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O Estado do Pantanal – um sonho irrealizado e que pode voltar

Francisco de Lagos | 01/03/2013 17:16

O Estado do Pantanal – um sonho irrealizado e que pode voltarNa minha vida profissional, na condição de jornalista, publicitário de pesquisador das origens de Mato Grosso do Sul, uma grande frustração que tive foi o de não ter visto nosso Estado ser batizado como Estado do Pantanal. Perdemos a grande oportunidade de criar o Estado do Pantanal, por razões econômicas, históricas e remanescentes da Nação Guaicuru, bem como por motivos culturais e de marketing, para projetar o estado do Pantanal em todo o mundo.

A criação de Mato Grosso do Sul foi fruto do desmembramento do antigo Mato Grosso. Quinze anos depois meu entusiasmo para tentar mudar o nome do novo Estado me levou, junto com alguns amigos, a criar a Liga Pró Estado do Pantanal. A Liga era um movimento suprapartidário criado com o objetivo de informar e sensibilizar a sociedade em defesa da causa, através de palestras e debates em faculdades, associações comerciais, clubes de serviço e instituições históricas de todo o Estado.

Na época, assumi a coordenação de marketing da Liga. Em artigo publicado no primeiro número do Jornal da Liga, por ocasião da inauguração de seu comitê, no dia 26 de janeiro de 2000, justifiquei para os nossos leitores a mudança do nome do estado. Sob o título “Estado do Pantanal – História e autoestima”, assim me expressei:

“Quando os debates em torno da mudança do nome de Mato Grosso do Sul para Estado do Pantanal caminhavam unicamente para a conotação da disputa partidária, alguns amigos, o artista plástico Humberto Espindola, e eu, decidimos promover um profundo trabalho de pesquisa objetivando tentar encontrar argumentos que justificassem a mudança já que, a princípio, éramos simpatizantes da idéia.

A leitura e releitura dos trabalhos de nossos principais historiadores, existentes em bibliotecas, arquivos históricos, museus, e a busca de teses acadêmicas, algumas delas ainda em gestação, proporcionaram a elaboração de um documento que serviu de base ao Manifesto da Liga Pró-Estado do Pantanal. Longe de ser uma afirmativa movida simplesmente pela vaidade, pesquisar nossa história e conhecer episódios desconhecidos da maioria de nossa população foi para nós motivo de grande orgulho. Aprendemos muito. Se existe um fato novo na História do Brasil a se contado nessa virada do século, de milênio e nos 500 anos do Descobrimento, esse fato chama-se Mato Grosso do Sul, o futuro Estado do Pantanal.

E foram nesses fatos que encontramos as razões históricas que justificam a mudança do nome.

Os grandes e principais acontecimentos históricos ocorridos nesse pedaço de Brasil Platino, ao longo dos últimos 500 anos, aconteceram no Pantanal ou no seu entorno, provocando profundos reflexos em toda a região. Desde os primórdios da Nação Guaikuru, passando pelas civilizações Espanholas e Portuguesas de Santiago de Xerês e Itatins; pelos movimentos monçoeiros, a guerra do Paraguai; pela navegação do Rio Paraguai e até a entrada da Noroeste rasgando o coração do Pantanal, desde épocas bem distantes, o Pantanal tem sido o palco de conquistas e resistências, de tratados de paz e declarações de guerra, de amores e dissabores, de atos de depredação e manifestações de puro amor. Enquanto isso acontecia, Campo Grande, Três Lagoas e Dourados, e a maioria de nossos municípios não existia.

O processo de amnésia histórica a que fomos submetidos após a divisão (que foi CRIAÇÃO) fez com que esquecêssemos nosso passado, perdêssemos nossa identidade e nos transformássemos em apêndice geográfico, cultural e político do Mato Grosso. Queríamos tanto a divisão, sonhávamos tanto com o Estado Modelo que pagaríamos qualquer préço para que ela acontecesse. E esse preço foi pago. Não apenas com os recursos que abdicamos em favor do Norte, pois acreditávamos em nosso potencial econômico, mas com a cegueira cultural a que fomos submetidos. Que referência tem um jovem nascido no Mato Grosso do Sul para se orgulhar do lugar em que nasceu? Nenhuma, a não ser que puxe a cortina que o isolou do passado e busque nos episódios históricos relatados as razões para levantar sua auto estima e descobrir sua verdadeira identidade.

