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O sabor das palavras

Por Rosildo Barcellos (*) | 21/11/2014 13:48

UM BEM-TE-VI

O leve e macio
raio de sol
se põe no rio.
Faz arrebol...

Da árvore evola
amarelo, do alto
bem-te-vi-cartola
e, de um salto

pousa envergado
no bebedouro
a banhar seu louro

pelo enramado...
De arrepio, na cerca
já se abriu e seca.

Manoel Wenceslau Leite de Barros. Um bem-te-vi.

Hoje imaginei a tristeza das quintas feiras. Foi assim com Gabriel Garcia Marquez e agora com Manoel de Barros. Ambos alçaram voo em plena quinta feira cinzenta. E como ele dizia “prezo a velocidade das tartarugas mais que as dos mísseis.Pra quem nasceu na barranca do rio,no beco da Marinha na cidade de Cuiabá, hoje é do universo é do tudo porque a poesia é tudo. Deus foi um poeta quando criou o homem a sua semelhança. E quando fez nascer Manoel de Barros em solo mato-grossense nos fez maiores do que realmente somos. E quando ele falava de sapos,cobras,rãs e rios nos mostrava o caminho da felicidade.Porque na poesia descobrimos a felicidade na insignificância e das pequenas coisas.

Além de ser o nosso maior poeta, Manoel de Barros divulgou as belezas e potencialidades do Estado enriquecendo assim, a história da literatura e a cultura do local que ele escolheu para viver ao lado de sua esposa Dona Stella hoje com 93 anos e que se deleitava da presença do o poeta há 67 anos,lá na Rua Piratininga,em Campo Grande,capital do Mato Grosso do Sul. Sua amada agora, precisará entrar em seu adorável fusca e dar a partida para a transposição da alma pantaneira até chegar a beira do Rio Paraguai e entre flores de camalote, respirar o ar do amor. Traduzindo-o em números, o nosso poeta-mor se tornou referência no gênero poesia e teve 34 obras publicadas sendo a primeira em 1937 e a mais recente no ano passado.

No exterior, teve três obras traduzidas em Portugal, França e Espanha. A história do escritor começou com “Poemas Concebidos Sem Pecado",feito artesanalmente por amigos quando ainda tinha 19 anos numa tiragem de 21 exemplares. Tenho a consciência da dificuldade de escrever sobre quem é e sempre será o ourives da escrita, mas na minha memória ficará a cadeira número 1 da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras e as doces palavras de sua filha Martha que no último adeus,com os olhos rasos d'água... recitou um dos versos que ele mais gostava“Do lugar onde estou, já fui embora.”

(*) Rosildo Barcellos, articulista

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