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O futuro da produção industrial

Por Robson Braga de Andrade (*) | 09/02/2017 14:14

O estímulo à Indústria 4.0 é elemento central da política industrial das principais potências econômicas. Trata-se da incorporação, em larga escala, de tecnologias digitais à atividade industrial. Essa medida permite a integração e o controle da produção a partir de sensores e equipamentos conectados em rede, além da fusão do mundo real com o virtual. Entre as principais tecnologias envolvidas, estão a internet das coisas, inteligência artificial, big data, a computação em nuvem, a robótica avançada, novos materiais, a impressão 3D e a manufatura híbrida.

Na Alemanha, a Indústria 4.0 é vista como determinante para assegurar a competitividade frente ao avanço de concorrentes cujas vantagens já não se baseiam só em baixos custos de mão de obra. Nos Estados Unidos, essa estratégia tem papel importante no anunciado esforço de reindustrialização. Na China, surge como oportunidade de consolidar o país entre as principais nações industrializadas.

A transição para as formas de produção que caracterizam essa nova indústria será decisiva para a competitividade da economia brasileira e para a sua maior e melhor inserção em cadeias globais de valor. Atenta a essa transformação, a CNI (Confederação Nacional da Indústria) teve importantes iniciativas em 2016 com o objetivo de chamar a atenção das empresas e da sociedade para a necessidade de que o Brasil acompanhe, com urgência, esse movimento.

A primeira iniciativa foi a realização de uma pesquisa que revelou o ainda baixo nível de emprego de tecnologias digitais na nossa indústria e o profundo desconhecimento sobre o tema, tanto no governo quanto no setor privado. Felizmente, de lá para cá, o quadro começou a mudar, com um crescente engajamento de diversos órgãos do Estado e do setor privado.

A segunda ação foi a elaboração de um estudo que mapeou os desafios do Brasil para o crescimento da Indústria 4.0, organizando-os em sete eixos que precisam ser trabalhados pelos segmentos industriais e pelo Estado. O passo inicial para que esse desejo se torne realidade no País é a disseminação de sua importância para a competitividade das empresas em um prazo que, para alguns setores, pode ser relativamente curto.

Precisamos ter um plano para promover a difusão de tecnologias ao longo das cadeias produtivas. Além disso, devemos desenhar políticas que possibilitem o surgimento de fornecedores locais de bens e serviços, pois é justamente aí que estarão as grandes oportunidades de desenvolvimento tecnológico.

Na esfera regulatória, as tarefas incluem temas como cibersegurança, proteção de dados, modernização das relações trabalhistas (por exemplo, para viabilizar as tecnologias de cooperação homem-máquina) e definição de padrões convergentes com os que estão sendo estabelecidos internacionalmente. Na área de recursos humanos, a evolução tecnológica demandará novos perfis de profissionais -- precisamos nos preparar para formá-los.

Uma abordagem de sucesso para a Indústria 4.0 exige compreender, ainda, a forma como a produção industrial e os serviços vêm interagindo nas indústrias mais dinâmicas. Em grande medida, a criação de tecnologias estará em áreas como softwares e integração de sistemas. Essa é uma boa notícia, pois temos competência instalada e as barreiras à entrada são relativamente menores. As medidas de fomento às startups também têm um papel importante.

Um aspecto fundamental dessa agenda envolve a articulação dos diferentes órgãos do Estado, pois a Indústria 4.0 é apenas um dos exemplos de aplicação de tecnologias digitais para a superação de grandes desafios nacionais, como o aumento da produtividade industrial. Outros exemplos incluem a melhora da mobilidade urbana, a implantação de redes elétricas inteligentes para aumentar a eficiência energética e a expansão do acesso a tratamentos médicos, por meio da inteligência artificial e de tecnologias de saúde à distância.

Soluções para essas áreas envolvem o mesmo tipo de tecnologia, mas costumam ser gerenciadas de forma isolada, por uma multiplicidade de órgãos da administração pública. Uma abordagem estatal coordenada incentivaria o aperfeiçoamento tecnológico e produtivo, permitindo a combinação de diversos instrumentos de política industrial: crédito, subvenções, poder de compra do Estado, regulação setorial e encomendas tecnológicas. O Brasil precisa agir rapidamente para fortalecer essa nova indústria. 

(*) Robson Braga de Andrade é presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria)

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