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O amor verdadeiro exige caráter

Por Heitor Freire (*) | 17/10/2016 08:13

Desde que o mundo é mundo, desde que o ser humano levantou-se ereto e começou a olhar para os lados e a viver em comunidade, percebendo a existência de mais alguém, sentiu a necessidade de estabelecer um sistema de convivência que lhe permitisse um relacionamento que fosse se aperfeiçoando no tempo e no espaço. Assim foram criadas as religiões e as instituições filosóficas que nortearam o seu caminho desde então.

A base de todas tem como pedra angular o amor. Que é o sentimento natural que encontra ressonância no seu coração. Deus disse a Moisés que circuncidou o coração do homem para que ele ame a Deus com todo o seu coração e com a toda alma e viva (Dt 30,6). A circuncisão ordenada a Abrahão era física: o corte no prepúcio tinha finalidade higiênica. Esta, agora, é diferente.

Então, Deus colocou o seu mandamento no coração e na palavra do homem (Dt 30, 14). “Se eu amo de verdade uma pessoa, amo todas as pessoas, amo o mundo, amo a vida. Se posso dizer para alguém ‘eu te amo’, tenho de ser capaz de dizer ‘eu amo todo o mundo em você, eu amo o mundo através de você, eu amo em você eu próprio também’” (Erich Fromm). O amor verdadeiro exige caráter.

O título deste artigo é inspirado numa crônica de Raquel Naveira, escritora e poeta laureada, denominada “Mar de Rosas”. Eu e a Raquel fomos colegas de turma de direito, na gloriosa Fucmat, formados em 1979 (a primeira do novo estado). Caráter, em sua definição mais simples, resume-se em índole ou firmeza de vontade. Não é o caráter que sofre as influências pelo meio em que é submetido, pois o ser humano demonstra sua pessoal característica desde os primeiros dias.

O caráter é inerente ao próprio espírito, e os moldes de educação, adaptação às diferentes condições e fases da vida humana apenas levam o ser às escolhas que deve fazer, obedecendo elas a esse princípio. Reputação é o que as pessoas pensam a meu respeito. Caráter é o que eu sou quando ninguém está me olhando. Somente a educação ética – ética significa hábito em grego –, ou a criação do hábito do comportamento ético, pode construir um comportamento virtuoso, um comportamento justo.

Virtude é o sentido da excelência de cada ação, ou seja, de fazer bem feito, na justa medida, cada pequeno ato. A prática da virtude não se confunde com um mero saber técnico, não basta a conformidade, exige-se a consciência do ato virtuoso. O homem considerado justo deve agir por força de sua vontade racional. Na Ética a Nicômaco, Aristóteles enumera três condições para que um ato seja virtuoso, a saber: primeiro, o homem deve ter consciência da justiça de seu ato; segundo, a vontade deve agir motivada pela própria ação; terceiro, deve-se agir com inabalável certeza da justeza do ato.

As virtudes são disposições ou hábitos adquiridos ao longo da vida e se fundamentam na idéia de que o homem deve sempre realizar o melhor de si. Essa ação, naturalmente, não fica restrita a um determinado ato, mas abrange a totalidade das ações do ser humano, para ser considerada ética.

Não podemos destacar um tipo de comportamento para classificá-lo como tal, o conjunto dos atos deve obedecer a um padrão que não seja engessado, envolvendo amor, caráter, ética, virtude, trabalho, consciência, etc. “Posso fazer tudo o que quero. Sim, mas nem tudo me convém. Posso fazer tudo o que quero, mas não deixarei que nada me escravize” (1Cor 6,12). Conclusão lógica: todo comportamento verdadeiro exige caráter.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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