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Nos tempos do Taveirópolis

Por Heitor Freire (*) | 30/08/2012 16:33

Eu e minha família moramos na rua Padre Caetano Patané, bairro Taveirópolis, de maio de 1975 a janeiro de 1995. Foi na época de crescimento das minhas filhas e de grande convívio familiar.

Naqueles gloriosos tempos, os bailes de Carnaval já eram realizados na sede campo do Rádio Clube. A sede tradicional ficara pequena. Era uma verdadeira festa, pois os casais amigos se reuniam em mesas contíguas estabelecendo um território que abrigava os seus componentes. A festa era sadia.

Pois bem, num determinado ano, o juiz de menores da cidade baixou uma portaria determinando uma fiscalização rigorosa impedindo a entrada de jovens abaixo de 14 anos no baile da noite.

Todas as noites quando saíamos de casa para o clube, eu alertava as minhas filhas menores, Alessandra e Flávia, para que levassem seus documentos. Thaís, a caçula, não tinha ainda a idade mínima exigida.

Quando chegávamos ao clube, naturalmente as meninas encontravam os seus amigos e ficavam fazendo hora na entrada do clube (me parece que chegar cedo “era o maior mico”).

Nós entrávamos e já nos incorporávamos aos cordões de foliões. Numa dessas vezes, pouco depois de adentrarmos o clube, fui chamado na portaria. Ao chegar, encontrei o fiscal informando que a Flávia não podia entrar porque não parecia ter 14 anos.

Eu afirmei que ela tinha, sim, a idade permitida. Ele pediu o comprovante. Falei para a Flávia: “Cadê o seu documento?” E ela, já quase em prantos, disse que tinha esquecido.

Então eu fui taxativo: “Se tiver que ir até em casa, no Taveirópolis, hoje eu não volto mais”. O impasse estava criado. A Flávia, nervosa, começou a esfregar as mãos, quando percebeu a pulseira que usava e acendeu-se uma luz.

Ela lembrou que no verso da pulseira estava registrada a data do seu nascimento. Pronto, a prova estava feita e o fiscal acatou-a. Foi um alívio para ela e também para mim. E ponto para o rapaz da portaria que teve o bom senso de aceitar o improviso.

Quando levava as crianças para o colégio, na parte da manhã, por volta das 06:30 horas, eu costumava ouvir o programa Festa Sertaneja, do Juca Ganso, deliciando-me com o seu palavreado próprio, peculiar, para irritação das meninas que preferiam ouvir qualquer outra coisa, menos aquilo. Aquelas vozinhas sertanejas esganiçadas logo cedo não eram exatamente do gosto das adolescentes.

Quando as meninas maiores começaram a sair de noite para as festas, eu as levava onde fosse. E ia buscá-las na hora que havíamos combinado. Um dos amigos das meninas, Cid Castello, se identificou bastante comigo. É meu amigo até hoje. Pois bem, ele foi ganhando minha confiança.

Então aos poucos eu fui emprestando o carro para ele levar as meninas, com o compromisso de trazê-las de volta na hora combinada. Eu ficava esperando para levar o Cid de carona para sua casa. Uma vez aconteceu de eu dormir.

Quando percebi que as meninas chegaram, me levantei para levar o Cid para a casa dele, mas quando vi o meu carro já estava estacionado na garagem. Perguntei por ele e as meninas disseram que ele já tinha ido embora. Eu perguntei: “Foi com alguém?” E elas: “Não, foi a pé”. Ele morava na vila Planalto.

Dá para imaginar a distância. Mais ou menos uma hora de caminhada, no mínimo, em plena madrugada. Tive que sair com o carro, de pijama, até alcançá-lo e disse-lhe que não fizesse mais isso, ou então não emprestaria mais o carro. O mais curioso é que eu tinha seis exemplares em casa, digo seis filhas, e o Cid nunca namorou nenhuma delas. Era só amizade.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

heitorfreire@heitorfreire.com.br

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