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O príncipe, por Heitor Freire

Por Heitor Freire (*) | 16/07/2011 10:12

O tempo é o senhor da história. Esta frase é repetida sempre que se quer enfatizar algo que acontecendo mais tarde se traduz como o reconhecimento de uma situação que estava de certa forma, esquecida ou desconsiderada.

Como corolário dos seus 80 anos, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem sido alvo das mais efusivas comemorações, demonstrando assim o reconhecimento merecido pelo seu trabalho, pelo seu desempenho, por sua vida acadêmica e política, pelos mais variados segmentos da nossa sociedade.

Agora mesmo, acaba de receber uma significativa homenagem no Senado Federal, onde foi alvo de diversos discursos, todos laudatórios e congratulatórios.

Recebeu também uma mensagem muito carinhosa da nossa presidenta, reconhecendo o seu trabalho “...como o presidente que contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica...” e, principalmente, a sua atuação como presidente da república. O que veio a demonstrar claramente uma diferença de atitudes entre a atual detentora do cargo de presidente e o seu antecessor.

Roberto Pompeu de Toledo, em sua coluna semanal na revista Veja, na edição de nº 2223, de 29 de junho de 2011, faz uma análise do comportamento de FHC em comparação aos de outros ex-presidentes, demonstrando assim uma diferença que só faz destacar a sua forma de agir.

Nesse artigo em que analisa o comportamento de ex-presidentes desde Getúlio Vargas até Luiz Inácio, ele mostra como há similaridade de atitude entre eles, que não souberam viver o pós-presidência de forma consciente. O articulista deixou de mencionar o ex-presidente Dutra, nosso coestaduano, cujo comportamento foi similar ao de FHC.

O ex-presidente teve como suporte e apoio constante a presença marcante de da. Ruth Cardoso (vitimada por uma arritmia cardíaca em 24 de junho de 2008), que soube, com muita consciência e classe, entender, superar e perdoar comportamentos extraconjugais do seu marido, igualando-se, nesse aspecto, a Hillary Clinton e Jacqueline Kennedy.

O que se constata nesta quadra da vida do ex-presidente é que ele está tendo o seu valor reconhecido no contexto anterior e no atual. Pesado, medido e contado, como se refere o texto bíblico em assuntos desta espécie.

FHC é considerado o 11º pensador global mais importante pela revista Foreign Policy 2009 pelo debate sobre a política antidrogas. É integrante da Comissão Latino-Americana de Drogas e Democracia, que defende uma nova abordagem contra o tráfico. Ele defende que a atual política de combate às drogas pela repressão não está funcionando: “São necessárias outras medidas como a mudança da legislação para pequenos traficantes, com penas diferenciadas”.

Em maio de 2011, participou do lançamento do filme “Quebrando o Tabu”, uma manifestação pacifista em favor da descriminalização das drogas em que aparece como âncora, tendo ao seu lado os ex-presidentes Bill Clinton e Jimmy Carter.

FHC continua em plena atividade, presidindo o Instituto Fernando Henrique Cardoso e a Fundação OSESP – Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo – organização criada para manter esta orquestra de nível internacional. Participa ainda de diversos conselhos consultivos em diferentes órgãos do exterior como o Clinton Global Initiative, da Brown University e da United Nations Foundation.

Em 2005, foi eleito, por meio de uma votação feita pela internet e organizada pela revista britânica Prospect, um dos cem maiores intelectuais ainda vivos do mundo.

Ou seja, FHC nunca parou. Aristóteles foi um dos primeiros a observar que nos tornamos as pessoas que somos em virtude das nossas próprias decisões. Com o conhecimento as pessoas acabam bebendo em muitas fontes, procurando aqui, ali, acolá.

Mas no frigir dos ovos, o que resta verdadeiramente é o resultado da disciplina pessoal, quando o indivíduo se torna discípulo de si mesmo. Passa a ser seu próprio professor, treinador, técnico e orientador. É o que acontece com todas as pessoas conscientes.

Penso que foi o que aconteceu com o Príncipe – pela sua postura pessoal, acadêmica, altaneira, altiva, política e intelectual, é assim que FHC é chamado por muitos.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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