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O despejo "insano" da terra indígena Apyka'i em Dourados

Tiago Botelho | 07/07/2016 15:19
Despejo levou indígenas para beira de rodovia.
Despejo levou indígenas para beira de rodovia.
Uma equipe de guerra para despejar apenas nove indígenas desarmados.
Uma equipe de guerra para despejar apenas nove indígenas desarmados.

O dia de hoje foi o mais truculento que já presenciei pela tal (in)Justiça brasileira. Às 5:30, recebo um telefonema do indígena Kunumin, filho da cacica Damiana de que sua terra indígena Apyka'i em Dourados - MS, tinha sido tomada por policiais e que um despejo insano daria início.

Nos meus piores pesadelos, jamais imaginei ver cenas de uma guerra civil com o objetivo de despejar apenas nove seres humanos indígenas desarmados de sua terra sagrada. Mesmo antes da FUNAI chegar, ato totalmente desmedido para despejo, aproximadamente 60 homens, fortemente armados, encapuzados, tomados pelo semblante do ódio quebraram as cercas e pedindo "paz", coagiram moralmente com suas armas bem visíveis, toda a comunidade a deixar a Terra da Vida.

Armados e encapuzados, policiais entraram na aldeia.
Armados e encapuzados, policiais entraram na aldeia.
Pertences dos índios.
Pertences dos índios.
A destruição dos barracos.
A destruição dos barracos.

Sozinho e sem poder fazer muita coisa, via tudo aquilo perplexo, minha vontade era de gritar, parar de alguma forma tudo aquilo, clamar à algum ser supremo que não deixasse aqueles seres humanos tratarem com tanta indignidade seus iguais. Mas, a racionalidade humana, passou a quebrar os barracos, jogar os pertences em um caminhão, o altar sagrado foi destruído, queimaram e com uma patrola soterraram a comunidade.

Fui colocado para fora por homens armados. Às margens da BR, encontrei amigos que foram barrados de entrar e resolvi chorar um pouco de dor. Quando vi o indigena Sandriel (10 anos) e Dona Damiana que cantava, ele abraçou-me e chorou lágrimas de terra e injustiça. Era uma criança e uma senhora que jamais poderiam viver tamanho desrespeito. Minhas lágrimas se misturaram com as de Sandriel e por minutos, abraçados, choramos!

Eu não tinha nada para falar àquele ser tão lindo e inofensivo. Para piorar a desgraça da manhã, começou a chover e não tínhamos para onde ir. Coloquei as crianças num carro do SAMU e passamos a construir barracos.

Crianças indígenas, agora às margens da rodovia.
Crianças indígenas, agora às margens da rodovia.
Na chuva, professor levou as crianças para viatura. O choro e o medo eram incontroláveis.
Na chuva, professor levou as crianças para viatura. O choro e o medo eram incontroláveis.

Após a chuva, volta o lindo Sandriel e me diz: - Tiago, tinha feito todas as tarefas que você passou, mas eles queimaram. Novas lágrimas! Mas, por estar sorrindo, respondi: - Sandriel, compraremos tudo novamente e vamos aprender a escrever. Tudo ficará bem! Sua nova morada é às margens da BR, sem acesso ao rio-água e ao local sagrado em que estão enterrados seus antepassados.

A partir de agora, na terra Apyka'i, estão jagunços pago pelo proprietário com armas para impedirem com que nove indígenas entrem em suas terras. Que Nhanderú proteja esses seres humanos que lutam pelo simples direito de Viver.

*Tiago Botelho é professor, doutorando em Direito Público pela Universidade de Coimbra e professor da UFGD.

Tiago Botelho é professor, doutorando em Direito Público e respira a causa indígena.
Tiago Botelho é professor, doutorando em Direito Público e respira a causa indígena.
Tudo jogado, empilhado, como se não fosse nada. Não fizesse parte de um lar.
Tudo jogado, empilhado, como se não fosse nada. Não fizesse parte de um lar.
Os pequenos, quando puderam, se sentaram às margens da rodovia, sem ter lugar pra ir.
Os pequenos, quando puderam, se sentaram às margens da rodovia, sem ter lugar pra ir.
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