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O que é “normal”?

Por Ezequiel Cardozo da Silva (*) | 17/09/2014 09:19

Nossa semana poderia ter começado bem, se não fosse o discurso do Sr. Sérgio Nogueira (PSB), pastor evangélico e vereador em Dourados (MS), que, ao apenas ser convidado para assistir palestras contra a homofobia que a Secretaria Municipal de Assistência Social organiza, disse: "Não podemos passar a ideia de que o anormal é normal”, referindo-se ao comportamento homossexual. Trata-se de mais um discurso de ódio em relação aos homossexuais.
Ao dizermos que uma conduta é “anormal”, então o que queremos é que ela não seja permitida pela sociedade, por se tratar de algo incorreto moralmente. Mas o que seria um comportamento “normal”?

Na sociedade brasileira do final do século XIX e início do XXI, era “normal”, por exemplo, que a mulher ficasse apenas com as tarefas domésticas, sem poder trabalhar fora de casa. E também não seria bem vista caso vivesse sozinha com seus filhos. Embora, hoje, ainda seja forte o machismo na nossa sociedade, isso já não é mais aceito moralmente, ou seja, o que era “anormal” naquela época agora é algo tão comum, a saber, a mulher trabalhar fora de casa, procurar sua independência, ou até viver sozinha caso escolha isso.

Assim, a moralidade evolui, muda com o tempo conforme as necessidades e as discussões surgidas na sociedade. Então, não faz sentido algum julgar o comportamento homossexual como “anormal” ou incorreto moralmente, pois nossos costumes mudam com o tempo e, com eles, a nossa noção do “normal”.

Mas, além disso, costuma-se também julgar a conduta homossexual como algo errado alegando-se que ela viola o que é “natural”. Ora, se for esse o caso, então não há problema, pois a homossexualidade acontece também em outros gêneros animais. Por consequência, também seria um comportamento natural.

Porém, precisamos ressaltar ainda que se o que é moralmente correto depende da “natureza”, então o sexo entre os seres humanos só deveria ser praticado visando à procriação, o que não acontece, e isso não torna ninguém bom ou mau. Assim como também usamos os olhos não só para ver, mas para expressarmos um sinal quando piscamos, por exemplo. Portanto, usar os olhos ou outro órgão fora da sua função natural não nos torna imorais. Por que, então, seria a homossexualidade algo “abominável”? Apenas por ignorância se exerce um julgamento desse tipo.

O vereador e pastor ainda diz que a homossexualidade é “contra os nossos princípios”. Ora, nada impede que um grupo de pessoas decida viver segundo certos princípios, como se estivesse em uma ilha. Porém, esse grupo não pode obrigar as demais pessoas a fazer parte dessa ilha, ou entrar nas outras ilhas e impor os seus valores.

Por trás do discurso do vereador o que há, então, é apenas um ódio injustificado contra os homossexuais, porque se deseja que não haja homossexualidade na sociedade, já que seria uma conduta “anormal” e, portanto, não aceitável.

Não faz sentido algum desejar que uma pessoa seja excluída da sociedade apenas pelo fato dela querer amar outra do mesmo sexo. Espero que a semana termine melhor.

(*) Ezequiel Cardozo da Silva, professor de Filosofia na rede estadual do RS

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