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Não há milagre para a sustentabilidade no manejo de pragas em campo

Por Marcelo Poletti (*) | 03/09/2016 15:00

Atualmente, há uma percepção de que a exclusão dos produtos químicos utilizados para o controle de pragas é solução imediata para uma agricultura mais saudável e sustentável. Porém, considerando a extensão das áreas agricultáveis no Brasil e o progresso alcançado nos últimos 15 anos, percebe-se que os desafios neste setor são enormes.

De fato, é importante considerar que o controle químico ainda é a principal ferramenta empregada pelo agricultor e que a sua adoção nem sempre é realizada de forma adequada, o que sem dúvida, leva a uma série de problemas que afetam a sustentabilidade no campo. Isso tem que mudar, pois é inaceitável.

Essa desestabilidade tem impulsionado o desenvolvimento de pesquisas na busca de inovações que contribuam para equacionar e parametrizar o binômio agricultura e meio ambiente. Porém, conhecendo-se de perto a dimensão continental que o Brasil rural assume, bem como as suas diversidades e complexidades de paisagens em regiões com características específicas, verifica-se que é impossível afirmar que uma tecnologia, por mais revolucionária que possa parecer, consiga solucionar isoladamente esta questão.

Desta forma, excluir os agroquímicos da caixa de ferramentas do produtor rural, restringe e muito, seu leque de opções. A adoção de produtos químicos seletivos com alta performance e baixo impacto ambiental contribuirá com a preservação de inimigos naturais e agentes polinizadores presentes nas áreas de cultivo. Ao mesmo tempo, a aplicação de produtos seletivos permitirá a integração desta ferramenta com a liberação de ácaros predadores, microvespas, bactérias, fungos e vírus, todos produtos biológicos com registros concedidos pelos órgãos regulamentadores vigentes no país. O uso conjunto de táticas de controle é a forma mais coerente e viável para que o agricultor consiga migrar de um sistema de produção em desequilíbrio para um ambiente mais estável e menos dependente do uso exclusivo de químicos.

No entanto, apontar o caminho para a sustentabilidade no manejo de pragas em campo é apenas o primeiro passo de uma longa caminhada que deve ser iniciada com a educação e transferência do conhecimento. Não basta ter novas opções dispostas em prateleiras de distribuidores e revendas, se suas características intrínsecas não forem completamente entendidas e assimiladas por profissionais do setor. Conhecer os benefícios, restrições de uso e a forma mais adequada para o emprego de cada tecnologia, bem como entender como integrá-la corretamente à diferentes estratégias de manejo de pragas é imprescindível para o sucesso de sua adoção. Para isso o suporte dado pelos fabricantes e fornecedores de insumos é extremamente importante, inclusive para preservar a vida útil das tecnologias ofertadas.

A agricultura do futuro exige cada vez mais profissionalismo e consciência dos reflexos de cada ação adotada em campo. Como em um jogo de xadrez, só vence aquele profissional que entende todas as regras impostas pelo meio e que acima de tudo mantém durante todas as jogadas uma boa visão estratégica. Produzir cada vez mais, preservando o meio ambiente, a saúde trabalhador rural e consumidor final é condição mínima para o sucesso em campo.

(*) Marcelo Poletti é Engenheiro Agrônomo com doutorado em Entomologia, sócio fundador e CEO da Promip, empresa de biotecnologia pioneira na fabricação de produtos biológicos e serviços especializados para programas de manejo integrado pragas

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