Se nos faltava um ponto de apoio para refletir sobre tudo isso já temos: Pantanal, não apenas por sua condição geográfica que nos dá 2/3 de seu território, mas pela forma abrangente, planetária, poética, ecológica e econômica com que nos projeta para o futuro. Se gostamos dessa terra não podemos permitir a ingerência indevida do então governador de Mato Grosso, Dante de Oliveira, em assunto que diz respeito ä nossa cidadania. Se amamos essa terra, temos que lutar para fazer com que esse patrimônio da humanidade represente nosso Estado, como o rio Amazonas, que está na Venezuela, no Mato Grosso e no Pará, e empresta seu nome ao Amazonas; como o rio Tocantins, que banha o Pará e Goiás e emprestou seu nome ao novo estado da Federação. Argumentos históricos não nos faltam. Argumentos econômicos, esses são fortíssimos, mas podem ser analisados em outra ocasião. Argumentos culturais existem de sobra. Entretanto, queremos nos apegar àquilo que mais fala com o nosso interior, com a nossa vida pessoal: a falta de auto estima que nos transforma em anônimos e que não pode persistir.

Sonhávamos com o futuro e hoje não temos nem o passado.

Debater nossa identidade, descobrir quem somos e o que queremos é prioritário e essencial. Sem identidade não somos ninguém. Permanecer assistindo os vexames que temos passado no dia a dia ouvindo intelectuais, jornalistas, autoridades, empresários confundirem nosso Estado é o mesmo que batizar um filho de Genivaldo e ter que corrigir nossos amigos, parentes e desconhecidos durante longos 22 anos por o chamarem de Geni.

Mudar para Estado do Pantanal é descobrir nossa verdadeira identidade.

A receptividade pela criação da Liga nos surpreendeu: em poucos dias coletamos 5000 assinaturas em defesa da mudança do nome. Representantes e dirigentes de entidades como a OAB e Federação das Indústrias, escritores como Manoel de Baros; artistas plásticos como Humberto Espíndola, empresários, publicitários e profissionais de diversas áreas assim se expressaram na ocasião:

“O pantanal é uma referência internacional. Esse nome é um patrimônio nosso”- Poeta Manoel de Barros.

“O nome Pantanal é a chave da prosperidade. Não há melhor marketing no mundo” – Publicitário Roberto Duailibi – Diretor da DPZ.

“O Pantanal tem tudo para ser preservado, explorado e gerar benefícios para o Estado” – Economista Enrique Iglesias Presidente do BID – Banco Interamericano de Desenvolvimento.

“Instituir o Estado do Pantanal será um caminho atraente”- Empresário Benjamin Chaia – Presidente da Associação Comercial de Campo Grande.

“Estou cansado de receber correspondências no TJ de Mato Grosso do Sul que são remetidas inicialmente para Cuiabá – Mato Grosso. Essa confusão precisa acabar”- Desembargador Rêmolo Leterielo – Presidente do Tribunal de Justiça de Mato Grosso so Sul.

A Liga percorreu os principais municípios do Estado. Percorremos Universidades, clubes de serviço, Associações Comerciais e diversas outras entidades. Éramos muito bem recebidos nas cidades e o os debates eram calorosos. Sempre saímos dessa reunião com a convicção de que milhares e pessoas aderiram á nossa causa.

Entusiasmado com a idéia, o governador Zeca do PT deu o seu apoio irrestrito à idéia. A sua manifestação foi determinante para o aborto da iniciativa, que foi partidarizada por nossos adversários, os tucanos do PSDB, que como costumeiramente fazem em todo o País mentiram vendendo a falsa ideia de que a sigla do novo estado seria PT. Os divisionistas queriam, na verdade, que a sigla fosse PN, até por razões técnicas.

Foram momentos muito gratificantes. O de ter a coragem, de propor algo inusitado e audacioso: o de mudar o nome de um Estado.

Novamente uma luz se acende na Assembleia Legislativa pelos entusiastas da ideia, os deputados Arroio e Amarildo.

O Estado do Pantanal, foi um sonho meu e de milhares sul-mato-grossenses, mas um sonho que ficará para a história, e que AGORA PODE VOLTAR. Estamos prontos para a luta.

Francisco de Lagos - Publicitário e Jornalista

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