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O preço da fama

Por Dante Filho (*) | 21/10/2013 08:34

Você fica famoso. Ganha rios de dinheiro. Torna-se uma celebridade permanente. Aonde vai tem gente assediando, pedindo autógrafos, celebrando sua presença. Você se torna uma máquina de criar fatos. Qualquer declaração, aparição, andança, "todo mundo" fica sabendo. Uma simples opinião sobre qualquer banalidade ganha ares de pensamento filosófico. Um simples namorico invade por semanas revistas de fofocas. Uma separação conjugal transforma-se em escândalo. Essa é a vida. Assim é a fama.

Você compõe músicas, escreve livros, aparece na TV, dirige filmes, encena peças, apresenta-se em shows grandiosos, ou seja, foram essas coisas que escolheu fazer para modelar sua presença no mundo. O talento deve ser reconhecido. Junto com esse trabalho vem a dimensão pública de sua figura, que ultrapassam as noções de privacidade. Você se torna um personagem. Ou melhor: você passa a ser aquilo que o público imagina. Quem realmente você é não interessa a ninguém.

Ao lado dessa despersonalização social dilui-se o indivíduo e predomina o ídolo. Às vezes isso se torna um peso e fica deprimente (alguns sucumbem ao álcool e às drogas), mas como o sistema é poderoso ele engole a tudo e a todos. Você não é mais dono de seu destino. Você tem agenda, compromissos, contratos, dezenas de assessores cuidando dos seus alfinetes. Noutras palavras, você é um produto, pois existe um esquema industrial vivendo e se nutrindo das engrenagens que você criou. Assim é o sucesso.

Dia sim, dia não, seu rosto está estampado nas mídias. O mundo parece que está sempre sorrindo pra você. Eventos, festas, happenings, homenagens, sem contar as paparicações, turnês e viagens, enfim, é neste vórtice que você vive e isso é tudo que é necessário para sustentar o mito que você se tornou.

Se você é esperto, tem uma personalidade determinante e sangue frio para controlar sua carreira é possível manter o público separado do privado. Suas aparições são calculadas, as amizades são regradas, as entrevistas são concedidas sob estrito controle, nada vaza sem o filtro dos assessores que lhe cercam.

Você também pode embarcar no lance da solidariedade social. Aliás, essa tem sido a melhor maneira de se blindar contra dissabores da carreira. Ajudando criancinhas pobres da áfrica, contribuindo com ONGs em favelas, abraçando causas ambientais ou contribuindo com fundos para o combate a AIDs, tudo isso edifica a imagem do artista do bem, contrapondo-se àqueles que agridem fotógrafos, provocam bafões em boates ou criam polêmicas homéricas falando mal dos desafetos.

A vida segue. A fama se consolida. Você se torna um monumento cultural. Sua obra confunde-se com a história momentânea do País. Claro, a carreira foi construída com pedras no caminho. É do jogo. Esse patrimônio acumulado de repente decide cobrar o seu preço: aparece um biógrafo bisbilhotando todos os escaninhos de sua vida, conversando com amigos, familiares, inimigos cordiais e invejosos, analisando todos os aspectos de sua existência.

O que fazer? Procurar uma brecha na lei para censurar o trabalho profissional alheio? Ameaçar o sujeito com um processo devastador contratando os advogados mais caros do País? Fazer um tremendo lobie no STF para garantir proteção eterna de sua imagem? Criar uma entidade esquisita e contratar uma maluca para comandar uma tropa de choque em sua defesa?

Claro, isso não é recomendável, principalmente para quem quer proteger a integridade e coerência de sua carreira. Só há um caminho: escreva uma autobiografia e mande avisar a todos que sua vida é esta que está escrita; fora disso, é tudo interpretação ou invencionice daqueles que não tem o que fazer. Esqueça a censura. E fim de papo.

(*) Dante Filho, jornalista e escritor (dantefilho@terra.com.br)

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