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Não bastam 99%

Felipe Orro (*) | 16/04/2016 08:53

Existem conceitos com grandezas absolutas. O bem e o mal são exemplos. Nada é meio bom, meio mal. Ou é ou não é. A meu ver a honestidade se enquadraria nesse conjunto. Se fosse possível construir uma régua para medir a honestidade, ela teria um só tamanho e todo cidadão que quisesse se considerar honesto deveria, obrigatoriamente, satisfazer sua totalidade.

O dicionário descreve a honestidade como característica da pessoa moralmente irrepreensível. No campo da moral não podemos ser 99% anjos e 1% vagabundos porque essa ínfima parcela prejudica toda a estrutura do caráter. Ser honesto é ser verdadeiro, correto nos princípios, pensamentos, palavras e ações. Seria um ideal inatingível? Em absoluto, é o mínimo que se espera de um cidadão.

Imagina se você fosse contratar um funcionário e na entrevista, perguntasse:
- Você é honesto?
- Sim, quase totalmente, diria o candidato.

Você o contrataria? Talvez seja louvável sua sinceridade, mas ninguém em são juízo confiaria seus negócios aos cuidados de uma pessoa que de antemão avisa sobre sua conduta dúbia.

O eleitor precisa usar esse mesmo critério ao contratar seus governantes, desde o vereador até o presidente da República. Sobretudo no momento de reexame moral a que se submete o País, nada é mais justo e necessário que exigir 100% de honestidade de nossos políticos. Não bastam 99%. É preciso rigor. O Brasil que o povo quer merece padrão excelência de qualidade dos seus políticos. A honestidade é tão importante para a construção de uma sociedade feliz que foi descrita por Shakespeare como a “herança mais preciosa”.

E como atingir esse ideal? Com eleitores padrão excelência de qualidade. Não podemos exigir do outro aquilo que não somos capazes de fazer. Pode soar provocativo, até, mas o político é, na essência, reflexo da sociedade que o elegeu. Essa sentença é consensual, embora dificilmente nos inclinemos a buscar culpa em nossas escolhas quando os representantes são flagrados fazendo no privado aquilo que condenavam em público. Será que erramos na hora de votar? Ou o caráter daquele político já sinalizava fartamente para o real comportamento que se ocultava embaixo da máscara de hipocrisia, e ainda assim insistimos no voto?

Pequenos deslizes cometidos no cotidiano, também deformam o caráter! Claro que a balança da Justiça e o julgamento de nossa consciência, são diferentes. Mas o conceito do certo e do errado é claro!

Faço essa análise para concluir com um suspiro de esperança. Se a tempestade que balança profundamente as estruturas democráticas e institucionais, que divide o Brasil, machuca muitos, entristece e envergonha, causa furor e revolta; se todo esse turbilhão de sentimentos que afloram do doloroso processo por que passa nossa jovem democracia direcionar nossos esforços para a construção de uma estrutura moral sólida, vertical, inflexível e renovadora, terá valido a pena sem dúvida. É a oportunidade para revermos nossos conceitos.

Quem dera o Brasil que restar, seja a Pátria que almejamos, e que sejamos o povo que este país merece.

*Felipe Orro é advogado e deputado estadual

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