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Meu Mundo quer educação

Por Karine Pansa (*) | 16/08/2014 12:15

Nem pão, nem circo! O povo quer mesmo é ensino de qualidade. É o que indicam os resultados parciais da enquete Meu Mundo, iniciativa das Nações Unidas para eleger as seis prioridades globais pós-2015, prazo final de implementação dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM). Até agora, votaram 1,6 milhão de pessoas. Para a maioria, a educação vem em primeiro lugar, seguida, nessa ordem, por melhores condições de saúde e de trabalho, governo honesto e atuante, mais acesso a alimentos de qualidade e melhor saneamento básico.

O Brasil é o sexto país com o maior número de participações espontâneas na sondagem, conforme demonstra o último balanço divulgado pela ONU. Aqui, votaram 42.512 pessoas, cuja opinião coincide com a tendência global. Ou seja, estamos alinhados ao anseio planetário por ensino de excelência, item mais importante para nossa população. Na sequência, aparecem a saúde, governo honesto, proteção contra o crime e a violência, meio ambiente e alimentos.
A consciência dos cidadãos brasileiros e do mundo sobre o significado da educação pública para o desenvolvimento com justiça social confirma a necessidade de o País priorizar a solução dos problemas que, há décadas, vêm afetando o setor. Não podemos continuar tão defasados em relação a outras nações nessa área vital, como demonstram os resultados do último Pisa (Programa Internacional de Avaliação de Alunos), realizado pela OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico).

O Brasil somou 410 pontos em leitura, dois a menos do que a sua pontuação na última avaliação, ocupando o 55º lugar no ranking entre 65 países. Quase metade (49,2%) dos nossos alunos não alcança o nível 2 de desempenho, numa escala na qual o teto é 6. Isso significa que não são capazes de deduzir informações do texto, de estabelecer relações entre diferentes partes da narrativa e nem compreender nuanças da linguagem. Em ciências (59º lugar) e matemática (58º), a situação não é melhor.

Ante tais números, é notável que a produção brasileira de livros já alcance 500 milhões de exemplares anuais e que nosso mercado editorial seja o nono maior do mundo, com faturamento anual em torno de cinco bilhões de reais. Além disso, a terceira edição da pesquisa Retratos da Leitura, realizada pelo Instituto Pró-Livro, em parceria com a Abrelivros, o SNEL e a CBL, demonstrou que, em 2012, tínhamos 178 milhões de leitores em potencial (habitantes com cinco anos ou mais). Metade, ou seja, 89 milhões de pessoas, envolveu-se com a leitura de pelo menos um livro no ano anterior ao estudo, e 64% desses leitores veem nos livros “uma fonte de conhecimento para a vida”.

Para o setor editorial, que tem feito imenso esforço no sentido de contribuir para ampliar a base de leitores no Brasil, os dados do Pisa são preocupantes. Se, por um lado, temos conquistado bons resultados na disseminação do hábito de leitura, como demonstram as estatísticas, poderíamos ir muito além caso a qualidade do ensino público fosse compatível com as nossas metas de desenvolvimento e o legítimo direito de toda a sociedade à excelência na educação.

Avançamos muito nos últimos 20 anos com relação ao acesso e universalizamos o atendimento no Ensino Fundamental. Dados oficiais mostram que não faltam vagas nesta etapa. Porém, nossa “revolução educacional” ficou inacabada. A qualidade da educação básica, condição essencial para o crescimento sustentado e a transformação do Brasil em um país mais justo socialmente, pouco avançou. Se é que não ficou patinando, andando de lado. Este é o desafio a ser enfrentado: ter um ensino público universal (o que ainda não alcançamos no grau médio ou na pré-escola) e com a qualidade necessária para que nossos jovens estejam aptos a progredir em um mundo cada vez mais competitivo.

Para isso tem grande papel os autores e editores na elaboração de livros didáticos e paradidáticos. O mercado editorial brasileiro desenvolveu equipes e conhecimento para conceber com maturidade todos esses materiais. O poder público, principalmente a União, tem o dever de manter toda a infraestrutura e programas criados para selecionar, comprar e distribuir livros para as escolas públicas de todo o Brasil. Às famílias cabe a missão importante, em especial no sentido de matricular e manter os seus filhos nas escolas, orientar e estimular. Vencer a precariedade da educação é um desafio de todos os brasileiros. Para vencê-lo, não há atalho. É necessária uma política educacional de Estado, que não sofra solução de continuidade e priorize o ensino básico, com foco na aprendizagem do aluno.

(*) Karine Pansa, empresária do setor editorial, é presidente da Câmara Brasileira do Livro (CBL).

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