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O que há de errado com o Brasil?

Por Benedicto Ismael Camargo Dutra (*) | 06/05/2014 13:25

Enquanto a classe política fica brincando de jogar lixo entre si, as coisas se agravam. Que ajuste milagroso poderia ser feito num país que ficou atado à dívida, inflação e estagnação industrial por mais de 30 anos? Não avançamos na eletrônica e na informática. As condições globais não são fáceis, mas o pior é o nosso atraso nos setores de autopeças, têxteis, confecções e tantos outros. Não basta redistribuir renda; é preciso investir na Educação para a vida. Precisamos mais do que um milagre; precisamos de união de esforços sinceros e seriedade.

Os governos e suas equipes gastam mal. Muita gente mete a mão. Os gestores não buscam equilíbrio, preferem aumentar as dívidas e pagar juros. Não conduzem para o progresso real. As empresas buscam vantagens como podem. Agora a casa precisa ser arrumada no equilíbrio das contas, mas e as melhoras, quando virão? Ficamos com a impressão de que fomos programados para não dar certo; ou que devemos manter a estagnação como ocorreu no ciclo do açúcar e do café. Hoje a situação é mais grave ainda devido à falta de preparo para a vida.

Como chegamos a essa situação? Nos anos 1970, o Brasil foi envolvido pelo dinheiro fácil do mundo, promovendo investimentos de longo prazo com financiamentos externos, mas as condições se modificaram e ficamos reféns da dívida por décadas, ingressando num período de inflação galopante que distorceu tudo na economia. Enquanto tentávamos sair do sufoco, outros países ganharam a dianteira.

A indústria estagnou; as mais importantes foram adquiridas pelo capital externo, mas não tiveram impulso para integrar suas operações à economia global. Alguns queriam apenas uma ponte para obter lucros no crescente mercado interno. Quando o Plano Real foi inventado para debelar a inflação, permanecemos um longo período com juros elevados e câmbio valorizado. Ficamos viciados em importações e a indústria acabou perdendo os melhores técnicos especializados para o exterior.

O século 21 começou devagar, com o atentado ao WTC de Nova York em 2001, e tudo quase parou. Mas superados os traumas e acalmadas as guerras de George Bush, tivemos um período de grande expansão monetária que fez surgir muitas bolhas, as quais geraram a crise financeira global de 2008. No Brasil, sempre carente, o governo optou pelo incentivo ao consumo, o que exigiu maior dependência dos importados, pois a indústria local, habituada ao mercado reservado, não teve como competir com o custo dos produtos estrangeiros. Com o câmbio valorizado então, nem se fala!

Mas um imprevisto ocorreu neste ano eleitoral. O governo, que havia baixado os juros para alcançar equidade com as taxas vigentes no mundo, teve de dar marcha ré, pois com a fuga de dólares, o real se desvalorizou abruptamente, encarecendo as importações, causando um reboliço nos devedores em dólares, e impactando na inflação. Resultado: os juros voltaram ao patamar dos mais elevados do mundo, pondo à mostra nossa fragilidade e dependência de séculos.

E agora, a questão é como aumentar a produção se internamente a renda média é baixa. Não se consegue preço competitivo globalmente. Permanecemos dependentes da exportação de matérias-primas e semielaborados. A Argentina se voltou para a China e, com isso, perdemos negócios. Triste ver que nesse período todo ninguém se mexeu visando um país melhor: nem os congressistas aboletados em Brasília, nem os governadores, nem as entidades patronais. Menos ainda o povo despreparado, dopado com o circo emburrecedor que lhe foi fartamente oferecido e pedaços a mais de pão.

O que há de errado com o país que não consegue crescer e parece estar sempre enfiado numa camisa de força que o mantém paralisado, sem liberdade de movimentos? No tocante ao saneamento básico, ainda somos um dos mais atrasados. Abusivamente temos permitido estagnação e declínio, o voo de galinha deste país repleto de potencialidades. Em poucas décadas temos um Brasil desfigurado, sem metas, sem estadistas.

Faltam boa vontade e sinceridade. As pessoas que vivem no Brasil deveriam ser incentivadas a pensar no bem geral, no querer um país melhor, com otimismo e seriedade, como um acolhedor lar de seres humanos que buscam o progresso real. Nossa democracia capenga requer aperfeiçoamentos que promovam credibilidade, equidade e justiça. Todos nós queremos um país sério e generoso, mas severo na defesa dos direitos individuais e coletivos. Se pensarmos nisso com intensidade e agirmos, esse sonho poderá se tornar realidade.

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra é graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, e associado ao Rotary Club São Paulo. Realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É também coordenador dos sites www.vidaeaprendizado.com.br e www.library.com.br, e autor dos livros “ Conversando com o homem sábio”, “Nola – o manuscrito que abalou o mundo”, “O segredo de Darwin”, e “2012...e depois?”. E-mail: bicdutra@library.com.br; Twitter: @bidutra7

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