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O reacionário

Por Vander Loubet (*) | 16/10/2013 15:46

O presidente da Fiems, Sérgio Longen, assinou no jornal Correio do Estado, no último dia 10, um artigo denominado “Impunidade, indignação e retrocesso“. Trata-se de uma opinião sem fundamento na realidade e, sobretudo, reacionária, ou seja, que se opõe às mudanças sociais e/ou políticas.

As afirmações de Longen não condizem com o desafio de quem está à frente de uma instituição da importância da Fiems. Entendo que o Brasil tem muitos desafios e problemas para resolver, mas querer, através de chavões e lemas demagógicos, desconsiderar, desprezar e apequenar os avanços que obtivemos nos últimos 10 anos só pode ser má fé ou ignorância.

Em relação aos conflitos no campo envolvendo a causa indígena, ao contrário do que afirma o dirigente patronal, temos claros e significativos avanços, já que o governo federal está resolvendo os conflitos por meio da aquisição das terras dos produtores, fato intensamente divulgado pela mídia regional e nacional.

Sobre a multa do FGTS, trata-se de uma decisão soberana do Congresso Nacional por entender que essa incidência ainda cumpre papel importante nas finanças públicas. A mesma deve ser tratada no âmbito de uma reforma tributária, que – como deve ser de conhecimento de Longen – não é responsabilidade exclusiva do governo federal, pois envolve os interesses dos estados da federação.

Quanto à decisão do STF sobre o chamado “mensalão”, o presidente da Fiems falseia a realidade, tendenciosamente, pois não se trata de impunidade. Defendido pelos mais renomados juristas brasileiros, os embargos infringentes fazem parte de ritos processuais a serem seguidos. Apenas decidiu o STF que alguns dos condenados têm direitos e rever parte das condenações.

Mas Sérgio Longen foi além em seu texto reacionário. Chegou ao limite do devaneio ao tentar desmerecer, descaracterizar e distorcer a importância dos programas sociais para o nosso país.

O mundo todo reconhece a verdadeira revolução feita no Brasil em termos sociais nos últimos 10 anos, quando 28 milhões de pessoas deixaram a pobreza absoluta e outras 36 milhões ascenderam à classe média. A quantidade de trabalhadores com carteira assinada saltou de 27,2 milhões (2001) para 47,7 milhões (2012). São números que deram um decisivo impulso ao mercado interno, tendo como grandes beneficiários a indústria, o comércio e os serviços.

A propósito, o Sistema S, do qual a Fiems faz parte, é um dos maiores beneficiários da política de geração de emprego e renda promovida pelo governo. Recentemente, o Ministério da Educação anunciou R$ 575 milhões do Pronatec para o Senac, o Senai e o Senar investirem em formação de mão de obra.

Longen dá uma aula de senso comum ao elaborar afirmações como “temos notado o crescente desinteresse das pessoas no mercado formal de trabalho”. Na verdade, o dirigente faz vista grossa ao fato de que os beneficiários do Bolsa Família trabalham, se qualificam e são empreendedores: mais de 70% dos adultos atendidos participam do mercado de trabalho e os beneficiários representam 9,2% dos microempreendedores individuais (296 mil pessoas) do país.

Além disso, o Bolsa Família segue como referência mundial de transferência de renda e combate à pobreza. Prova disso é o fato de o programa servir de modelo para ações sociais em 63 países, inclusive nos Estados Unidos com o Opportunity NYC, da Prefeitura de Nova Iorque.

Como dito pelo ex-presidente Lula, também no dia 10, durante evento em Brasília, “para eles [a elite nacional], tudo o que a gente dá para os ricos é investimento, mas tudo o que a gente dá para os pobres é gasto”. Muito bem sabe disso o presidente da Fiems, pois, como empresário, é beneficiário de incentivos fiscais que, no Brasil, somam mais de R$ 53 bilhões por ano, dinheiro que o poder público deixa de arrecadar para incentivar empresas, sobretudo a indústria.

Finalmente, entendo que, num país gigantesco e continental como o nosso, temos totais condições de apoiar e contribuir com todos aqueles que fazem parte de nossa sociedade e não somente com uma elite atrasada e preconceituosa, que, em boa medida, foi uma das responsáveis pela construção das desigualdades históricas ao longo de mais de 500 anos de história. Diferente do período da ditadura militar, onde se pregava que primeiro tínhamos que fazer o bolo e depois distribuir, o PT encarou o desafio de distribuir o bolo enquanto cresce. Porque país rico é país sem pobreza!

(*) Vander Loubet, deputado federal (PT-MS)

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