitir aos seus pacientes, entre outros ensinamentos, a importância da mastigação – e fazia disso quase um mantra: “Mastigar cada alimento 30 vezes, no mínimo”.

Essa orientação, naturalmente, faz parte do trabalho constante dos dentistas, nutricionistas e demais profissionais da área alimentar. Mas nem sempre é observada; ao contrário, é muitas vezes negligenciada. Há inclusive aquela máxima, “Beber os sólidos e mastigar os líquidos”, que precisa ser entendida para ser praticada com proveito.

A importância da mastigação é uma daquelas áreas do conhecimento humano pouco valorizadas. Talvez por ser tão elementar e por se tratar de uma ação mecânica dos dentes acaba sendo realizada de forma automática. Ela é parte fundamental do processo de digestão. Se a mastigação não for bem observada, a boa digestão dos alimentos acaba comprometida, porque no nosso estomago não há dentes e a trituração dos alimentos só pode ser feita na boca; é onde começa o conjunto das transformações que os alimentos sofrem ao longo do sistema digestivo para se converterem em compostos menores a serem absorvidos e utilizados pelo organismo.

A digestão é iniciada na boca, com a ação mecânica dos dentes, pela mastigação, e produção de enzimas encontrados na saliva (uma boa hidratação é essencial), a fim de transformar o alimento em bolo alimentar e seguir adiante no processo digestivo.
A correta mastigação depende da saúde bucal, de conhecer a forma correta de mastigar e, portanto, traz benefícios durante toda a vida, desde a infância até a velhice. É a única etapa da digestão da qual temos controle e podemos influenciar.

O ambiente de pressa e correria de nossa sociedade criou um meio propício à obesidade, pois acabamos engolindo o alimento aos pedaços. E a mastigação exerce papel importante no controle desse problema. Contudo, precisamos motivar as pessoas por meio de pequenas mudanças de atitude e criatividade para avançar neste controle.

Através da mastigação lenta em ambiente tranquilo, obtém-se a saciedade precoce, ou seja, a pessoa se sente satisfeita mais rapidamente, o que a leva a comer menos, ter menos tendência ao ganho de peso, melhor digestão, mais prazer com a alimentação e mais saúde. Muitos trabalhos científicos apontam para isso.

O objetivo deste exercício é incorporar novos hábitos que, uma vez automatizados, possibilitem um novo modo de se relacionar com a comida.

Quando a mastigação passar a obedecer a um ato consciente e constante, as células do estômago e do aparelho digestivo naturalmente se sentirão respeitadas e agradecerão, porque esse ato será considerado como um ato de amor e de integração ao organismo.

Como dizia Persius, poeta italiano nascido na aldeia etrusca de Volterra no primeiro século da era cristã, em suas sátiras: “Magister artis ingenique largitor venter”, ou seja, “O estômago, mestre das artes e distribuidor do gênio”.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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